quinta-feira, 22 de novembro de 2018

Tópicos para a História da Civilização. Ideias no Gharb al-Ândalus. António B. Coelho. «Ibn Bayya, cujo livro Regime do Solitário comentou e ainda Ibn Tufayl convergem na sua defesa da convergência das duas atitudes independentes que são a filosofia…»

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Filósofos Orientais
«(…) As descobertas prosseguem até que chegou à evidência de que todas as coisas do mundo eram como um só indivíduo subsistente que reclamava a existência de um agente voluntário, reduzindo-se à unidade as suas múltiplas partes por aquela linha de contemplação ou de discurso com que se haviam reduzido à unidade os corpos existentes no mundo da geração e da corrupção. E dirigida a especulação para o mundo na sua totalidade, propôs-se investigar se era uma substância novamente produzida depois do não ser e que saíra à existência a partir da privação da mesma criação ou se, pelo contrário, era um ser que nunca deixara de existir e a quem de maneira alguma precedera a privação da existência ou o nada.
Ora, numa ilha próxima, viviam duas pessoas excelentes e amantes do bem, Asal e Salmán. O primeiro decidiu retirar-se para a ilha onde Hayy prosseguia as suas especulações enquanto Salmán se decidiu abraçar a vida social. Sempre engolfado nas suas especulações, Hayy b. Yaqsan só uma vez por semana abandonava a caverna em busca de alimentos. Numa dessas saídas encontrou Asal. Vêm à fala. Palavra puxa palavra, verificaram que as ideias filosóficas e religiosas, expostas de forma alegórica por Asal, concordavam com as verdades que Hayy aprendera por si mesmo aperfeiçoando as suas faculdades naturais. Asal e Hayy decidem então viver na ilha de Asal mas não foram compreendidos pela multidão. Regressam à ilha deserta onde vivem como sábios. Como Ibn Bayya, Ibn Tufayl considera a sabedoria como a união mística com Deus. A filosofia da religião não pode servir como guia do comum dos mortais. A comunidade social constitui um obstáculo para o homem solitário. Mas, enquanto para Ibn Bayya, o Solitário que vive nas sociedades reais pode tornar-se cidadão da sociedade ideal, para Ibn Tufayl a vida teórica do sábio é incompatível com as ocupações sociais e políticas. Ibn Rushd, Abu l-Walid Muhammad b. Ahmad Muhammad b. Rushd al-Hafid (O Neto), Averróis, (Córdova 1126-Marraquexe 1198).
O avô exerceu o cargo de juiz e de imã na mesquita maior de Córdova; o pai, o de juiz na mesma cidade. Averróis o Neto está em Marraquexe em 1153. Em 1169 é juiz de Sevilha, em 1171 ocupa o mesmo lugar em Córdova. Em 1182 Ibn Tufayl apresenta-o em Marraquexe ao califa Abu Yacub Yusuf. Em 1195, por pressão dos alfaquis e de alguns notáveis de Córdova, é banido para Lucena e os seus livros queimados na praça pública. Em 1197 retorna a Marraquexe reconciliado com o novo califa Yacub Al-Mansur e aí morre no ano seguinte. O místico Al-Arabi assistiu à entrada do corpo de Averróis para a sepultura definitiva em Córdova. Num dos costados, a mula carregava o cadáver do filósofo, no outro seguia o peso dos seus livros
Médico famoso, legou-nos o tratado Livro das Generalidades da Medicina. Jurista, astrónomo, teólogo e filósofo. A maior parte dos seus livros conservou-se em traduções latinas e hebraicas, muito poucas em árabe. O grande mestre de Averróis é Aristóteles cujos livros principais conhece e comenta com rigor. Escreveu um comentário à República de Platão porque não conseguiu encontrar a Política. Os seus mestres islâmicos são Al-Farabi na lógica e nas doutrinas morais e políticas. Ibn Bayya, cujo livro Regime do Solitário comentou e ainda Ibn Tufayl convergem na sua defesa da convergência das duas atitudes independentes que são a filosofia e a fé revelada. Conheceu as doutrinas de Avicena que critica duramente em numerosos passos. A influência de Averróis é avassaladora no mundo cristão, particularmente em Sigério de Brabante, Santo Alberto Magno, São Tomás de Aquino e também no seu contemporâneo o filósofo judeu de língua árabe Maimónides. A sua influência ainda se fazia sentir na Universidade de Pádua nos alvores do século XVII». In António Borges Coelho, Tópicos para a História da Civilização e das Ideias no Gharb al-Ândalus, Instituto Camões, Colecção Lazúli, 1999, IAG-Artes Gráficas, ISBN 972-566-205-9.

Cortesia de I.Camões/JDACT