Os domínios do mistério prometem as mais
belas experiências.
In
Einstein
O
reino do homem
«(…)
Poderemos admitir que um navio, exposto tanto tempo à tormenta, seja capaz de
lhe resistir? E, por outro lado, que pensar da sua carga? Estas
inverosimilhanças não conseguem, apesar de tudo, abalar a nossa convicção.
Consideramos, pois, a narração moisaica verdadeira e positiva quanto ao fundo,
quer dizer, quanto ao facto do dilúvio; mas a maior parte das circunstâncias
que o acornpanham, especialmente as que dizem respeito a Noé, à arca, à entrada
e saída dos animais, são nitidamente alegóricas. O texto encerra um ensino
esotérico de considerável alcance. Notemos simplesmente que Noé, que tem o mesmo
valor cabalístico que Noël (Natal), é uma contracção de o novo sol. A arca, indica o começo
duma era nova. O arco-iris marca a aliança que Deus faz com o homem no ciclo
que se abre; é a sinfonia renascente
ou renovada: consentimento, acordo, união, pacto. É tamibém a Cintura de Íris, a zona privilegiada...
O Apacalipse
de Esdras informa-nos sobre o valor simbólico dos livros de Moisés: Ao terceiro dia, quando eu estava debaixo duma
árvore, chegou até mim uma voz do lado desta árvore, dizendo-me: Esdras, Esdras!
Respondi: Aqui estou; levantei-me e pus-me de pé. A voz recomeçou: Apareci a
Moisés e, da sarça, falei-lhe, quando o meu povo estava escravo no Egipto.
Enviei-o como mensageiro; fiz sair o meu povo do Egipto, conduzi-o ao Monte
Sinai e largo tempo o mantive junto de mim. Contei-lhe bastantes maravilhas;
ensinei-lhe o mistério dos dias; dei-lhe a canhecer os últimos tempos; e
ordenei-lhe: Conta isto, esconde aquilo.
Mas
se considerarmos, apenas, o facto do dilúvio, seremos levados a reconhecer que
tal cataclismo teve de deixar traços profundos da sua passagem e de modificar
um pouco a topografia dos continentes e dos mares. Seria erro grave acreditar
que o perfil geográfico de uns e de outros, a sua situação recíproca, a sua repartição
à superfície do globo, eram semelhantes, há uns vinte e cinco séculos, àqueles
que são hoje. Apesar do nosso respeito pelos trabalhos dos sábios que se têm
ocupado dos tempos pré históricos, também não devemos aceitar, senão com a
maior reserva, os mapas da época quaternária reproduzindo a actual configuração
do Globo. É evidente, por exemplo, que, durante muito tempo, esteve submersa
uma importante parte do solo francês, coberto de saibro marinho, abundantemente provido de conchas, de calcários com
marcas de amonitas. Lembremos também que a ilha de Jersey ainda estava ligada
ao Cotentino em 709, ano em que as águas da Mancha invadiram a vasta
floresta que se estendia até Ouessant e servia de abrigo a numerosas aldeias.
A
História conta que os Gauleses, interrogados a respeito do que mais lhes poderia
causar terror, costumavam responder: Só receamos
uma coisa, é que o céu nos caia em cima da cabeça. Mas este dito, que se dá
como prova de ousadia e bravura, não esconderia outra razáo completamenüe
diferente? Em vez duma simples bravata, não se trataria antes da persistente
memória dum acontecimento real? Quem ousaria afirmar que os nossos antepassados
não foram horrorizadas vítimas do céu a desabar em formidáveis cataratas, entre
as trevas duma noite que durou várias gerações?» In Fulcanelli, 1930, Les Demeures
Philosophales, 1965, As Mansões Filosofais, colecção Esfinge, Edições 70,
Lisboa, 1977.
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