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NOTA: De acordo com o original
«É aqui occasião de
dizer que nenhum outro publicista poderia advogar melhor do que Senibaldo de
Mas a idéa da união ibérica. O caracter honestíssimo d'este cavalheiro, a
sua elevada intelligencia, a variadíssima instrucção de que é dotado, o seu
affecto aos portuguezes, e a delicadeza de trato e bondade de alma com que
realça essas qualidades, já de si muito superiores, contribuíram de certo
poderosamente para que as idéas explicadas na memoria ibérica do diplomata hespanhol,
achassem no animo de alguns dos nossos escriptores acolhimento favorável. Os
successos posteriores transformaram em impossibilidade pratica a hypothese da
união, e deixaram á mercê dos visionários politicos o plano de Senibaldo.
Algum conspirador obscuro ficaria ainda a sonhar no grande império peninsular,
mas os homens de vulto nos dois reinos deixaram para logo a arena em que a
discussão de uma contingência politica podia parecer tentativa criminosa e
desleal.
Latino na variadissima multiplicidade dos seus trabalhos literários
e politicos não esquecia então a escola de que fora sempre ornamento, quer na qualidade
de discípulo, quer na de professor. Ao passo que se entregava com incansavel actividade ás lides de que demos noticia,
e que se applicava com egual tenacidade ao estudo das principaes línguas da
Europa, escrevia um Curso de Elementos da Historia Natural para uso dos alumnos da
Polytechnica, e preparava de accordo com outros professores a Encyclopedia
das Escolas d'Instrucção Primaria, que mais tarde foi publicada, com
approvação do cardeal Patriarcha na parte concernente á doutrina christã. Na Revista
Peninsular, que temos deante de nós, foi Latino Coelho um dos mais notáveis colaboradores, escrevendo
diíferentes artigos no idioma hespanhol, no qual se mostrou tão copioso e
aprimorado como na lingua portugueza.
E não só n’aquelle
jornal mas em muitos outros publicou escriptos excellentes, cujo exame e
noticia pediria mui larga escriptura. Nas eleições supplementares de 1854 foi eleito deputado por Lisboa, e
em 28 de Março de 1855 estreou-se
como orador, ganhando n'este primeiro ensaio a consideração e sympathia da
Camara, e os applausos do publico. Os jornaes de então compararam o joven
orador a Cicero e a Mirabeau, e apenas lhe notaram uma certa
propensão epigrammatica, que todavia, sendo dirigida com sobriedade discreta,
pode ser na tribuna um dote precioso. Em 1856
e em 1860 voltou á Camara dos Deputados a
representar os povos da Ilha do Fayal, que acudiram benévolos a reparar
o ostracismo com que os eleitores do reino tinham correspondido ás brilhantes
qualidades parlamentares do illustre professor. O povo tem seus quartos de hora
de ingratidão, e não é sempre á superioridade do talento, e á grandeza e
elevação das idéas que elle presta voluntariamente o testemunho publica do seu
voto.
O governo chamou em 1852 Latino Coelho para a Commissão
Central de Pesos e Medidas; em 1854
nomeou-o Membro do Conselho Dramático, e em 1859 deu-lhe no Conselho Superior de Instrucção Publica o
logar que só desarrasoada inveja, mais honrosa que a própria nomeação, lhe
poderia ter negado. A Academia Real das Sciencias já tinha
a esse tempo aberto as suas portas a Latino
Coelho, que de sócio effectivo passou em breve a ocupar o cargo de
secretario, exercido em todos os corpos scientificos e literários da Europa por
homens qualificadíssimos. O Diário de Lisboa foi também entregue
á direcção d'este mancebo». In Latino Coelho, Fernão de Magalhães.
Escritos Literários e Políticos. Coligidos e publicados sob a direcção de
Arlindo Varela, Editores Santos & Vieira, Empresa Literária Fluminense,
Imprensa Portuguesa, Lisboa, 1917.
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Portuguesa/JDACT