sábado, 29 de junho de 2019

As Três Sereias. Irving Wallace. «Tenho a impressão de que o seu Easterday não passa de um romancista, dissera ele duas noites antes a Maud. Uma coisa como esta devia ser investigada convenientemente…»

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Cara Dra Hayden
E assim, nessa altura, afirmou-me: Professor Easterday: embora conheça melhor a Oceania do que nós, devo declarar que a nossa experiência em muitos pontos da Terra ensinou-nos que nem tudo foi descoberto, que nem tudo é conhecido, e que a natureza tem maneira de preservar as suas pequenas surpresas. De facto, conheci alguns antropólogos, pessoas que serviram no Pacífico durante a Segunda Guerra Mundial, que me confessaram terem descoberto, por acaso, pelo menos meia dúzia de ilhas desconhecidas, habitadas por tribos primitivas, que não constavam dos mapas existentes.
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«(…) Dos quatro membros da família Hayden, quatro membros, isto é, se se contasse a sempre sorridente Suzu, a empregada japonesa, Claire Emerson Hayden fora, conforme ela própria pensava, a menos afectada, na rotina diária, pela carta de Easterday, recebida cinco semanas antes. A transformação da sogra, Maud (Claire ainda a achava tão extraordinária, após quase dois anos, para chamá-la de Matty), fora a mais acentuada. Maud sempre estivera ocupada, alardeando a sua eficiência, mas nas últimas cinco semanas tornara-se muito mais ativa, fazendo o trabalho de dez pessoas. E mais do que isso, aos próprios olhos de Claire mostrava-se cada vez mais jovem, enérgica, criadora. Claire imaginava que ela se encontrava agora como devia ter sido no auge do seu vigor físico, quando Adley era seu colaborador. Ao pensar nisso, Claire, agora mergulhada até aos ombros no seu voluptuoso banho de espuma, abriu, com a palma da mão, um caminho em forma de leque através da espuma. Permitiu que o seu espírito se detivesse no Dr. Adley R. Hayden, de quem se recordava agora imprecisamente. Vira-o duas vezes antes do seu casamento, quando Marc a trouxera a Santa Bárbara para participar de reuniões mundanas, e impressionara-a bastante aquele erudito alto, curvado, um pouco barrigudo, com a sua ironia seca, os seus vastos conhecimentos e a sua compreensão. Apesar de Marc tartamudear na presença do pai, de provocar com frequência a sua ironia e de ser por ele menosprezado com demasiada facilidade com um leve ridículo, ela sentira-se impressionada pela autoridade de Adley. Sempre pensara ter deixado de si uma impressão pouco lisonjeira, embora Marc lhe tivesse garantido que o pai a achara uma coisinha bastante bonita. Com frequência desejava ter significado mais alguma coisa para Adley; porém, uma semana depois do seu segundo encontro, ele morrera subitamente de um ataque de coração, e, no além, estava certa, seria ainda considerada por ele apenas uma coisinha bastante bonita.
As bolhas de sabonete tinham-se amontoado novamente diante do corpo de Claire, que, ainda divagando, começou a alisá-las. A sua mente errava, sabia, e tentava recordar-se daquilo em que pensara. Por fim recordou-se: a carta de Easterday, recebida cinco semanas antes, e o efeito que produzira em todos eles. Maud mantinha-se numa actividade febril, sim. E Marc achava-se mais ocupado agora, mais concentrado (se isso era possível), mais nervoso, queixando-se cada vez mais de pequenos contratempos, mas acima de tudo perguntando-se se era prudente, se valia a pena, fazerem aquela viagem de estudo. Tenho a impressão de que o seu Easterday não passa de um romancista, dissera ele duas noites antes a Maud. Uma coisa como esta devia ser investigada convenientemente antes de desperdiçarmos todo este tempo e dinheiro. Maud tratara-o como sempre o tratara, com a infinita paciência e a afeição de todas as mães para com os seus filhos precoces. Maud defendera a integridade de Easterday e explicara que as circunstâncias não permitiam qualquer investigação, recordando o seu faro quando se tratava de um cometimento de onde se podiam esperar bons resultados, produto não só do seu instinto como da sua experiência.
Como habitualmente, quando era derrotado pelos argumentos da mãe, Marc batera em retirada e mergulhara no trabalho. Somente a rotina de Claire não parecera afectada pelo recente acontecimento. Havia agora mais trabalho de dactilografia e arquivo para fazer, mas isso não preenchia suficientemente o seu tempo. Todas as manhãs, porém, podia demorar-se no seu banho quente, ler ao café, consultar Maud, fazer o trabalho do costume e participar depois, com as jovens esposas de outros professores, de uma partida de ténis, tomar chá na sua companhia ou assistir a uma conferência». In Irving Wallace, As Três Sereias, Livros do Brasil, coleção Dois Mundos, 2000, ISBN: 978-972-381-025-7.

Cortesia de LBrasil/DMundos/JDACT