sexta-feira, 29 de maio de 2015

Poesia no Final do Dia. O Nosso Destino. Fado. «O amor é uma estação perigosa: rosa ocultando o espinho, espinho disfarçado de rosa, a enganosa euforia do vinho. O amor a ninguém serve, e todavia a ele regressamos, dia após dia cegos por seu fulgor; tontos de sede nos damos sem pudor em sua rede»

jdact e wikipedia

Não me dou longe de ti
«Não me dou longe de ti
nem em sonhos eu consigo
ter alguém no meio de nós
só Deus sabe o que pedi
para tu ficares comigo
e ouvires a sua voz.

Só eu sei o que sofri
quando sonhava contigo
e abria os olhos a sós.

Sabes da minha fraqueza
onde a faca tem dois gumes
onde me mato por ti
e da tua natureza
corar-me o peito em ciúmes
e eu finjo que não morri.

Mas é da minha tristeza
esconder no fado os queixumes
e a cantar entristeci.

Á noite voltas de chita
com duas flores no regaço
e tudo o que a Deus pedi
és tão minha, tão bonita
és a primeira que abraço
aquela em que me perdi.

Nem a minha alma acredita,
que me perco no teu passo
não me dou longe de ti.

Assim te quero guardar
como se mais nada houvesse
nem futuro, nem passado
de tanto, tano te amar
pedi a Deus que trouxesse
o teu corpo no meu fado».
Poema de João Monge



Barroco Tropical
«O amor é inútil: luz das estrelas
a ninguém aquece ou ilumina
e se nos chama, a chama delas
logo no céu lasso declina.

O amor é sem préstimo: clarão
na tempestade, depressa se apaga
e é maior depois a escuridão,
noite sem fim, vaga após vaga.

O amor a ninguém serve, e todavia
a ele regressamos, dia após dia
cegos por seu fulgor; tontos de sede
nos damos sem pudor em sua rede.

O amor é uma estação perigosa:
rosa ocultando o espinho,
espinho disfarçado de rosa,
a enganosa euforia do vinho.»
Poema de José Eduardo Agualusa

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