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de wikipedia e jdact
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Assim, as tropas muçulmanas terão acampado no planalto de Marvila, en la montaña que domina a
Santaren y esta contigua a ella, destruindo algumas construções no exterior das muralhas e preparando a
partir daí o assédio às fortificações da cidade. Depois atacaram o complexo de Alpran, que transpuseram sem grande dificuldade, sendo
que os seus defensores se salvaram in
extremis, recolhendo ao interior da muralla de la alcazaba.
A memória cronística portuguesa de Quatrocentos, muito embora apresente um
versão diferente dos sucessos militares, também não nos afasta dessa
interpretação registando que no contexto desse ataque o rei Sancho se
fortificara não dentro
nos muros da Villa, nem Dalcaceva, que então era tão somente cercada, mas antes se susteve sempre nos arrabaldes da Villa em
palanques, e estancias, que com madeiras somente afortalezou.
Consideramos que os primeiros muros mencionados por Rui de Pina correspondem a
Alporão, sendo claro que a Alcáçova é um espaço militar individualizado
materialmente, mas que não teria castelo. Já os palanques mencionados poderão
significar uma reactivação da barbacã de terra batida almorávida, reforçada por
estruturas em materiais perecíveis.
Verifica-se
portanto que constituem informações absolutamente coincidentes com o sistema
defensivo construído entre 1111 e 1147 descrito na DES. Registe-se também que ambas as descrições da
ofensiva almóada relatam algumas estruturas habitacionais no planalto de
Marvila, embora sejam unânimes em considerá-lo como arrabalde. Os
desenvolvimentos posteriores à incursão almóada de 1184 são concordantes com a
imagem esquemática do espaço urbano e peri-urbano fornecida pelas fontes já
citadas. Muito embora a cidade tenha resistido, as fragilidades reveladas pelo
sistema defensivo terão compelido o monarca Sancho I a reestruturá-lo (a
fonte árabe afirma que transpuseram a linha de Alpram, enquanto as fontes
cristãs oferecem a versão de que D. Sancho aguentara no palanque até à chegada
de reforços. Da síntese destes dois testemunhos, a fragilidade da linha de
Alporão sai relevada: o monarca português sentiu necessidade de reforçar a
defesa no seu exterior). Nesse sentido se deverá entender a implantação
topográfica do conjunto claustral de S. João de Alporão, junto das portas
homónimas, reforçando portanto a sua protecção com um contingente de
Hospitalários que na década de 80 do século XII eram presença cada vez mais
frequente e eficaz nas campanhas militares portuguesas.
No
entanto, a premissa fundamental seria obstaculizar a penetração de comitivas
inimigas no planalto de Marvila, pelo que se iniciara a edificação de uma
terceira linha de muralhas como demonstram as referências ao muro de Marvila em
1191 e às portas de Atamarma em 1218 e de Manços em 1232, sucessão
cronológica que parece comprovar que este novo projecto construtivo se
constituiu como uma reacção à aparente facilidade com que os almóadas
assediaram a linha de Alporão e ameaçaram a Alcáçova.
A
expansão urbana nos finais do século XII. A densificação construtiva no
planalto de Marvila
Na
sequência das informações documentais e arqueológicas que fomos tratando
parece-nos prematuro defender que Marvila se tenha afirmado como centro cívico,
religioso e comercial durante o domínio muçulmano. Em primeiro lugar pela
conhecida aversão a vizinhar com áreas de necrópole que se encontrava, durante
o século XI senão em utilização, certamente visível a cerca de 120 metros.
Depois porque nos parece inverosímil que o poder almorávida deixasse sem
protecção a zona mais nobre da cidade. Por último, as crónicas cristãs e árabes
são consensuais em afirmar que os combates de 1184 decorreram num espaço de arrabalde,
realçando a sua exterioridade face ao núcleo mais urbanizado». In
Marco Liberato, Novos dados sobre a paisagem urbana da Santarém medieval
(séculos V-XII), a necrópole visigoda e islâmica de Alporão, Revista
Medievalista, Nº 11, 2012, ISSN 1646-740X.
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