«A influência ilimitada que o conde galego Fernando
Peres de Trava exercia na terra portucalense, unido a D. Teresa por um
casamento sem Deus e sem direito,
excitava o descontentamento dos barões portugueses, desejosos de libertar a
Pátria. Começava a conspiração para entregar o governo ao infante, ainda menor.
Tudo indica que o centro dela era Zamora, como lugar afastado e importante. Quem era o chefe? Não o dizem os
monumentos históricos, mas as circunstâncias e os sucessos futuros apontam-no: Paio Mendes, arcebispo de Braga. Arcediago
na Sé bracarense, quando Maurício, o arcebispo, se deixa seduzir pela política
do Imperador Henrique V e de suas mãos aceita a tiara pontifícia, é
escolhido para a cátedra metropolitana e sagrado em 1119.
Minhoto e rijo como o granito da terra em que
nasceu, Paio Mendes com seus irmãos, os valorosos filhos de Mendo Gonçalves, senhor da Maia, vir
illustris et magnae potentiae in toto Portugalli, Paio Mendes é o fulcro da
conjuração, que separaria de Castela a pérola do ocidente, na expressão de Zorrilla.
Depois do tratado de Lanhoso, Paio Mendes estaciona em Zamora. Voltando a Portugal
é preso por ordem de D. Teresa. Porquê?
Di-lo Herculano:
- Tudo leva a suspeitar que esta prisão seja o primeiro e ténue indício da revolução que, arrancando o poder das mãos de Teresa, o fez cair nas de seu filho.
Solto meses depois pela intervenção do papa,
certamente com maior ânimo prossegue na conspiração. Em 1125 em Zamora, apenas
com catorze anos, idade mais própria dos entretenimentos juvenis que da ambição
de glória, como nota o nosso grande historiador da Idade Média, Afonso Henriques pratica o primeiro
acto político, de largo alcance. Arma-se cavaleiro, como príncipe independente,
segundo o costume dos reis. É o mais
declarado acto de rebelião contra a soberania leonesa, praticado em idade
imprópria para ser produto de própria iniciativa. Quem o aconselhou? Quem o
guiou? Quem lhe benzeu as arma? A
história sabe apenas que Paio Mendes estacionou em Zamora.
Mas a independência portuguesa requeria ainda longos
esforços. Senhor dos estados de D. Urraca, seu filho Afonso VII vem impor pela
força a sua soberania. Vencedor, obriga a tia a humilhar-se. Põe cerco a
Guimarães, castelo onde estava o infante, e para o levantar é preciso que Egas
Moniz, o leal cavaleiro, fique por fiador da prometida vassalagem. Foi
um contratempo grave para a revolução em marcha.
Em Abril de 1128,
D. Teresa, ao fazer uma doação de terras, reconhece ainda a soberania do sobrinho,
ao mesmo tempo que o Infante, usando um direito soberano, confirmava o Foral
de Guimarães. Um mês depois, em 27 de Maio de 1128, Afonso Henriques, aqui em Braga, talvez no seu Paço junto da
Sé, qui est ,juxta Ecclesiam,
declarava a intenção de adquirir o pleno poder em Portugal, para isso contando com
a ajuda e auxílio do valoroso arcebispo Paio Mendes. Esse notável documento,
que carinhosamente guardamos neste Arquivo, pode bem chamar-se a Acta da Fundação de Portugal.
Com o Infante se encontravam nesse dia, a confirmar
o documento, os melhores cavaleiros portugueses, senhores de terras e castelos:
- Sueiro Mendes da Maia, o Grosso,
- Ermigio Moniz,
- Garcia Soares,
- Sancho Nunes, que viria a ser o marido de D. Sancha, irmã do Infante.
Com eles estariam certamente escudeiros, cavaleiros vilões, maiorinos e
suas peonagens, gente de guerra que devia acompanhar o Infante para Guimarães
onde, a menos de um mês, iria firmar-se a nacionalidade». In Alberto Feio, Daqui Nasceu
Portugal, Câmara Municipal de Braga, 1964.
Cortesia da CM de Braga/JDACT