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A
Mulher que Amou Jesus
«(…) Mas que decepção... Então,
faziam uma viagem longa como essa só para dar o cereal de presente e depois
pegá-lo de volta, sem que tivesse sido tocado? Compreendo, disse, por fim. Mas
nós não plantamos trigo, enfatizou. Será que não deveríamos ter trazido peixe?
Aquele peixe que curtimos? É só simbólico, encurtou Eli. Talvez fosse melhor se
falássemos sobre o Templo, disse Silvanus. É mais simples. E então,
enquanto o sol se punha por detrás de seus ombros, discutiram o Templo. De sua
importância para o povo judeu. De ser este o terceiro Templo construído, já que
os dois anteriores haviam sido destruídos. Na realidade, era tão importante que
fora a primeira coisa que os exilados haviam reconstruído, ao voltarem da Babilónia,
500 anos antes. Nós somos o Templo e o Templo é o nosso povo, disse
Natã. Não podemos existir, como um povo, sem o Templo. Que ideia assustadora:
os judeus só podem existir se o prédio estiver construído. Maria sentiu um
arrepio. E se fosse destruído? Mas isso não iria acontecer. Deus não o
permitiria. Hirão, um ancestral nosso, trabalhou na construção do Templo de Salomão,
disse Natã. Procurou por alguma coisa no seu pescoço, e puxou por um fio
com uma pequena romã, de latão. Isto é o que ele fez, disse, passando a
Silvanus, que o examinou, pensativo, antes de passá-lo a Eli.
Fez muitas coisas mais, grandes,
pilares de bronze e capitéis, fundidos em enormes moldes de cerâmica, mas isto
foi o que fez para sua mulher. Mil anos atrás. E nós o guardamos e passamos,
entre nós, desde então. Até o levamos para a Babilónia, mas o trouxemos de
volta. Quando chegou a Maria, ela segurou-o com reverência. Só por sua idade, parecia
imensamente sagrado. O tetravô de meu tetravô fez isto, com suas próprias mãos, pensou. As suas mãos,
que agora são pó, fizeram isto. Segurou-o, fazendo-o rodar, devagar, em torno
da correia. A luz do entardecer brincava na sua superfície, na parte
arredondada do fruto e nas quatro saliências, em forquilha, nos vértices,
representando a origem. Ele captara a forma da romã, fundindo-a, de forma
perfeita, simétrica e ideal.
Sem ousar ao menos respirar na sua
presença, ela devolveu-o a seu pai. Ele colocou-o no pescoço e puxou-o para
baixo, para o peito. Portanto, como vocês podem ver, a nossa romaria não é uma
coisa à toa, disse, finalmente, acariciando, sob a sua roupa, o lugar
onde ficava o talismã. Nós a fazemos em nome de Hirão e dos últimos mil anos. Cedo,
ao amanhecer, as barracas já estavam sendo desarmadas, os animais carregados e
as mães chamavam os filhos. Quando Maria acordou, teve a estranha impressão de
já ter estado no Templo e de lembrar-se das fileiras de estátuas de deusas...,
num bosque de árvores bem altas, cujos picos, verde-escuros, balançavam ao
vento. O Templo a chamava, mas também a chamava o sopro de vento do bosque de
ciprestes. Levantaram-se e, em pouco tempo, já estavam a caminho. A caravana inteira
parecia mover-se com mais energia, como se tivessem acabado de começar a viagem
e não estivessem caminhando há três dias. A magia de Jerusalém os atraía.
No final da tarde, já haviam
chegado ao topo de uma das colinas que cercam a cidade. A caravana inteira
parou para olhar. Lá em baixo, em meio às rochas amareladas e douradas,
espalhava-se Jerusalém. Dentro dos seus muros, a cidade subia e descia, de
acordo com os níveis do terreno. Aqui e ali, uns pontos brancos, que eram palácios
de mármore entre os prédios de calcário; e, erguido sobre um planalto esplêndido
dourado e branco, estavam os locais do Templo. Ficaram todos mudos, em silêncio.
Maria olhava, boquiaberta, muito jovem para sentir a agitação que a fé
religiosa provocava nos mais velhos, que só viam a pureza branca do Templo, a
luz dourada que parecia diferente de qualquer outra que ela vira, descendo do céu,
com suas mãos compridas, para tocar a cidade.
Outros grupos se juntaram, nas
colinas. Várias carruagens, ornamentadas, que traziam frutos das primeiras colheitas
de cidades cujos moradores não poderiam vir nesse ano, também se aproximaram do
aglomerado. As carruagens tinham sido carregadas de acordo com a tradição:
cevada, no fundo, depois o trigo e as tâmaras, depois romãs, depois figos e
azeitonas e, por cima de tudo, uvas. Logo estariam passando, retumbantes, pelas
ruas de Jerusalém, e seriam apresentados aos religiosos. Vamos cantar! Vamos
cantar!, gritou alguém. Vamos cantar e rejubilar-nos de que nos seja
permitido vir a Deus e ao seu Templo! E, na mesma hora, cerca de mil vozes começaram
a cantar os Salmos, que conheciam tão bem, celebrando a ascensão a Jerusalém.
Pararam os nossos pés junto às
suas portas, ó Jerusalém!
Para onde sobem as tribos, as
tribos do Senhor,
Como convém a Israel.
Orai pela paz de Jerusalém!
Sejam
prósperos os que te amam.
Reine paz dentro de teus muros
e prosperidade nos teus palácios.
Agitando ramos de palmeira,
desceram ansiosamente a última colina, para convergir em Jerusalém. Os muros, e
a porta por onde entrariam, já se viam, à frente». In Margaret George, A Paixão de
Maria Madalena, 2002, Saída de Emergência, Edições Fio de Navalha, 2005, ISBN
972-883-911-1.
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