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«[…]
Coitado de mim, cuitado,
pois meu mal não se amansa
com choro nem com cuidado!
Quem diz que o chorar descansa
é de ter pouco chorado;
que, quando as lágrimas são
por igual da causa delas,
virá descanso por elas;
mas como descansar hão,
pois que são mais as querelas?
Com tudo, olhos de quem
não vive fazendo al,
chorai mais que os de ninguém,
que o que é para maior mal
tenho já para maior bem.
Lágrimas, manso e manso,
prossigam em seu ofício:
que não façam benefício:
não
servindo de descanso,
servirão
de sacrefício.
Minhas
lágrimas cansadas,
sem
descanso nem folgança,
a
minha triste lembrança
vos
tem tam aviventadas
como
morta a esperança.
Correi
de toda vontade,
que
esta vos não faltará.
Mas
isto como será?
Pedi-la-ei
à saudade,
e
a saudade ma dará.
Todos
os contentamentos
da
minha vida passarom,
e
em fim não me ficarom
senão
descontentamentos
que
de mim se contentarom.
Destes,
polo meu pecado,
(inda
que nunca pequei
a
e quem amo e amarei),
nunca
desacompanhado
me
vejo nem me verei.
Faz-me
esta desconfiança
ver
meu remédio tardar,
e
já agora esperar
não
ousa minha esperança,
por
me mais não magoar.
Se
por isto desmereço,
dê-se-me
a culpa assim
e
seja só com a fim,
que
há muito que me conheço
aborrecido
de mim».
[…]
In
Cristóvão Falcão, Crisfal, Coleção Textos Literários, Biblioteca Virtual do
Estudante de Língua Portuguesa, 2ª. Edição, Lisboa, 1962.
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