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de wikipedia e jdact
Istambul, Sábado, 5 de Setembro. 22
horas
«(…) Durante os nove anos em que vivera
sob a direcção de Sam Roffe, Rhys Williams se tornara de valor inestimável para
a companhia. Com o correr do tempo, assumira responsabilidades cada vez
maiores, reorganizando várias divisões, resolvendo problemas em qualquer ponto
do mundo, coordenando as diversas filiais da Roffe and Sons e criando novos
conceitos. No fim, Rhys Williams conhecia o funcionamento e a situação da
companhia mais do que qualquer pessoa, à excepção do próprio Sam Roffe. Rhys
Williams era o sucessor natural para a presidência. Um dia, quando Rhys e Roffe
voltavam de Caracas num luxuoso Boeing 707-320, que fazia parte da frota de
oito aviões da companhia, Sam Roffe felicitou Rhys por uma transacção lucrativa
que ele havia fechado com o governo. Vai ganhar uma boa gratificação por isso,
Rhys.
Rhys respondeu calmamente: não
quero gratificação, Sam. Prefiro algumas acções e um lugar na sua administração.
Merecia isso, decerto, e os dois sabiam disso. Mas Sam respondeu: sinto muito,
mas não vou alterar os meus princípios, nem mesmo por sua causa. A Roffe and
Sons é uma empresa privada e ninguém que não seja da família pode pertencer à administração
ou possuir acções. Rhys sabia disso, sem dúvida. Comparecia a todas as reuniões
da companhia, mas não como participante. Sam era o último elemento masculino da
família Roffe. As outras pessoas da família eram todas mulheres, primas de Sam.
Os homens com quem elas haviam casado tinham um lugar na administração da companhia:
Walther Gassner, que se casara com Anna Roffe; Ivo Palazzi, casado com Simonetta
Roffe; Charles Martel, casado com Hélsne Roffe e Alec Nichols, cuja mãe fora uma
Roffe. Rhys fora assim forçado a tomar uma decisão. Sabia que merecia fazer
parte da administração e que um dia dirigiria tudo. As circunstâncias actuais
impediam isso, mas elas podiam ser alteradas.
Rhys tinha decidido continuar à
espera, para ver o que acontecia. Sam lhe ensinara a ser paciente. E agora Sam
estava morto. As luzes do escritório acenderam-se de novo e Hajib Kafir
apareceu à porta. Kafir era o gerente de vendas da Roffe and Sons na Turquia.
Era um homem baixo e moreno, que usava diamantes e uma barriga gorda com
atributos de prestígio pessoal. Tinha o ar desmazelado de um homem que se
vestia as pressas. Sophie não o encontrara, portanto, numa boite. Outro efeito
secundário da morte de Roffe, pensou Rhys: um coito interrompido. Rhys!, exclamou
Kkafir. Nunca imaginei que ainda estivesse em Istambul!
Quando
o deixei, ia tomar o avião e, como eu tinha alguns casos para resolver... Sente-se,
Hajib, e ouça com muita atenção. Quero que mande quatro telegramas no código da
companhia. São para países diferentes. Quero que sejam levados pessoalmente
para o telégrafo por mensageiros de confiança. Entendeu? É claro, disse Kafir,
espantado. Entendi perfeitamente. Rhys olhou para o fino relógio de ouro Baume
& Mercier que tinha no pulso. A agência da Cidade Nova já está fechada.
Passe os telegramas pelo Yeni Posthane Cad. Quero que estejam a caminho dentro
de trinta minutos. Entregou a Kafir uma cópia do telegrama que havia redigido.
Qualquer pessoa que fizer algum comentário será sumariamente despedida. Kafir
viu o telegrama, os seus olhos se arregalaram. Meu Deus! Meu Deus! Como pode
acontecer uma coisa dessas? Sam Roffe morreu num acidente, disse Rhys». In
Sydney Sheldon, A Herdeira, Edições ASA, 2018, ISBN 978.989-234-299-3.
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