1096.
Agosto. Com o exército do Norte, preparando-se para partir…
«(…) Foi assim que, na Primavera
de 1097, os cruzados chegaram, por fim, à Anatólia com a ajuda dos navios do
imperador. Contudo, quando o exército de Godofredo se preparava para sitiar
Niceia, descobriram que Comneno estabelecera um tratado secreto com os turcos, no
qual a rendição da cidade era garantida ao imperador, fazendo assim com que
parecesse que fora o seu exército bizantino, e não os cruzados, a ganhar o
conflito. Após a traição, Godofredo e os irmãos, juntamente com os respectivos exércitos
de cruzados, viraram para sul, em direcção a Jerusalém, e retomaram o seu
intento original.
1098. Na Estrada Deserta perto de Antioquia...
À distância, pareciam fósforos
escurecidos brilhando ao calor que se erguia das planícies áridas do Levante. Quando
os cavaleiros cruzados os alcançaram na Síria, a Cruzada do Povo somava menos
de dez por cento das almas desesperadas que haviam ousado sair dos reinos francos.
As histórias eram horrendas. Padres que viajavam entre eles provocavam os peregrinos,
sugerindo que os turcos engoliam os seus valores de modo a escondê-los dos assaltantes.
Por isso, sempre que capturavam um, os peregrinos abriam--lhe a barriga, e dedos
ávidos sondavam os intestinos ensanguentados, procurando tesouros escondidos. Os
peregrinos eram por sua vez chacinados pelos igualmente bárbaros turcos. Os que
capturavam vivos eram expostos nas praças das cidades e usados para tiro ao alvo
pelos arqueiros. Os sobreviventes eram devolvidos ao deserto, onde tinham, por vezes,
de beber a própria urina. Ou morriam à fome. Quanto a Pedro, o Eremita, o
seu zelo fora finalmente encurtado pelos turcos, que o torturaram. Godofredo Bulhão
ficou satisfeito só por o encontrar ainda vivo. O cavaleiro desmontou do seu
cavalo, abraçou o emaciado evangelista como um amigo há muito perdido e fez com
que cuidassem dele até recuperar alguma saúde.
Durante a convalescença, Pedro contou,
com todos os pormenores, como as pessoas, que os tinham precedido sob a sua orientação,
se haviam mostrado destituídas de inteligência, imprevidentes e intratáveis ao mesmo
tempo, e por isso era muito mais por sua culpa do que pelos feitos de qualquer outro
que haviam sucumbido ao peso das suas calamidades. Renovado o seu vigor, o monge
prosseguiu a viagem com o exército de Godofredo nos restantes quilómetros de pó,
areia e rocha ainda entre eles e Jerusalém. Que Godofredo parece ter marchado para
a Terra Santa com um objectivo próprio desde o início tornou-se evidente no seu
envolvimento com os turcos. Embora o seu papel no exército fosse importante, o seu
envolvimento nas batalhas e escaramuças no Levante mostrou-se insignificante. E
batalhas não faltaram. Escrevendo à esposa em França, o cavaleiro Étienne Henri
Blois tinha esperança de que os restantes quatro mil e oitocentos quilómetros até
Jerusalém levassem apenas cinco semanas a percorrer. Na verdade, demorou dois anos
até os cruzados terem um vislumbre da cidade que tanto haviam perseverado para
alcançar.
140 A. C., numa terra do oeste da Ibéria
chamada Lusitânia...
Um anteriormente imparável Júlio César
estava enfadado: há uma civilização nos confins nórdicos da Ibéria que não se governa
e não se deixa governar. A tribo que lhe daria e às subsequentes legiões
romanas duzentos anos de irritações eram os lusitanos, uma tribo celta cujo nome
se traduz como povo da luz de Ani. Ani é uma das divindades principais do
mundo celta, uma variante da deusa suméria Inanna. Em encarnações posteriores, volta
a surgir como Santa Ana, avó de Jesus. Independentemente dos seus muitos derivados,
Ana, Anu, Annan, Danu, Dana, era considerada a mãe dos deuses». In
Freddy Silva, Portugal, a Primeira Nação Templária, 2017, Alma dos Livros,
2018, ISBN 978-989-890-700-4.
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