Cortesia de wikipedia
Nas pisadas do pai
«(…) E como resultado da experiência naval obtida no âmbito das actividades
comerciais em que sempre esteve envolvido, em finais de Junho de 1423 é escolhido por João I, de quem
era já vassalo, para ocupar o lugar de capitão-mor da frota (ou do Mar),
sucedendo assim ao célebre Afonso Furtado. Segundo o regimento respectivo,
inserido nas Ordenações Afonsinas, o cargo conferia-lhe autoridade sobre os patrões,
alcaides, arraizes petintais e comitres, besteiros, galiotes e marinheiros dos
navios, sobre os quais exercia jurisdição, mas apenas quando a frota estivesse
no mar; e fazia dele o responsável pela mobilização dos navios (caravelas,
barcas, batéis, etc...), bem como de todos os mareantes que fossem considerados necessários para as
operações militares navais. Certamente que esta nomeação terá contribuído para
aumentar ainda mais o prestígio de que já gozava, em particular na cidade de
Lisboa, onde a sua linhagem era, apesar do caso
Malafaia, uma das mais respeitadas. Isso é algo que se encontra bem
expresso no facto de, em 1424, ser
precisamente Álvaro Vaz, à frente de, toda
a nobreza que aí havia, que irá receber o capitão-mor de Ceuta, Pedro
de Meneses, quando este regressa a Portugal pela primeira vez desde 1415, indo ao seu encontro a bordo de
um navio e escoltando-o até à Ribeira, onde desembarca em ambiente de festa e a
partir de onde é conduzido, em autêntica procissão, até à Sé da capital. Figura
próxima do infante Pedro, por quem,
recorde-se, tinha sido armado cavaleiro, não admira pois que Álvaro Vaz o tenha acompanhado no
périplo de três anos por diversos cantos da Europa e cujo destino final eram os
territórios imperiais. Era precisamente aí que Pedro, ao comando de uma companhia de 300 homens, iria colocar-se
ao serviço do imperador Segismundo. E tê-lo-á feito a troco de uma remuneração,
ao que parece previamente estabelecida, como sublinha o futuro papa Pio II nas
obras Europa e De Viribus lllustribus, circunstância que parece
corroborar a natureza verdadeiramente mercenária deste serviço militar.
Distribuídos por diversas embarcações, os portugueses tinham como primeiro
destino o porto de Plymouth, em Inglaterra, onde aportaram em Setembro de 1425, voltando a cruzar o Canal da
Mancha e o Mar do Norte, a partir de Dover, em direcção à Flandres, onde
se encontravam já em Dezembro desse mesmo ano, altura em que o infante escreveu
ao seu irmão Duarte a famosa Carta de
Bruges. Em Janeiro seguinte retomam a viagem, entrando nos territórios
imperiais em Fevereiro e passando então por Colónia, Frankfurt, Nuremberga e
Ratisbona, tendo a chegada a Viena ocorrido em finais do mês de Março de 1426. É aí que estas três centenas de
combatentes portugueses, a maior parte dos quais trajados com uma libré branca
que ostentava uma cruz vermelha, irão permanecer durante cerca de dois anos, ao
longo dos quais participarão em diversas campanhas militares. A primeira de
todas, integrada na guerra contra os Hussitas, parece ter sido o cerco a Breclav,
no sul da Boémia, iniciado logo em Agosto de 1426 e conduzido pelo genro do imperador, o duque Alberto de
Habsburgo, mas que acabou por ser levantado em finais de Novembro em virtude da
aproximação de um grande exército inimigo. Os portugueses voltam a entrar em
combates, desta feita, junto da fronteira sul da Hungria e já sob o comando do
imperador, contra os exércitos turcos de Murat II. Contudo, os mercenários de Pedro ficarão às ordens do famoso condottieri Filippo Scolari, sob a
liderança de quem, em Dezembro desse mesmo ano, irão defrontar e derrotar os
turcos nas margens do Danúbio, num local próximo do castelo de Galambocz.
O infante Pedro, Álvaro Vaz de Almada e os restantes portugueses regressam
então a Viena, onde a sua presença está documentada nos últimos dias de 1426, altura em que o imperador
preparava já uma nova ofensiva, desta feita em auxílio do rei da Valáquia, e
contra as forças de Vaivoda Radu II, que contava com o apoio dos turcos. Da
campanha pouco se conhece, sendo mesmo possível que algumas das acções então
levadas a cabo tenham sido comandadas pelo próprio Pedro, sabendo-se apenas que terminou, com sucesso, em finais de
Abril ou inícios de Maio de 1427. As
fontes não fornecem qualquer indicação relativa ao que se terá passado durante
os meses seguintes com os mercenários de Pedro,
sendo admissível a sua participação em algumas das ofensivas que decorreram,
essencialmente, na região em torno de Belgrado ao longo desse mesmo ano de 1427». In Miguel Gomes Martins,
Guerreiros Medievais Portugueses, A Esfera dos Livros, Lisboa, 2013, ISBN
978-989-626-486-4.
Cortesia Esfera dos Livros/JDACT