segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

Ordem de Santiago. Paio Peres Correia. «Nascido durante a primeira década do século XIII, talvez ainda antes de 1210, Paio Peres Correia provinha de uma linhagem nobre de nível médio, mas profundamente ligada aos meios cortesãos. Natural da zona de Braga, provavelmente da região de Basto…»

Cortesia de wikipedia

Paio Peres Correia. Os freires de Leão… Os freires de Palmela
«Chegada a Portugal em 1172, apenas dois anos depois da sua fundação em Cáceres, a Ordem de Santiago, onde virá a militar Paio Peres Correia, é imediatamente incumbida por Afonso Henriques da defesa do castelo de Monsanto, recentemente abandonado pelos Templários, incapazes de fazer frente às incursões muçulmanas. No ano seguinte recebe também o castelo de Abrantes, uma decisão que tinha, entre outros, o objectivo de a afastar da fronteira leste, reflexo da desconfiança com que era vista pelo rei a presença em território português de uma força militar composta essencialmente por freires naturais do reino de Leão. Ainda assim, recebem também, muito provavelmente antes de 1175, as praças-fortes de Almada e de Alcácer, situadas numa zona recentemente conquistada e de enorme importância estratégica para a defesa de Lisboa. Esta primeira vaga santiaguista teve, no entanto, uma duração efémera que culminou em 1179 com a sua expulsão e com o confisco das fortalezas que tutelavam em território português, uma decisão de Afonso Henriques desencadeada em resposta ao apoio militar que haviam prestado a Fernando II de Leão na guerra contra Portugal, em particular, na Batalha de Arganal, ferida no Verão desse ano.
A implantação definitiva dos Espatários, como são igualmente designados os freires da Ordem de Santiago da Torre e Espada, em Portugal ocorre, pois, apenas no reinado de Sancho I, altura em que regressam à Península de Setúbal. Recebem então do rei, em 1186, o castelo de Palmela, bem como uma nova doação de Alcácer e de Almada, desta feita em recompensa pelo auxílio prestado em 1184 pelos Santiaguistas leoneses por ocasião do cerco almóada a Santarém. Contudo, também aí a presença da Ordem foi de curta duração, já que a campanha de al-Mansur de 1191veio colocar novamente toda a região a sul do Tejo, à excepção de Évora, sob a bandeira do Islão. Fortalezas de maior importância estratégica, como Alcácer, foram mantidas e ocupadas por guarnições muçulmanas, enquanto todas as outras cuja defesa não era possível assegurar acabaram, como Almada e Palmela, por ser arrasadas.
No entanto, em data próxima de 1193-1194, estas duas últimas praças-fortes, ou o que delas restava, estão já, de novo, na posse da Ordem que, em 1210, instala o seu convento em Palmela, convertida assim numa autêntica lança apontada ameaçadoramente a Alcácer que, em 1217, cai também em poder das forças cristãs. Será essa a sua principal base de operações para uma ambiciosa estratégia de expansão territorial ao longo do Alentejo e do Algarve, liderada, a partir de 1232, por Paio Peres Correia.

Passos de gigante
Nascido durante a primeira década do século XIII, talvez ainda antes de 1210, Paio Peres Correia provinha de uma linhagem nobre de nível médio, mas profundamente ligada aos meios cortesãos. Natural da zona de Braga, provavelmente da região de Basto, onde a sua família tinha diversos bens patrimoniais, era um dos sete ou oito filhos de Pedro Pais Correia e de D. Dórdia Peres Aguiar. Tal como Paio Peres, também alguns dos seus irmãos virão a assumir papéis de destaque, tanto em Portugal, como em Castela. João Peres alcançará a dignidade de sub-alferes de Afonso III; Martim Peres e Soeiro Peres desempenharão ambos o cargo de tenente de Aguiar da Pena em 1257; Paio Peres, de alcunha O Alvazarento, participará na conquista de Sevilha, em 1248, tal como Gomes Peres, que virá ainda a obter, em Castela, a tenência do castelo de Cieza.
Mas se, por um lado, as suas origens e enquadramento familiar se encontram relativamente bem esclarecidos, por outro, nada se sabe acerca da forma como passou os primeiros anos da sua vida, já que as fontes são totalmente omissas a esse respeito. Com efeito, Paio Peres Correia só começa a surgir documentado a partir do momento em que ingressa na Ordem de Santiago. Praticamente silenciosas até 1232, as fontes não permitem perceber como, quando e em que contexto se deu a entrada de Paio Peres na Ordem de Santiago, embora a possibilidade de ter professado directamente no convento de Alcácer, e não em Uclés, como chegou a ser sugerido por alguns autores, seja a hipótese que nos parece fazer mais sentido em função da sua naturalidade. Contudo, em virtude da dependência do ramo português da Ordem relativamente à casa-mãe castelhano-leonesa, da qual só se autonomizará definitivamente em inícios do século XIV, era comum assistir-se à transferência de freires de um para o outro lado da fronteira, assim como era corrente serem incumbidos de missões fora do seu reino de origem. E Paio Peres Correia não foi uma excepção a esta regra. Com efeito, em Agosto de 1228, encontramo-lo em Lérida, por altura dos acordos firmados entre o mestre Pedro Gonzalez, de cuja guarda pessoal faria parte, e a condessa Aurembiaix de Urgel, findos os quais permanece na Catalunha durante mais alguns meses, pelo menos até Outubro, na companhia do rei Jaime I de Aragão. Porém, no ano seguinte regressa à fronteira sul, mas não a Portugal, integrando-se nas campanhas leonesas de 1229 e de 1230, durante as quais foram capturadas as praças-fortes de Cáceres, Badajoz e Mérida». In Miguel Gomes Martins, Guerreiros Medievais Portugueses, A Esfera dos Livros, Lisboa, 2013, ISBN 978-989-626-486-4.

Cortesia Esfera dos Livros/JDACT