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«(…) Conhecem-se várias cartas de
nomeação que, já rainha, teria outorgado para o provimento de cargos nas terras
da sua Casa. Aquando dos pareceres sobre a vantagem de prosseguir a expansão no
Norte de África, a soberana tomou uma atitude desfavorável, opondo-se à
participação directa do marido nas campanhas em Tânger, até porque, entre todas
as razões que possamos supor, ele era um homem instável e, à altura, doente.
Não fora o Infante Henrique que fez seu sobrinho e afilhado, o Infante Fernando,
o filho varão mais novo do casal, seu herdeiro universal, a rainha dificilmente
mudaria de opinião. O facto é que passou a tomar uma atitude favorável e, ao
colocar-se ao lado do Navegador, intercedeu junto do rei para que a dita
expedição tomasse lugar, mas sem a sua intervenção directa. O Cronista, em duas
palavras, faz-nos novas revelações:
vendo-se estrangeira e sentindo
quanto el-rei era afeiçoado aos infantes seus irmãos e em especial ao infante
Pedro, entre o qual e ela já havia dúvidas de suas boas vontades, estimou, por
muito seu interesse e segurança haver para si o coração do Infante Henrique a
que, para isso, respondia igualmente com obras e virtuosos sinais de amor.
A soberana achou o requerimento
do infante Henrique justo, honesto e sancto e contribuiu, sem, dúvida, para que
o marido requeresse do papa a bula de cruzada. Não oferece, aliás, dúvidas o afecto
que unia o monarca à esposa, a quem dedicou o Leal Conselheiro, num prefácio em
que justifica a feitura do seu texto pelo requerimento da muito excelente
Reinha Dona Leonor, sua molher:
vós me requerestes que juntamente
vos mandasse screver alguas cousas que havia scriptas per boo regimento de
nossas conciencias e voontades.
Pelo testamento do rei, que
somente se conhece pela versão de Rui Pina, a regência do Reino fora confiada a
dona Leonor, começando esta a usar do governo sem alguma publica contradição e
assinando sempre os actos régios com a expressão a triste Raynha. Só Rui Pina
alude ao testamento na Crónica que temos vindo a examinar. Esse período vai
durar até 1439.
Até então, muita água vai correr
por debaixo da ponte. Fala-se do casamento da filha do Infante Pedro, o tio
legítimo mais velho, com o herdeiro da Coroa, Afonso, cujo consentimento e prazer
da Reynha […] nom foy ygualmemente recebydo nos coraçooens de todos, mormente
do 8.º Conde de Baercelos a quem parecia, que conclusam e outorga deste
casamento pesava muito (o conde procurava, então, em segredo, por meio do arcebispo
Pedro de Lisboa, a quem a raynha pedia conselho, dizendo que não tinha muita
fé, e nom tynha booa vontade ao Yfante Dom Pedro, como do que acerca deste
casamento lhe tynha permetydo, levando a desdizer-se e a prometer casar o herdeiro
do trono com a neta do conde de Barcelos, filha mais velha do Infante João).
Logo após a deposição do corpo do
rei Duarte na Batalha, antes do início das Cortes de Torres Novas (1438), Vasco
Fernandes Coutinho, marechal, que veio a ser 1.º conde de Marialva, ligou-se
por juramento a muitos dos grandes do Reino e todos apoiaram o testamento do
rei em favor da rainha, que nom saysse do poder da Raynha; o que elles
devyam requerer, e procurar que se compryse […] que nam vyesse em maneira
alguma ao Yfante Dom Pedro, de cujos rigores, e mostranças suas falsas, que
fazia ao Povo, de justo e saã consciência nom podiam receber, se nom o
contrayro. Apostavam estes e outros da fina-flor da nobreza que a força do infante Pedro seria
aquela que lhe adviria o Povo, e gente meuda que sem cabeceiras nem teryam
forças, nem daryam ajuda. Os que juraram tiveram de dar um passo atrás,
pois todos os mais se desdisseram e acostaram à banda do Infante Pedro e dos
outros Infantes, Duques e Condes que ficaram com ele (a rainha, porque
crendo, que nestes pêra seus feytos averia a firmeza, que juráram, e lhe prometeram,
nom se contentou no princípio destes movimentos d’alguns meos boõs, e onestos,
que lhe foram apontados; do que a ella pollos nom aceitar se seguio muyto mal,
e ao Reyno, e a muytos delle pouco bem, como se dirá)». In
João Silva Sousa, Dona Leonor, A Triste Rainha, FCSHUN de Lisboa,Wikipédia.
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