(Continuação)
«Logo ao romper da manhã de 25, bem, municiados e apetrechados,
avançaram sobre Tavira, onde entraram ao meio-dia, depois de uma breve
escaramuça, na ponte do Almargem. A esquadra de Napier surgiu no porto,
enquanto as tropas ocupavam a cidade, de onde a população fugira, atemorizada.
Mas o duque da Terceira mandara afixar um edital tranquilizador, prometendo paz
e liberdade, o que animou vários moradores a regressarem a suas casas. Nessa
tarde do dia 25 apresentou-se em, Tavira uma deputação de Vila Real de Santo Anitónio
a declarar que aderia à causa constitucional, pelo que partiu imediatamerrüe
para ali um destacamenrto, comandado pelo coronel Breyner, armado e municiado,
que estabeleceu naquela vila uma força regular. As operações realizavam-se
rapidamente, mas sem precipitações. Na manhã imediata, o duque da Terceira avançou
sobre Olhão, onde foi recebido com entusiasmo, e logo na rnanhã de 27 entrava em
Faro, em cujas águas não tardou em surgir a esquadra liberal. Tudo se operava
com regular precisão, colhendo de surpresa as defesas miguelistas daquela província.
Comandava as armas absolutistas do Algarve o general-visconde
de Molelos, que só se lembrou das suas funções quando os constitucionais já desembarcavam
na praia de Alagoa. As suas forças eram constituídas por 1600 homens e oito
bocas-de-fogo. Mandando reconhecer à pressa as forças desembarcadas, logo
verificou na escaramuça da ponte do Almargem que não poderia opor-se ao
invasor e retirou para Faro, onde aliás não se demorou, abandonando a cidade antes
de que lá chegasse o duque da Terceira. Então, acompanhado de vários funcionários
da província e de outras individualidades mais comprometidas no miguelismo, foi
refugiar-se na serra de São Bartolomeu de Messines, mas ainda aqui não
conseguiu manter-se, pois uma brigada liberal, perseguindo-o, obrigou-o a tomar
a direcção do Alentejo.
Então, como a população de Faro parecesse duvidar
de que um exército tão pequeno tivesse probabilidades de êxito, o duque de
Palmela desembarcou e, no intuito de inspirar confiança naquela gente receosa
de futuras represálias miguelistas, estabeleceu logo urn governo provisório do
Algarve, procedendo à aclamação da rainha D. Maria II, em cujos autos recolheu
as assinaturas das principais individualidades de Faro.
Os liberais não perderam o seu tempo. Apoderaram-se
do arsenal da cidade, que se encontrava bem provido. Simultaneamente, o duque
da Terceira mandava metade das suas forças em perseguição de Molelos pela
estrada da Quarteira, e ele próprio, com a outra metade, marchava sobre Loulé.
Qanto a Napier, já abastecido de água e frescos, passava de Faro para Lagos. No
entanto, o general miguelista ia retirando sempre, deixando à disposição do
duque todo o interior da província e todas as baterias do litoral. A escuna
absolutista Elisa passara para
os liberais e prendera o capitão, ao mssmo tempo que a tripulação acordara em
ficar ao serviço dos constitucionais. O Algarve achava-se, pois, todo submetido
aos defensores de D. Maria II.
Notava-se, porém, certa
resistência passiva resultante do terror e da propaganda fanática de frades e
de pregadores reaccionários, levada a cabo em favor de Miguel, apresentado como heróico defensor da Igreja. Antes de
abandonar o Algarve, onde não podia manter-se, o visconde de Molelos requisitou
do governo de Lisboa urgente remessa de dinheiro e munições de guena com que
pudesse opor-se às forças do duque da Terceira. Na capital, o conde de Basto, famoso
pela violência com que perseguia os liberais, não sabia como acudir às
necessidades de defesa do regime subitamente atacado por vários lados.
Acabavarn de informá-lo de que, perto de Tomar, se formara uma guerrilha que se
apoderara das armas existentes nos depósitos realistas e seguira para
Barquinha, Alpiarça e Almeirim, a revoltar os anseios contra Miguel. Querendo extinguir o incêndio
revolusionário que se ateara mandou marchar para Aldegalega em 9 de Julho o
brigadeiro Raimundo Pinheiro com forças milicianas de Tomar e de Tavira, caçadores
1, mais um batalhão de infantaria 14 e um esquadrão de cavalaria 2. E Pinheiro
seguiu logo de Aldegalega ao encontro de Molelos, cuja situação era difícil». In
Mário Domingues, A Derrocada do Absolutismo, Evocação Histórica, Edição Romano
Torres, série Lusíada, Lisboa, 1977.
Cortesia de R. Torres/JDACT