segunda-feira, 3 de junho de 2019

A Catedral de Lamego. Séculos XII a XX. Anísio Sousa Saraiva. «À reconquista de uma sede de diocese seguia-se, por via de regra, a restauração da sua dignidade episcopal. Assim terá pretendido fazer o rei leonês, mas não chegou a concretizar tal intento, a não ser, segundo parece, em Viseu»

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Espaço. Poder. Memória
Construir e Organizar
«(…) Neste período, temos de novo menções a bispos da diocese, muitas vezes incertas, porém, pois quase todas surgem em cópias tardias, a maioria das quais sofreu erros de leitura, interpolações ou falsificações. Seguindo um dos historiadores que com maior profundidade e de forma sistemática se tem, recentemente, empenhado no estudo destas matérias, Manuel Carriedo Tejedo, podemos associar aos nomes acima indicados mais sete prelados de Lamego. No início da década de 80 do século X cessam, porém, uma vez mais, tais referências. Por essa altura, os exércitos do célebre Almançor avançavam pela península, chegando mesmo a ameaçar Santiago de Compostela. Diversas praças já recuperadas pela monarquia astur-leonesa voltaram ao domínio sarraceno. Foi o caso de Lamego, que ficou durante mais de sessenta anos sob autoridade muçulmana, e se tornou a mais importante e bem fortificada cidade da região, tendo chegado a fazer parte do reino taifa de Badajoz. Assim permaneceu até que, em meados do século XI, Fernando Magno se lançou numa acção conquistadora de larga escala, conhecida como Campanha da Beira, aproveitando a conjuntura favorável aos cristãos provocada pela fragmentação do califado de Córdova em pequenos reinos de taifas, que rivalizavam entre si.

A reconquista da cidade e a primeira tentativa de restauração da diocese
As incursões vitoriosas de Fernando Magno levadas a cabo entre 1055 e 1064 lograram recuperar para a coroa leonesa os territórios beirões perdidos no tempo de Almançor, como as fortalezas de Seia, Trancoso, Lamego, Tarouca, Viseu, Penalva e Coimbra. Das três cidades citadas (Lamego, Viseu e Coimbra), a primeira a ser conquistada foi Lamego, em 1057; no ano seguinte, recuperou-se Viseu, e Coimbra caiu em poder dos cristãos em 1064. Várias fontes, como o Chronicon Lusitanum e o Obituário Lamecense, informam-nos sobre o dia exacto em que Lamego foi reconquistada: sábado, 29 de Novembro de 1057, dia da festa de S. Saturnino, graças a uma operação militar de grande envergadura, devido às fortes muralhas que rodeavam o castelo, já de si de difícil acesso, obrigando à utilização de engenhos de guerra, de torres de madeira e catapultas, como nos relatam as velhas páginas da Historia Silense.
Na sequência destas conquistas, a fronteira entre cristãos e muçulmanos passou a ter como limite o rio Mondego, e o monarca procedeu a profundas alterações na administração do território sob seu domínio. O antigo condado de Coimbra foi entregue ao moçárabe Sesnando, recompensado pelo precioso auxílio prestado a Fernando Magno com o governo desse vasto espaço, que se estendia desde a terra de Santa Maria, a norte, até à fronteira sarracena, a sul, abarcando a leste os territórios de Lamego e Viseu.
À reconquista de uma sede de diocese seguia-se, por via de regra, a restauração da sua dignidade episcopal. Assim terá pretendido fazer o rei leonês, mas não chegou a concretizar tal intento, a não ser, segundo parece, em Viseu, onde, logo após a ocupação da cidade, encontramos um bispo de nome Sesnando (homónimo, pois, do conde conimbricense), que terá acompanhado o rei na conquista de Coimbra de 1064; de seguida, porém, cessam as notícias a seu respeito. Em Lamego, terá sido o filho de Fernando Magno, Sancho II, a nomear Pedro como bispo, em 1071, à semelhança do que fez em Braga, onde, também nesse ano, colocou na cátedra episcopal o célebre prelado do mesmo nome cuja actuação foi magistralmente estudada por Avelino Jesus Costa. Ao contrário, porém, do que se passou em Braga, o bispo de Lamego teve um episcopado efémero, e não conheceu sucessor». In Anísio Sousa Saraiva, Coordenação, Espaço, Poder, Memória, Faculdade de Teologia, Centro de Estudos de História Religiosa, Universidade Católica Portuguesa, Fundação para a Ciência e a Tecnologia, 2013, ISBN 978-972-836-157-0.

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