Cortesia
de wikipedia e jdact
The
British Museum. Londres. 14 de Novembro
«(…) Alcançou as portas de acesso à ala norte e mergulhou no
interior, acolhido pela familiar mistura de mofo e amoníaco. Estava grato por
ter de novo paredes sólidas à sua volta. Moveu a lanterna pela longa sala. Nada
parecia errado, mas era-lhe exigido verificar cada uma das galerias da ala. Fez
um cálculo rápido. Se se apressasse, poderia completar o circuito com tempo
suficiente para outro cigarro rápido. Com a promessa de uma reparação de
nicotina a tentá-lo, começou a percorrer a sala, o feixe da lanterna a
precedê-lo. A ala norte expunha a colecção de aniversário do museu, uma colecção
etnográfica, retraçando um quadro completo das realizações humanas através das
eras, abrangendo todas as culturas. Como a Galeria Egípcia com as suas múmias e
sarcófagos. Prosseguiu apressadamente, assinalando as diversas galerias
culturais: céltica, bizantina, russa, chinesa. Cada série de salas estava
encerrada por um portão de segurança. Com a falha de energia, os portões tinham
descido automaticamente. Por fim, o outro extremo da sala surgiu à vista. A
maior parte das colecções das galerias estava ali exposta apenas
temporariamente, transferida do Museum
of Mankind para a celebração do aniversário. Mas a última galeria sempre ali
estivera, pelo que Harry se conseguia lembrar. Ela abrigava a exposição árabe
do museu, uma inestimável colecção de antiguidades vindas da Península Arábica.
A galeria fora comissionada e paga por uma única família, que enriquecera
graças a temerários empreendimentos petrolíferos nessa região. Os donativos
para manter tal galeria com exposição permanente no British Museum deverão
exceder os cinco milhões de libras por ano.
Impunha-se
respeitar semelhante tipo de dedicação. Ou não. Com um resfolego de desdém
perante tal desperdício insano de bom dinheiro, Harry fez deslizar o foco da
lanterna pela placa de latão gravada por cima da entrada: Galeria Kensington.
Também conhecida como O Sótão da Megera. Embora Harry nunca tivesse
encontrado lady Kensington, pelas conversas entre funcionários era claro que
qualquer descuido em relação à sua galeria, marcas de pó num armário, uma ficha
de exposição com manchas, um objecto antigo não correctamente posicionado,
seria severamente penalizado. A galeria era o seu projecto de estimação pessoal
e ninguém resistia à sua ira.
Perderam-se empregos na sua sequência, incluindo o de um anterior director. Foi
essa preocupação que manteve Harry por mais alguns momentos no seu posto do
lado de fora do portão de segurança da galeria. Fez deslizar a lanterna em
volta da sala de entrada com mais do que cuidado casual. Contudo, também aí
tudo estava em ordem. Quando se afastava, desviando a lanterna, um movimento
atraiu o seu olhar. Estacou, o foco apontando para o chão. Bem dentro da
Galeria Kensington, numa das salas mais distantes, um brilho azulado errava
lentamente, alterando as sombras à sua passagem. Outra lanterna..., estava
alguém na galeria... Harry sentiu o bater do coração na garganta. Uma intrusão.
Encostou-se à parede próxima. Os seus dedos procuraram atabalhoadamente o
transmissor de rádio. Através das paredes, os trovões reverberavam, sonoros e
profundos. Matraqueou o rádio. Tenho um possível intruso aqui na ala norte.
Aguardo instruções. Esperou que o chefe do turno respondesse. Gene Johnson
podia ser um pulha, mas era também um ex-oficial da RAF. Ele sabia do ofício». In
James Rollins, A Cidade Perdida, Bertrand Editora, 2015, ISBN
978-972-252-930-3.
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