jdact
[…]
Cara
Dra Hayden
E
assim, nessa altura, afirmou-me: Professor Easterday: embora conheça melhor a
Oceania do que nós, devo declarar que a nossa experiência em muitos pontos da
Terra ensinou-nos que nem tudo foi descoberto, que nem tudo é conhecido, e que
a natureza tem maneira de preservar as suas pequenas surpresas. De facto,
conheci alguns antropólogos, pessoas que serviram no Pacífico durante a Segunda
Guerra Mundial, que me confessaram terem descoberto, por acaso, pelo menos meia
dúzia de ilhas desconhecidas, habitadas por tribos primitivas, que não constavam
dos mapas existentes.
[…]
«(…) Dos quatro membros da família Hayden, quatro membros,
isto é, se se contasse a sempre sorridente Suzu, a empregada japonesa, Claire
Emerson Hayden fora, conforme ela própria pensava, a menos afectada, na rotina
diária, pela carta de Easterday, recebida cinco semanas antes. A transformação
da sogra, Maud (Claire ainda a achava tão extraordinária, após quase dois anos,
para chamá-la de Matty), fora a mais acentuada. Maud sempre estivera ocupada,
alardeando a sua eficiência, mas nas últimas cinco semanas tornara-se muito
mais ativa, fazendo o trabalho de dez pessoas. E mais do que isso, aos próprios
olhos de Claire mostrava-se cada vez mais jovem, enérgica, criadora. Claire
imaginava que ela se encontrava agora como devia ter sido no auge do seu vigor
físico, quando Adley era seu colaborador. Ao pensar nisso, Claire, agora
mergulhada até aos ombros no seu voluptuoso banho de espuma, abriu, com a palma
da mão, um caminho em forma de leque através da espuma. Permitiu que o seu
espírito se detivesse no Dr. Adley R. Hayden, de quem se recordava agora
imprecisamente. Vira-o duas vezes antes do seu casamento, quando Marc a
trouxera a Santa Bárbara para participar de reuniões mundanas, e
impressionara-a bastante aquele erudito alto, curvado, um pouco barrigudo, com a sua ironia seca, os
seus vastos conhecimentos e a sua compreensão. Apesar de Marc tartamudear na
presença do pai, de provocar com frequência a sua ironia e de ser por ele
menosprezado com demasiada facilidade com um leve ridículo, ela sentira-se
impressionada pela autoridade de Adley. Sempre pensara ter deixado de si uma
impressão pouco lisonjeira, embora Marc lhe tivesse garantido que o pai a
achara uma coisinha bastante bonita. Com frequência desejava ter significado
mais alguma coisa para Adley; porém, uma semana depois do seu segundo encontro,
ele morrera subitamente de um ataque de coração, e, no além, estava certa,
seria ainda considerada por ele apenas uma coisinha bastante bonita.
As bolhas de sabonete tinham-se amontoado novamente diante
do corpo de Claire, que, ainda divagando, começou a alisá-las. A sua mente
errava, sabia, e tentava recordar-se daquilo em que pensara. Por fim
recordou-se: a carta de Easterday, recebida cinco semanas antes, e o efeito que
produzira em todos eles. Maud mantinha-se numa actividade febril, sim. E Marc
achava-se mais ocupado agora, mais concentrado (se isso era possível), mais
nervoso, queixando-se cada vez mais de pequenos contratempos, mas acima de tudo
perguntando-se se era prudente, se valia a pena, fazerem aquela viagem de
estudo. Tenho a impressão de que o seu Easterday não passa de um romancista,
dissera ele duas noites antes a Maud. Uma coisa como esta devia ser investigada
convenientemente antes de desperdiçarmos todo este tempo e dinheiro. Maud
tratara-o como sempre o tratara, com a infinita paciência e a afeição de todas
as mães para com os seus filhos precoces. Maud defendera a integridade de
Easterday e explicara que as circunstâncias não permitiam qualquer
investigação, recordando o seu faro quando se tratava de um cometimento de onde
se podiam esperar bons resultados, produto não só do seu instinto como da sua
experiência.
Como
habitualmente, quando era derrotado pelos argumentos da mãe, Marc batera em
retirada e mergulhara no trabalho. Somente a rotina de Claire não parecera afectada
pelo recente acontecimento. Havia agora mais trabalho de dactilografia e
arquivo para fazer, mas isso não preenchia suficientemente o seu tempo. Todas
as manhãs, porém, podia demorar-se no seu banho quente, ler ao café, consultar
Maud, fazer o trabalho do costume e participar depois, com as jovens esposas de
outros professores, de uma partida de ténis, tomar chá na sua companhia ou
assistir a uma conferência». In Irving
Wallace, As Três Sereias, Livros
do Brasil, coleção
Dois Mundos, 2000, ISBN: 978-972-381-025-7.
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