quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Entre duas civilizações. O universo de leituras em Wenceslau Moraes. Maria Margarida Capitão. « torturado pela realidade e pelo seu próprio carácter, instável, angustiado, algo mórbido, céptico, solitário, um tanto provinciano, […] insatisfeito e inseguro, mas extremamente crítico, […] numa luta que se adivinha de corrosão, desgaste e de desilusão quotidiana»

Cortesia de wikipedia

Introdução. Entre Duas Civilizações. A Entrega a Esse Outro que me torno EU
A Estrutura
«(…) O Quinto Capítulo é dedicado aos sentimentos da Saudade e do Exílio, recorrentes durante toda a sua vida, ganhando maior expressividade a partir de 1912, data da morte da sua amada O-Yoné. No Sexto Capítulo faz-se a apresentação de Wenceslau enquanto humanista e elo de ligação entre duas culturas totalmente opostas, não só geograficamente, mas quanto à religião, costumes, língua, hábitos e valores. Por último, o Sétimo Capítulo, dedicado às considerações finais e onde são apresentadas as possíveis respostas às questões sobre a importância da escrita-documentário no ensino da língua e cultura portuguesas e qual o significado do acto de ensinar. Devemo-nos então entregar ao estudo da sua obra, cuja escrita é altamente subjectiva e que nos faz mergulhar nesse mundo distante e desconhecido, de costumes e de linguagem estranhos ao homem ocidental.

Estado da Arte
A principal fonte de documentação na presente dissertação é sem dúvida o conjunto de obras do autor em estudo. Wenceslau apresenta um tão vasto leque de temas na sua produção literária, que esta é por si fonte essencial nas problemáticas levantadas. No entanto, e devido ao valor de Moraes nas relações diplomáticas e culturais entre Portugal e o Japão, são diversos os autores portugueses e estrangeiros que o referem nos seus estudos e investigações. Do Japão chegam-nos quase todas as obras de Moraes traduzidas pelo professor Tomizo Hanano: O Bon-Odori em Tokushima, sob o título Tokushima no Bon Odori (Tóquio, 1935), Serões no Japão, sob o título Nihon Yobanashi (Tóquio, 1936), O-Yoné e Ko-Haru, sob o título O-Yone to Koharu (Tóquio, 1936), Traços do Extremo oriente, sob o título Kyokuto Yuki (Tóquio, 1941), Relance da História do Japão, sob o título Moraes Nihon Rekishi (Tóquio, 1942), Dai Nippon (Tóquio, 1942) e Relance da Alma Japonesa (Nihon Seishin) em 1944 e reeditada em 1954. Esta é seguida de um posfácio sobre A Vida de Moraes (Moraesno Shogai). Hanano escreveu também uma biografia de Wenceslau, intitulada Nihonjin Moraesu (O Japonês Moraes), em 1940. São vários os investigadores japoneses que participam em traduções conjuntas, em artigos e estudos sobre Wenceslau e sobre a presença dos portugueses no Oriente, como Jitsuo Tsukuda, Minako Nonoyama, Katsura Shobo, Kazuo Okamoto, e muitos outros.
Sobre a influência dos portugueses no Oriente, a sua presença e as questões históricas, culturais, humanas, diplomáticas e económicas, surgem diversos estudos a nível nacional. Autores como Armando Martins Janeira, Maria de Deus Manso, João Cosme, José Alberto Leitão Barata, Ana Paula Laborinho, Danilo Barreiros, entre outros, cuja consulta foi imprescindível param a recolha de dados e para uma maior compreensão da história e das ideias no encontro de duas culturas tão diferentes. De entre os nomes citados, tiveram maior relevância para o presente estudo Armando Martins Janeira e Danilo Barreiros, por uma questão de cumplicidade de experiência de vida, da viagem, da permanência no Oriente, do contacto com o Outro e da partilha que vai mais além e que permanece no coração daquele que viaja e se descobre num outro mundo, tal como em Wenceslau, e que contribuem para o desenvolvimento cultural e humano fazendo um elo de ligação entre o Ocidente e o Oriente. Danilo Barreiros, um dos fundadores da Casa de Macau, fez uma excelente abordagem da vida privada e particular de Moraes pela compilação da troca de correspondência que efectuou com João Sousa Moraes, filho do autor, durante a década de 1940. Sobre o mesmo, escreve na sua obra A Paixão Chinesa de Wenceslau de Moraes, que este viveu torturado pela realidade e pelo seu próprio carácter, instável, angustiado, algo mórbido, céptico, solitário, um tanto provinciano, profundamente saudosista e passivo, insatisfeito e inseguro, mas extremamente crítico, arguto, mordaz e sensível, numa luta que se adivinha de corrosão, desgaste e de desilusão quotidiana. Também Danilo Barreiros embarcou num navio rumo ao oriente, com o sentimento de ânsia de fuga comum aos aventureiros. Durante 15 anos viveu em Macau (1931 - 1946), de regresso a Lisboa com mulher e filhos entregou-se ao estudo de Direito, exerceu advocacia, e apesar da distância física o seu espírito esteve sempre em Macau». ». In Maria Margarida Silva Faria Capitão, Entre duas civilizações. O universo de leituras em Wenceslau de Moraes, Dissertação de Mestrado, 2011, Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Universidade Nova de Lisboa, 2012.

Cortesia de FCSH/JDACT