terça-feira, 7 de janeiro de 2014

Os Filhos Ilegítimos dos Reis de Portugal. Bastardos Reais. Isabel Lencastre. «Este Fernando Afonso terá nascido por 1140, o ano em que seu pai concedeu foral a Barcelos e se travou o torneio de Arcos de Valdevez. Por 1159 apareceu pela primeira vez na corte e, em 1169, foi feito alferes-mor»

Afonso ou Fernando Afonso, bastardo de Afonso Henriques
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Os Bastardos de Borgonha
«(…) Também não vale a pena dizer que ele foi um santo, embora tenha havido quem o quisesse canonizar, porque, antes e depois do seu casamento com D. Mafalda, filha de Amadeu III, conde de Sabóia e Moriana, a que os estrangeiros chamam Matilde, Afonso Henriques foi pai de vários bastardos. Mais exactamente: quatro, segundo assevera a História Genealógica da Casa Real Portuguesa, dois rapazes e duas raparigas. As bastardas do primeiro rei seriam ambas filhas de Elvira Gualter, chamando-se Teresa Afonso, uma, e Urraca Afonso, a outra. Terão nascido quando o monarca já estava casado, sendo por isso filhas adulterinas. Há, porém, quem sustente que só vieram ao mundo depois de Afonso Henriques enviuvar, a 4 de Novembro de 1157. D. Teresa Afonso casou duas vezes, com Sancho Nunes Barbosa e, depois, com Fernando Martins Bravo, mas morreu sem geração, embora António Caetano Sousa afirme que do seu primeiro casamento nasceu uma D. Urraca Sanches. Mas esta, mulher de Gonçalo Sousa e mãe de Mendo Sousa, o Sousão, era filha de D. Sancha Henriques, irmã de Afonso I, e, portanto, sobrinha do primeiro rei de Portugal.
Quanto a D. Urraca Afonso, foi senhora de Avô, que recebeu em 1185 e trocou posteriormente pela vila de Aveiro, tendo casado com Pedro Afonso Viegas, neto de Egas Moniz. Foi mãe de Abril Pires Lumiares, Aldara Pires e Sancha Pires. Desta última procedem muy ilustres Casas do nosso Reyno, e o de Castella. Quanto aos dois filhos ilegítimos de Afonso Henriques, referidos pela História Genealógica, um chamava-se Afonso e o outro Fernando Afonso. Este, diz António Caetano Sousa, foi alferes-mor do reino e dele não sabemos outra notícia. Afonso, por seu turno, foi 11º mestre da insigne Ordem Militar de São João de Rhodes, eleito no ano 1194. A verdade, porém, é que estes dois bastardos podem ser uma e a mesma pessoa, segundo afirma José Mattoso, na peugada de Ariel Castro, um professor brasileiro que identificou o alferes-régio Fernando Afonso com aquele que até então se considerava outro bastardo, Afonso, e que se tornaria grão-mestre da Ordem do Hospital. Fernando Afonso é o filho que os livros de linhagem atribuem ao concubinato de Afonso Henriques com Chamôa Gomes, filha de Gomes Nunes Pombeiro, o antigo conde de Toroño, e sobrinha de Fernão Peres de Trava, o amante de D. Teresa, mãe do rei.
Esta Chamôa Gomes, a quem Diogo Freitas Amaral, na sua biografia do monarca, prefere chamar Flâmula, terá, sido, segundo apurou, não se sabe como, o grande amor de Afonso Henriques, que com ela terá vivido em união de facto entre 1138 e 1145. Só não casou com ela, sustenta ainda Freitas Amaral, com fundamentos que também não desvenda, porque a Igreja se opôs a esse casamento. A barregã régia, antes de o ser, casara com Paio Soares da Maia, havendo três filhos desse casamento, um dos quais foi alferes-mor do rei Fundador. Após enviuvar, afirma o Livro Velho de Linhagens, Chamôa meteu-se monja em Vairão, e fez em drudaria, quer dizer, sem estar casada, um filho com Mem Rodrigues Togues, chamado Soeiro Mendes Facha. Depois, também em drudaria, fez um filho com o rei Afonso de Portugal, que houve o nome de Fernando Afonso.
Este Fernando Afonso terá nascido por 1140, o ano em que seu pai concedeu foral a Barcelos e se travou o torneio de Arcos de Valdevez. Por 1159 apareceu pela primeira vez na corte e, em 1169, foi feito alferes-mor, depois da derrota sofrida em Badajoz por Afonso Henriques, que levou, aliás, à sua prisão pelo rei de Leão, seu genro. Com o pai fisicamente muito debilitado e irremediavelmente inabilitado para combater, Fernando Afonso poderá então ter surgido, aos olhos de muitos, como o defensor do reino e o natural sucessor de Afonso Henriques, de quem era o filho primogénito. Tal seria a posição dos cavaleiros templários e dos fidalgos minhotos. Mas prevaleceram os direitos de Sancho, o filho lídimo (ou legítimo) do rei Fundador, que contava com o apoio dos freires de Évora, dos cavaleiros de Santiago e dos magnatas do sul de Portugal. O pai armou-o cavaleiro em 1170 e partilhou com ele o poder em 1173, um ano depois de Fernando Afonso ter sido desautorizado e despromovido, passando de alferes-mor a simples alferes do herdeiro do trono. Após a morte de Afonso Henriques, em 1198, Fernando Afonso abandonou o reino de seu meio-irmão para se tornar vassalo do rei de Leão, seu cunhado, o que segundo alguns historiadores, provaria que o bastardo não acatava o poder e a autoridade de Sancho I. Mas tudo isto é, segundo Mattoso, confuso e incerto». In Isabel Lencastre, Bastardos Reais, Os Filhos Ilegítimos dos Reis de Portugal, Oficina do Livro, 2012, ISBN 978-989-555-845-2.

Cortesia de Oficina do Livro/JDACT