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Espaço.
Poder. Memória
Construir
e Organizar
«(…)
Neste período, temos de novo menções a bispos da diocese, muitas vezes
incertas, porém, pois quase todas surgem em cópias tardias, a maioria das quais
sofreu erros de leitura, interpolações ou falsificações. Seguindo um dos
historiadores que com maior profundidade e de forma sistemática se tem,
recentemente, empenhado no estudo destas matérias, Manuel Carriedo Tejedo,
podemos associar aos nomes acima indicados mais sete prelados de Lamego. No
início da década de 80 do século X cessam, porém, uma vez mais, tais referências.
Por essa altura, os exércitos do célebre Almançor avançavam pela península,
chegando mesmo a ameaçar Santiago de Compostela. Diversas praças já recuperadas
pela monarquia astur-leonesa voltaram ao domínio sarraceno. Foi o caso de
Lamego, que ficou durante mais de sessenta anos sob autoridade muçulmana, e se
tornou a mais importante e bem fortificada cidade da região, tendo chegado a
fazer parte do reino taifa de Badajoz. Assim permaneceu até que, em meados do
século XI, Fernando Magno se lançou numa acção conquistadora de larga escala,
conhecida como Campanha da Beira, aproveitando a conjuntura favorável
aos cristãos provocada pela fragmentação do califado de Córdova em pequenos
reinos de taifas, que
rivalizavam entre si.
A reconquista da cidade e a primeira tentativa de
restauração da diocese
As
incursões vitoriosas de Fernando Magno levadas a cabo entre 1055 e 1064
lograram recuperar para a coroa leonesa os territórios beirões perdidos no
tempo de Almançor, como as fortalezas de Seia, Trancoso, Lamego, Tarouca,
Viseu, Penalva e Coimbra. Das três cidades citadas (Lamego, Viseu e Coimbra), a
primeira a ser conquistada foi Lamego, em 1057; no ano seguinte, recuperou-se
Viseu, e Coimbra caiu em poder dos cristãos em 1064. Várias fontes, como o Chronicon Lusitanum e o
Obituário Lamecense, informam-nos sobre o dia exacto em que Lamego foi reconquistada:
sábado, 29 de Novembro de 1057, dia da festa de S. Saturnino, graças a
uma operação militar de grande envergadura, devido às fortes muralhas que
rodeavam o castelo, já de si de difícil acesso, obrigando à utilização de
engenhos de guerra, de torres de madeira e catapultas, como nos relatam as
velhas páginas da Historia Silense.
Na
sequência destas conquistas, a fronteira entre cristãos e muçulmanos passou a
ter como limite o rio Mondego, e o monarca procedeu a profundas alterações na
administração do território sob seu domínio. O antigo condado de Coimbra foi
entregue ao moçárabe Sesnando, recompensado pelo precioso auxílio prestado a
Fernando Magno com o governo desse vasto espaço, que se estendia desde a terra
de Santa Maria, a norte, até à fronteira sarracena, a sul, abarcando a leste os
territórios de Lamego e Viseu.
À
reconquista de uma sede de diocese seguia-se, por via de regra, a restauração
da sua dignidade episcopal. Assim terá pretendido fazer o rei leonês, mas não
chegou a concretizar tal intento, a não ser, segundo parece, em Viseu, onde,
logo após a ocupação da cidade, encontramos um bispo de nome Sesnando
(homónimo, pois, do conde conimbricense), que terá acompanhado o rei na
conquista de Coimbra de 1064; de seguida, porém, cessam as notícias a seu
respeito. Em Lamego, terá sido o filho de Fernando Magno, Sancho II, a nomear Pedro como
bispo, em 1071, à semelhança do que fez em Braga, onde, também nesse ano,
colocou na cátedra episcopal o célebre prelado do mesmo nome cuja actuação foi
magistralmente
estudada por Avelino
Jesus Costa. Ao contrário, porém, do que se passou em Braga, o bispo de Lamego
teve um episcopado efémero, e não conheceu sucessor». In Anísio
Sousa Saraiva, Coordenação, Espaço, Poder, Memória, Faculdade de Teologia,
Centro de Estudos de História Religiosa, Universidade Católica Portuguesa,
Fundação para a Ciência e a Tecnologia, 2013, ISBN 978-972-836-157-0.
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