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Filósofos
Orientais
«(…) Esta, uma das razões da pobreza das nossas comunidades onde
as mulheres chegam a duplicar em número os homens sem contribuírem para as
actividades necessárias. Ibn al-Arabi, Abu Abd Allah Muhammad b. Ali b. Muhammad
b. Al-Arabi al-Hatimi Al-Tai (Murcia 1165-Damasco 1240). Um dos mais destacados
representantes dos sufis. Estudou em Sevilha e foram seus mestres alguns sufis
do Gharb al-Ândalus como Al-Oriani de Loulé e Abu Imran al-Mertuli, o de
Mértola. A fim de aprofundar a sua experiência mística viajou para Túnis e daí
para Meca, Bagdad, Konia na Anatólia até se fixar em Damasco onde decorreu o
resto dos seus dias.
Atribuem-lhe cerca de
300 obras poéticas e religiosas, na principal das quais, As Iluminações da Meca (al-Futuhat al-Makkiyya),
dedica 560 capítulos ao estudo das manifestações do conhecimento místico. Noutra
obra, As Conexões da Sabedoria
(Fusus al-Hikam), considera que, de Adão a Maomé, os profetas
reflectem a revelação divina e que as suas mensagens assumem diferente significado
consoante a pessoa que a recebe. Mas, no essencial, considera a razão humana
extremamente limitada. No livro Epístola
de Santidade, enviada em 1203 de Meca a um seu amigo de Tunes, fala
dos vícios do sufismo oriental e principalmente do ensino e da influência que
recebeu de cerca de cinquenta mestres e companheiros do Andaluz, entre eles
alguns sufis nascidos em território português.
Poetas Santões e Filósofos do Ocidente do Ocidente
O Gharb al-Ândalus não constituiu uma unidade
acabada e homogénea no todo da civilização islâmica peninsular, no entanto nele
se radicaram as bases e as guarnições militares da chamada Fronteira Inferior;
nele se definiram espaços de rebelião contra o poder central dos emires; nele
se desenharam os reinos de Badajoz e de Sevilha e se definiram algumas
cidades-estado. Sevilha integrava-se no Gharb al-Ândalus. No século XI foi a
capital do reino dos abádidas, que se estendeu de Córdova ao Algarve e ao sul
do Alentejo. Durante o domínio almorávida e almóada tornou-se a capital do
Andaluz. Se tivermos em conta o papel cultural de Sevilha e a sua inserção
geográfica e política, podemos ligar ao Gharb al-Ândalus uma parte substancial
dos pensadores islâmicos peninsulares. Mas não vamos partir o território do
Andaluz a régua e esquadro. A história que nunca definiu completamente o Gharb,
acabou mais tarde por desintegrar o ocidente do ocidente. Assim, neste último
ponto, consideraremos somente os literatos e pensadores originários do actual
território português. Como dissemos, Silves, Santarém, Beja, Faro, Évora,
Lisboa podem orgulhar-se dos seus homens de cultura, das suas escolas e de
ousarem brilhar durante algum tempo como estrelas secundárias integradas no
todo peninsular. Por outro lado, este Islão hispânico pulsava em sintonia, certamente
desigual, com todo o mundo islâmico, em particular com os grandes centros
orientais. O sunismo medinense chegou bastante cedo a Córdova. Mas a filosofia,
olhada com desconfiança ou perseguida por alfaquis e ulemas, pulsava com
atraso. Segundo Miguel Cruz Hernández, a primeira citação fiável de Al-Kindí
(século IX) cabe a Ibn Hazm (século X) e a de Al-Farabí (primeira metade do
século X) a Ibn al-Sid (segunda metade do século XI e princípios do século
XII), precisamente dois filósofos originários do Gharb al-Ândalus». In
António Borges Coelho, Tópicos para a
História da Civilização e das Ideias no Gharb al-Ândalus, Instituto
Camões, Colecção Lazúli, 1999, IAG-Artes Gráficas, ISBN 972-566-205-9.
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