segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

Arqueologia. Évora. Cromeleque dos Almendres reclassificado como Monumento Nacional. «Reflecte, também por isso, as próprias transformações económicas, sociais e ideológicas ocorridas nesta larguíssima faixa temporal e neste que é considerado, até ao momento, o maior conjunto de menires estruturados da nossa península»

Cortesia de wikipedia e igespar

«O Cromeleque dos Almendres, o maior conjunto de menires estruturados da Península Ibérica, localizado no concelho de Évora, foi na pp quinta-feira, dia 30 de Janeiro de 2015, reclassificado como Monumento Nacional. Este monumento que desde 1974 é imóvel de Interesse Público, foi agora reclassificado pelo Conselho de Ministros, no seguimento de diversos estudos e trabalhos de escavação efectuados vieram ampliar o reconhecimento do interesse arqueológico e científico do sítio, bem como do seu contexto paisagístico, justificando-se a sua reclassificação como Monumento Nacional, refere o comunicado do Governo. O sítio arqueológico é composto por diversas estruturas megalíticas, nomeadamente cromeleque, menir e pedras, tendo sido descoberto pelo investigador Henrique Leonor Pina, em 1964, aquando do levantamento da Carta Geológica de Portugal. Foi um monumento com funções religiosas e, provavelmente um primitivo observatório astronómico. O monumento está situado na Herdade dos Almendres, propriedade de José Manuel Neves». In Lusa, Rádio Campanário.

«Este sítio arqueológico é composto por diversas estruturas megalíticas: cromeleque, menir e pedras, pertencendo a primeira ao denominado universo megalítico eborense, com nítidos paralelos noutros cromeleques, como no caso da Portela de Mogos, em Montemor o Novo. O menir encontra-se implantado no topo da encosta a cerca de 1,3 Km da NE do Cromeleque. De granito porfiróide, com cerca de 3,50 m de altura, a partir da superfície do solo, e de secção elíptica de 1,20 x 0,80 m, foi reerguido pelo seu proprietário, embora se suponha que a sua localização original não deveria encontrar-se muito longe da actual. O cromeleque foi descoberto pelo investigador Henrique Leonor Pina, em 1964, quando se procedia ao levantamento da Carta Geológica de Portugal. Abrangendo uma larga faixa cronológica, desde o Neolítico Médio até à Idade do Ferro, isto é, desde finais do 6.º até inícios do 3.º milénio a. C., este sítio apresenta, entre outros elementos, um cromeleque de planta circular irregular, composto por cerca de 95 monólitos graníticos colocados em pequenos agrupamentos numa área de, aproximadamente, 70 x 40 m, com uma orientação NW-SE. Em relação aos monólitos propriamente ditos, eles possuem, no seu conjunto, forma almendrada, alguns de consideráveis dimensões, com cerca de 2,5 m de altura, apesar da preponderância dos de pequenas dimensões. Quanto à sua decoração, constata-se a presença nalguns destes monólitos das denominadas covinhas ou linhas sinuosas e radiais. Alguns deles, quer pela profusão da gramática decorativa, como pelo seu posicionamento estratégico no seio de todo o conjunto, parecem assumir o papel de autênticos menires-estelas. Na verdade, o menir 48 exibe uma representação antropomórfica esquematizada, rodeada por círculos e associada a representações de báculos. Para além deste, o menir 57 apresenta 13 figurações de báculos, executadas em relevo e à escala natural. No que toca ao espólio móvel encontrado durante as diferentes campanhas de escavação, foram recolhidos fragmentos cerâmicos e um machado de pedra polida. Dever-se-á ainda sublinhar que a maior parte destes 95 monólitos encontrava-se apeada até serem recolocados pela equipa coordenada pelo investigador Mário Varela Gomes, que teve o especial cuidado de identificar a sua primitiva localização. Entretanto, esta mesma equipa tem tentado encontrar o povoamento que lhe estaria associado, identificando um pequeno povoado calcolítico nas suas imediações, cuja investigação se torna imprescindível para uma melhor e mais completa compreensão do mundo que os concebeu e as gentes que os construíram e re-utilizaram ao longo dos séculos. Com efeito, este trata-se de um sítio cultual com forte carga mágico-simbólica, que denuncia um exemplo singular de reutilização de um mesmo espaço sacralizado ao longo dos tempos. Reflecte, também por isso, as próprias transformações económicas, sociais e ideológicas ocorridas nesta larguíssima faixa temporal e neste que é considerado, até ao momento, o maior conjunto de menires estruturados da nossa península, e um dos mais relevantes do megalitismo europeu». In A. Martins, Património Cultural, Igespar.


Cortesia de Lusa e Igespar/JDACT