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Filósofos
Orientais
«(…) Na Carta
de Adeus, Avempace lembra a alta classe de Al-Farabí na
ciência superior, refere a Ética a
Nicómaco de Aristóteles, o Fédon de Platão e pouco claramente Al-Gazzali. Critica
de novo as sociedades reais. Os fins que as gentes das sociedades actuais se
propõem ao obrar são dois, a julgar pelo que deles se conta:
um desses dois fins é lograr com os seus actos o
que os partidários de cada escola ou seita crêem que agrada a Deus, exaltado
seja!;
e o segundo é um fim misto que se compõe dos fins
próprios da gente rica e dos fins da gente nobre, isto é, lograr o prestígio
social que dão a ostentação e o aparato dos vestidos, dos veículos, dos adornos
luxuosos e o gozo dos prazeres.
Ora a perspectiva da realização da sociedade ideal está nos que
escolhem a nobreza da nossa profissão de estudiosos, superior a todas as demais
ocupações humanas, pois todos os homens reconhecem que a ciência é a mais excelente
das coisas humanas e que os homens de maior mérito reconheceram que a ciência
verdadeira constitui a verdadeira fortuna e nobreza.
A visão do entendimento
em si mesmo constitui o fim a que por natureza os homens estão destinados pois,
na medida em que o homem se acerca do entendimento, acerca-se também de Deus e
compraz-se nele… A ciência aproxima de Deus e a ignorância afasta dele. Mas
como a visão do entendimento tem de realizar-se na sociedade política, daí que
os homens são mais ou menos excelentes, segundo graus distintos e opostos de
perfeição, para que com eles a sociedade seja perfeita e possa assim
realizar-se compridamente o fim que é a visão do entendimento. A vida da sabedoria
permite o encontro em qualquer altura com aqueles que viveram antes de nós.
Também tu poderás encontrar os que vierem à vida depois de ti no tempo futuro.
Consagra-te a fundo a este grau de ciência e nela te encontrarás com os
antepassados em quem Deus se comprazeu, como eles se comprazeram com ele. Esse
será o êxito máximo… Funde-te comigo num só ser. Ibu Tufayl, [(Abu Bakr ibn
Tufayl al-Kaisí (Abentofail) (Guadix, Granada 1105-Marraquexe 1185)].
Da tribo árabe de Kais.
Médico, matemático, astrónomo, filósofo e poeta. Exerceu medicina em Granada e
mais tarde tornou-se médico e amigo do califa almóada Abu Yacube Yusuf
(1163-1184), morto na estrada de Évora por um tiro de besta quando levantava o
cerco a Santarém. Apresentou Averróis na corte almóada. Escreveu dois tratados
de medicina e a novela filosófica Relato
de Hayy ibn Yaqzan, um texto utópico espantoso, conhecido no
Ocidente como O Filósofo
Autodidacta. O livro é inspirado no texto homónimo Risala Hayy b. Yaqsan de
Avicena a quem Ibn Tufayl exalta como mestre e príncipe dos filósofos. A
tradução latina de Eduardo Pococke de 1672 e as sucessivas traduções em línguas
europeias podem ter influenciado A
Vida e Surpreendentes Aventuras de Robinson Crusoe de Daniel Defoe.
O Filósofo
Autodidacta conta a história de Hayy, o vivente, um solitário
perdido desde o nascimento numa ilha deserta. Fruto de um amor proibido, a mãe
deu-lhe o sumiço que deram a Moisés. Angustiada, embalou o filho numa cesta, que
arrastada pelas ondas, foi parar à tal ilha deserta. Criado por uma gazela,
Hayy descobre pouco a pouco por si mesmo as verdades inteligíveis. Examinou se
poderia encontrar um só atributo que correspondesse a todos os corpos, animados
e não animados mas não encontrou entidade alguma que fosse comum a todos os
corpos senão a noção de extensão nas três dimensões... longitude, latitude e profundidade.
Prosseguindo na sua descoberta acabou por alcançar a ideia aristotélica de forma e hylé». In
António Borges Coelho, Tópicos para a
História da Civilização e das Ideias no Gharb al-Ândalus, Instituto
Camões, Colecção Lazúli, 1999, IAG-Artes Gráficas, ISBN 972-566-205-9.
Cortesia de I.Camões/JDACT