Cortesia
de wikipedia e jdact
«(…) Em 1120, Diego Gelmirez obteve do papa
Calisto II o reconhecimento de Compostela como metropolitana da província da Lusitânia,
por oposição a Braga, metropolitana da Galécia. Deste modo, não só se fomentaram as
rivalidades entre as duas metrópoles, como se reconheceu aos arcebispos galegos
o direito de intervenção no governo eclesiástico de várias dioceses
portuguesas, como Guarda, Lamego, Lisboa e Évora, situação que se manteve até
ao final do século XIV. Como corolário desta ingerência galega nas dioceses
portuguesas gera-se uma certa mobilidade de elementos da hierarquia
eclesiástica de proveniência galega que se deslocam temporariamente pelas
cidades do Sul engrossando deste modo o já avultado contingente de galegos aí
residentes.
Todos estes factores matizam a
explicação puramente quantitativa de emigração galega para Portugal no período
medievo. Todos eles se conjugam e permitem compreender a inserção dos vários
imigrantes nas duas cidades consideradas. Em Santarém, os povoadores galegos
ascendem com frequência ao nível superior da sociedade urbana como cavaleiros
terratenentes, mas a grande massa é integrada por pequenos proprietários ou
simples agricultores das terras tomadas de presúria. Em Évora, eles constituem uma
classe média de pequenos proprietários ou simples foreiros da propriedade rural
ou urbana que, em casos esporádicos, exercem uma profissão diferente da
agricultura, como por exemplo de carvoeiro, cutileiro ou corretor.
São estes os homens que usam o
apelido de Galego que
se transmite por gerações e que constituem como que o lastro desta sociedade transplantada.
Porém, nos séculos XIV e XV, as referidas cidades dão acolhimento a vários
elementos da nobreza galega que não usam o apelido de Galego, mas que ostentam
nomes como: Barbosa, Valadares, Marinho, Camões e Castro, que denunciam a mesma
origem. Estes nobres não vêm sós. Trazem consigo as suas comitivas de criados e
dependentes, típicas da sociedade senhorial e implantam no meio urbano
solidariedades clientelísticas. É o que sucede com os Castros, que se
estabelecem em Évora e, no século XV, dominam a cidade na qualidade de capitães
da mesma. Residem na antiga alcáçova dos freires de Évora e o seu prestígio mede-se
não só em bens materiais, mas em cargos honoríficos e em amplas clientelas de
escudeiros e criados.
Todas as circunstâncias apontadas
nesta abordagem de carácter histórico têm o sabor de contingências
espácio-temporais, mas não desmentem, antes confirmam, as palavras de Sanchez
Albomoz quando chama aos Galegos eternos y abimdosos pobladores en todas Ias
tierras y tempos». In Maria Ângela Beirante, Onomástica Galega
em duas cidades do sul de Portugal, Santarém e Évora, Revista da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas,
nº 6, 1992-1993, III Congresso Internacional da Língua Galego-Portuguesa
na Galiza, Vigo, 1990.
Cortesia da RevistaFCSH/JDACT