O diagnóstico como unidade de análise e síntese da situação problema
«O diagnóstico deve ser uma unidade de análise e síntese da
situação-problema que sirva de referência para a elaboração de um programa de
acção. Consequentemente, no diagnóstico deve fazer-se uma descrição dos
elementos e aspectos integrantes da realidade que é motivo de estudo. Mas, em
simultâneo, é necessário estabelecer a interligação e a interdependência dos
mesmos, de modo que as partes fiquem estudadas como constituindo um todo
estruturado e indissolúvel.
O que num momento é separado dos efeitos da análise, este consiste em
examinar as partes de um todo, logo é preciso integrá-lo para mostrar o lugar e
o papel de cada parte no sistema de uma totalidade onde existe uma unidade
dialéctica indissolúvel de cada um dos elementos. Por outras palavras, trata-se
de aplicar simultaneamente dois métodos lógicos: a anáilise e a síntese. Deste
modo, o diagnóstico é um corpo de conhecimentos analíticos/sintéticos, pertencentes
a uma realidade concreta e delimitada sobre a qual se querem realizar
determinadas acções, planificadas e com um propósito concreto.
Um diagnóstico deve estar aberto a novos dados e informação, a novos ajustamentos
derivados de novas relações e interdependências que se estabelecem a partir dos
dados disponíveis ou de novos dados que se vão obtendo. Nesta perspectiva, o
diagnóstico constitui uma fase ou momento do processo metodológico, e
simultaneamente um instrumento operativo, que se vai completando e enriquecendo
de forma permanente. Qualquer intervenção na realidade gera uma dinâmica que
vai questionando novas interrogações, vai reformulando problemas e vai fazendo
luz sobre questões que não se tinham considerado suficientemente ou eram
simplesmente lacunas do diagnóstico.
E, na medida que o processo de trabalho é verdadeiramente
participativo, as mesmas pessoas vão abrir novos horizontes de problemas que
permitirão descobrir áreas ou aspectos não explorados, assinalar deficiências,
rectificar e trazer novos elementos que enriquecem e melhoram o diagnostico. Este
carácter de instrumento aberto ou de ferramenta
de trabalho inacabada que qualquer diagnóstico tem, conduz a uma
reelaboração permanente do mesmo, enriquecendo por sua vez, através da relação
entre o trabalhador social e as pessoas com as quais e para as quais trabalha,
ainda mais se se utilizarem métodos e técnicas de intervenção social
participativas.
Resumindo, fazemos nossas as palavras de Mary Richmond quando afirma:
- O diagnóstico completo, de facto, o diagnóstico correcto, nem sempre é possível, nem sequer quando se dispõe do tempo suficiente... Nenhum diagnostico é definitivo. Pois, as novas informações que se vão recolhendo podem contribuir para esclarecer e compreender melhor as causas e os factores condicionantes, pelo que não é nenhum contrasenso afirmar que a investigação continua à medida que se faz o tratamento e durante todo o processo de intervenção.
Um diagnóstico adquire o significado pleno na medida em que faz uma
contextualização adequada da situação-problema diagnosticada, o problema em si deve
ser contextualizado como um aspecto da totalidade social do qual é parte integrante.
Para esta contextualização propomos uma abordagem sistémica / ecológica /
dialéctica. Entende-se por sistema um todo unitário e
organizado, composto por duas ou mais partes (elementos, componentes ou
sub-sistemas) que, pela sua própria natureza, constitui uma complexidade organizada.
Qualquer sistema pode ser considerado, ao mesmo tempo, como um todo ou como
parte de um todo maior. Não se pode fechar um sistema como totalidade, é
preciso considerá-lo como sistema dos sistemas dos quais faz parte». In
Maria Aguilar Idáñez e Ezequiel Ander-Egg, Diagnóstico Social, conceptos y
metodología, Diagnóstico Social, Conceitos e metodologias, Rede Europeia
Anti-Pobreza, Portugal, cadernos REAPN, Porto, 2007, ISBN 978-989-95487-8-7.
Cortesia de REAPN/JDACT