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A Ordem de Cristo
A Ordem de Cristo é acima de tudo
criada para que os bens templários não caiam nas mãos de entidades que ficassem
com poder a mais. O primeiro regimento desta nova Ordem surge em 1321 e assenta
na bula da fundação Ad ea exquibus. O regimento de 1321 deve basear-se
na tradição oral vigente entre os ex-templários e/ou na existência de um
normativo anterior a 1319. Vemos então que o primeiro estatuto consagra 15
freires para o serviço continuado para além de ser dito que de rezão e
direito, outros tantos devem ser postos em cada igreja quando os servidores
de Deus mais são, tanto Deus é mais louvado. É regimentalmente feita uma dotação
de 300 libras ao sacristão do Convento, afim de que tenha as alfaias religiosas
em boa ordem. Segundo este mesmo regimento eram dadas a um simples freire
clérigo 30 libras, enquanto um cura receberia 100 maravedis. No que toca à
estrutura administrativa, esta parece estar montada, mas que, intermitentemente,
parece ter sido posta em causa. Foi motivo bastante para que o Mestre pedisse
bula ao papa Bonifácio IX, no sentido de confirmar o mestre e o convento como
aqueles que tinha legitimamente o direito de apresentar vigário, o qual teria
como incumbência a administração, regimento e cura das almas. Mas mais
importante era dar ao vigário honras de bispo e jurisdição episcopal. Não raro,
o vigário está no centro dos conflitos que têm por base a distribuição das prendas
resultantes de aniversários, por outras palavras, era ao vigário que competia
fazer a distribuição das oferendas que chegavam à classe sacerdotal de maneiras
várias. A situação parece manter-se estável durante a administração do infante
Henrique. A reunião capitular de 1503 foi um momento de viragem para a Ordem de
Cristo. Trata-se da primeira reunião em que o rei Manuel I participa na sua
qualidade dupla de rei e de administrador da Ordem. As alterações estatuárias
oriundas desta reunião provocam alterações significativas nas vivências dos
frades conventuais que estavam a padecer de excesso de mundanismo, apesar de a população
já ter sido obrigada a abandonar o interior do Convento de Tomar, em 1492. O
vigário sai dessa reunião capitular com os seus poderes consolidados. A reforma
decidida na reunião capitular de 1503, consagra solução para os problemas
gerais da Ordem e reafirma, de forma inequívoca, a autoridade apostólica
concedida ao prior do convento, bem como ao vigário de Tomar. Tal decisão indicia
uma autoridade que, de quando em vez, deveria ser posta em causa.
A reunião capitular de 1503
determina, ainda que os freires, o que inclui o Vigário de Tomar, recebam
donativos régios vários, desde que se confinem ao seu mester. As Regalias auferidas
passam também pela melhoria de condições de vida dos religiosos, até no diz
respeito à assistência sanitária. A protecção que se observa com o reinado de
Manuel I é em parte explicável pelos 11 anos em que esteve à frente dos
destinos desta Ordem. Durante este tempo apercebeu-se das carências que o
complexo monacal tinha e concedeu benesses de vária ordem, na dupla condição de
administrador e de rei. Recorrendo à narrativa de Pedro Àlvares Seco, cronista
da Ordem de Cristo, João fez concessão a Manuel (…) assy do mestrado como do ducado e de tudo o mais que o dito
duque tinha (…), no próprio
dia da morte de Diogo, duque de Viseu e seu irmão. Frei Jerónimo Román,
cronista espanhol das Ordens Militares, portuguesas, confirmará esta mesma informação,
enquanto frei Bernardo Costa, referindo a mesma circunstância, acrescenta (…) contava
com 23 anos de idade. Ter-se-á seguido a apresentação do escolhido ao papa, uma
prática que se clarificara com João I, para que este o aceitasse e confirmasse,
uma vez que, no início do ano seguinte, em Janeiro de 1485, o cartório da Ordem
regista um conjunto de documentos da sua responsabilidade, vivo testemunho da
sua actuação como regedor e governador. As circunstâncias que o haviam
conduzido à dignidade mestral (e não só) aconselhavam prudência, recorde-se
que, em 1484, João II era detentor dos mestrados de Avis e Santiago, pelo que a
entrega do de Cristo a Manuel, I entre outros, pode ser interpretada como uma
estratégia política de contraponto à violência com que iniciara o seu reinado,
que necessitava de ser apaziguada, quer em termos internos, quer em termos
externos, uma actuação menos interveniente e, sobretudo, complementar dos princípios
definidos pelo Príncipe Perfeito». In Ana Santos Leitão, Arez da Idade Média à
Idade Moderna, Tese de Mestrado, Edições Colibri, Centro de História da
Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, 2013, CM de Nisa.
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