quinta-feira, 28 de maio de 2015

Infante Afonso Sanches. Senhor de Portalegre. «… se manifesta contra as dificuldades económicas e financeiras por que continuavam a passar e que tinham levado à ausência massiva da alta nobreza da ‘campanha de 1281 contra Castelo de Vide’»

Cortesia de wikipedia

A Herança d’O Bolonhês
«(…)
Ventos e casamentos
Encerrado mais este episódio e quase como se nada tivesse acontecido, as relações entre o rei e o infante retomaram, pelo menos na aparência, uma certa normalidade, o que também se percebe pelo facto de Afonso voltar a assumir, talvez a partir de 1290, a tenência da terra da Guarda. E não deixa de ser interessante que este regresso tenha lugar numa altura em Dinis I tinha já procedido, em 1287-1288, à extinção do regime administrativo das tenências, situação que levou a que muitos ricos-homens se sentissem profundamente atacados nos seus privilégios e certamente que também nos seus rendimentos, pese embora a circunstância de o infante até nem ter sido particularmente lesado, porquanto continuará, numa situação verdadeiramente excepcional, a ostentar o título de tenente da Guarda pelo menos até, 1293. Contudo, em inícios da década de 1290, será precisamente Afonso a encabeçar, com Nuno Gonçalves Cogominho e outros ricos-homens e fidalgos, uma ampla frente de nobres que, mais uma vez, se manifesta contra as dificuldades económicas e financeiras por que continuavam a passar e que tinham levado à ausência massiva da alta nobreza da campanha de 1281 contra Castelo de Vide. Alegavam que são minguados muito e pobres e privados das possessões e das heranças de suas avoengas, acrescentando que, por isso, não podiam viver no reino nem servir o rei, tão bem nem tão honradamente como serviram os fidalgos e as outras gentes que foram ante eles. Em suma, não tinham forma de cumprir as suas obrigações militares do mesmo modo que haviam feito os seus antepassados. Esta queixa, que, ao mesmo tempo, não deixava de constituir uma ameaça e uma forma de pressão junto da Coroa, acabou por se apresentar como um óptimo pretexto para o rei retomar uma política de desamortização que interessava particularmente à monarquia, mas também à nobreza. De facto, tanto a um como à outra importava impedir as instituições religiosas de continuar a aumentar o seu património fundiário em prejuízo da monarquia e da nobreza laica, um processo que o rei conseguiu inverter graças à Lei de Desamortização, publicada em 1291. Mais difícil é descortinar em que medida aquelas dificuldades financeiras eram reais ou se, pelo contrário, não passavam de argumentos esgrimidos pelos nobres para obterem maiores benefícios da Coroa, embora não seja difícil vislumbrar aí uma reacção às inquirições gerais ordenadas tanto por Afonso III como por Dinis I que podem, realmente, ter trazido uma quebra de rendimentos a muitos dos visados por esses inquéritos ao património. Para além disso, como bem sublinhou José Augusto Pizarro, o processo de expansão senhorial havia atingido o seu limite no reinado d'O Bolonhês, pelo que é possível que alguns dos fidalgos começassem realmente a sentir problemas de ordem económica e financeira. E não deixa de ser interessante o facto de ser o infante um dos principais proponentes dessa petição feita ao rei e que este, de bom grado, aceitou. É mesmo possível que este protagonismo junto da grande nobreza do reino, de que foi um dos porta-voz, o tenha convencido de um eventual aumento do seu prestígio e da sua influência.
Ainda assim, isso em nada parece ter contribuído para afastar o infante do seu irmão. Aliás, é muito possível até que tenha existido uma maior aproximação entre ambos por alturas de 1295-1296, quando Dinis I apoiou o infante castelhano Juan nas suas pretensões à Coroa de Leão. Com efeito, esse apoio beneficiaria indirectamente Afonso, pois uma das suas filhas, dona Isabel, estava casada precisamente com o filho de Juan, pelo que se o projecto de revolta contra o jovem Fernando IV resultasse, o senhor de Portalegre poderia ver a sua filha, futuramente, converter-se na rainha de Leão». In Miguel Gomes Martins, Guerreiros Medievais Portugueses, A Esfera dos Livros, Lisboa, 2013, ISBN 978-989-626-486-4.

Cortesia Esfera dos Livros/JDACT