A conquista de Espanha. Tárique
Batalha do Lago ou Guadalete
«(…) Encontraram-se Rodrigo e Tárique, permanecera em Algeciras, num
lugar chamado o Lago, e pelejaram encarniçadamente. Mas as alas direita e
esquerda, a mando de Sisberto e Opas, filhos de Vitiza, puseram-se em fuga. E ainda
que o centro resistisse algum tanto, no final Rodrigo foi também derrotado e os
muçulmanos fizeram uma grande matança nos inimigos. Rodrigo desapareceu sem que
se soubesse o que lhe havia acontecido, pois os muçulmanos só encontraram o seu
cavalo branco com a sela de ouro, guarnecida de rubis e esmeraldas e um manto
tecido de ouro e bordado de pérolas e rubis. O cavalo caíra num lodaçal e o
cristão que caiu com ele, ao arrancar o pé, deixara um tesouro no lodo. Só Deus
sabe o que se passou, pois não se teve notícias dele, nem se encontrou vivo ou
morto.
Combate de Ecija
Tárique marchou em seguida pelo estreito de Algeciras e dirigiu-se
depois à cidade de Ecija: os habitantes, acompanhados pelos fugitivos do
exército grande, saíram ao seu encontro e travou-se um combate tenaz, no qual
os muçulmanos tiveram muitos mortos e feridos. Deus concedeu-lhes por fim a sua
ajuda e os politeístas foram derrotados, sem que os muçulmanos voltassem a
encontrar tão forte resistência. Tárique apeou-se numa fonte que se encontra a
quatro milhas de Ecija, nas margens do seu rio, e que tomou o nome de fonte de
Tárique. Infundiu Deus terror no coração dos cristãos quando viram que Tárique
se internava no país (tinham acreditado que faria o mesmo que Tárife). E fugindo
para Toledo, encerraram-se nas cidades de Espanha. Então Julião acercou-se de
Tárique e disse-lhe: já deste cabo da Espanha. Divide agora o teu exército, ao
qual servirão de guia estes meus companheiros. E tu marcha contra Toledo.
Dividiu, pois, o seu exército em Ecija. E enviou Mahuite Arrumi, liberto de
Alualide ibne Abde Almálique, a Córdova (que era então uma das maiores cidades
e é actualmente a fortaleza dos muçulmanos, a sua principal residência e a
capital do reino), com 700 cavaleiros, sem nenhum peão, pois não tinha ficado
muçulmano sem cavalo. Mandou outro destacamento a Raia, outro a Granada,
capital de Elvira, e dirigiu-se para Toledo com o grosso das tropas.
Tomada de Córdova
Muguite caminhou até chegar a Córdova e acompou na vila de Xecunda, num
bosque de alerces que havia entre as vilas de Xecunda e Tarsail. Daqui mandou
alguns dos seus adais, os quais prenderam e trouxeram à sua presença um pastor
que andava apascentando gado no bosque. Muguite pediu-lhe notícias de Córdova.
E ele disse que a gente principal tinha marchado para Toledo, deixando na
cidade o governador com 400 defensores e a gente de pouca importância. Perguntou-lhe
depois pela fortaleza das suas muralhas, ao que respondeu que eram bastante
fortes, mas que, sobre a porte da Estátua, havia uma fenda que lhes descreveu».
In
António Borges Coelho, Portugal na Espanha Árabe, História, Colecção
Universitária, Editorial Caminho, 1989, ISBN 972-21-0402-0.
Cortesia de
Caminho/JDACT