Saliva
«Situando-te no meio
desta frase
que se equilibra morna
de saliva,
distingo a cor do
verão
entre este inverno
que é o teu sabor.
Na minha língua».
O Espaço
«O espaço que vai
das mãos
ao cimo dos meus joelhos.
Das tuas mãos
aos meus lábios.
Dos teus lábios
aos meus seios».
Amor
sem razão
«Meu amor quem disse
ao pé de ti o medo.
Ou pôs a ausência
daquilo que faço,
se longe de ti impeço o começo
ou junto de ti me ergo e renasço.
Já nada é razão
quando esta é segredo
ou quando a razão é corpo
e desfaz-se.
Razão do teu sono
por entre os meus dedos.
Razão do teu hálito
por
entre os meus braços».
Lã
«A única diferença
que une a tarde à manhã
é das tuas mãos espessas
a memória
o rasto
a lã;
não a lã da camisola
que usas rasando o peito
mas aquela das palavras
que
deixas cair a meio».
Poemas de Maria Tereza Horta, in ‘As Palavras do Corpo’
In
Maria Tereza Horta, As Palavras do Corpo, Publicações dom Quixote, Lisboa,
2014, ISBN 978-972-204-903-0.
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