Cortesia
de wikipedia
A
Mesa
«(…)
E era cousa formosa para ver as mesas como estavam ordenadas, que em cada uma
havia três grandes bacios de iguarias cobertos , e em cima dos dois dos cabos
estavam tendas de damasco branco e roxo, que eram as cores da Princesa; as
tendas eram borladas e muito galantes, com muitas bandeirinhas douradas, e eram
grandes de dez côvados cada uma. E na iguaria do meio estava um castelo de
feição de tríbulo, feito de madeira subtil, e pano de tafetá dourado, que era
muito formosa cousa, e de muito custo. Começaram a comer, e por a infinidade
das iguarias, manjares, conservas, fruitas, que foi como consoada, durou muito
grande espaço. E acabado houver muitos e muitos momos e mui singulares entremeses,
cada vez com mais riquezas, gentileza, e melhores invenções, que duraram até
acerca da manhã.
[…]
O
Traje
O conceito
de moda
é antiquíssimo. Remonta porventura à Pré-História. Mas eram modas simples e
duradouras, essas dos tempos antigos. Só a partir do século XIII a moda se
acelerou, em relação directa com as transformações económicas que o mundo
ocidental conheceu a partir do undécimo século. Essas transformações
caracterizavam-se por um aumento das transacções comerciais, em especial à
distância. No plano social assistiu-se ao nascimento de uma nova classe, a
burguesia. A população concentrou-se nas cidades, que passaram a constituir os
núcleos principais da actividade económica e cultural. Ora, vivendo na cidade,
nobres e burgueses contactaram, directa e quotidianamente, com os outros nobres
e os outros burgueses. A emulação, característica também das actividades
profissionais, foi reflectir-se no vestuário. Ao sair da igreja, ao tomar
assento na assembleia camarária, ao participar nas festividades da sua cidade,
o burguês sentia sempre o desejo de superar o seu concidadão. Pretendia chamar
a atenção sobre si através da qualidade de tecido que envergava e da forma como
o talhava. Queria, em suma mostrar-se diferente, mais rico, e mais belo. Foi aformosear-se,
e à família, como aformoseou a casa pelos móveis que adquiriu e as tapeçarias
que a revestiram. Por outro lado, o nascimento da vida de corte pôs os nobres
em presença uns dos outros e suscitou também neles competição na aparência.
Mas
a moda, no sentido de variedade, surgiu igualmente das novas condições da
produção. Antes do século XI, os tecidos fabricados no ocidente da Europa
obedeciam a uma relativa uniformidade. As diferenças de qualidade existiam, é
certo, mas em grau muito menor. A tradição romana nem mesmo tingia as peças de
lã ou de linho fiadas, que se talhavam e vestiam em sua cor natural. Ora, o
desenvolvimento da indústria têxtil, cujos centros principais foram a Flandres,
o norte de Itália e, um pouco mais tarde, a Inglaterra, trouxe consigo a
fabricação de numerosíssimas qualidades de panos. São dezenas e dezenas de
tecidos diversos que os documentos dos séculos XIII, XIV e XV nos revelam. Cada
cidade possuía, praticamente, o seu tipo de pano especial, de cujo fabrico só
ela conhecia o segredo que ciosamente guardava. Lãs mais ou menos espessas,
mais ou menos finas, riscadas ou lisas, com adornos e bordados, se produziam,
exportavam e utilizavam para a confecção dos variados trajes». In A.
H. Oliveira Marques, A Sociedade Medieval Portuguesa, Aspectos da Vida
Quotidiana, a Esfera dos Livros, 2010, ISBN 978-989-626-241-9.
Cortesia
de E. dos Livros/JDACT