Profecias, oráculos e
adivinhações. Porque o homem deseja conhecer o futuro?
Este livro é para
poucos, talvez só para os mais loucos...
«Desde os seus
primórdios, a humanidade tem manifestado uma grande curiosidade acerca do
amanhã, do futuro, e tem tido a preocupação de descobrir se os deuses ou os elementos
da natureza serão propícios, se naquele ano haverá uma colheita fértil, se
haverá prosperidade, se os inimigos serão vencidos, etc. A nível individual,
toda uma extensa relação de preocupações semelhantes tem levado os homens de
todas as épocas a procurarem adivinhos, oráculos, feiticeiros, astrólogos,
etc., os quais, para responderem a tais questões, têm apelado para toda uma
parafernália de objectos de adivinhação, ou usado os métodos mais incomuns para
conseguirem o seu intento. As consultas às cartas, aos dados, aos astros, a
procura de sinais ou prognósticos nos elementos da natureza, nos sonhos, nos
animais vivos ou em suas vísceras, tem ocupado grandemente o tempo dos adivinhos
e dos homens interessados em saber a sua sina. Esta preocupação com o futuro
tem ocupado a imaginação dos homens há tanto tempo que chegou até mesmo a
interferir nas suas relações com o mundo e com o deus ou os deuses de sua
veneração, adoração ou temor. Esta relação conduziu a uma religiosidade estranha,
quase sempre dominada por complexos sentimentos de culpa, onde o deus ou deuses
predominantes adquirem uma qualidade paterna dominadora e temível e manifestam sentimentos
tipicamente humanos, tais como o ciúme, a raiva, o rancor e o desejo de vingança,
bem como um sentimento de exclusividade tão forte que, se não encontrar correspondência,
o homem será condenado aos abismos infernais por toda a eternidade, ou então
todo o mundo será destruído em razão do não cumprimento, pelos homens, de suas promessas
a esse deus exclusivista.
Povos eleitos, deuses
falsos ou verdadeiros, religiões falsas ou verdadeiras, são questões que tem
afectado a vida de toda a humanidade, desde os tempos mais recuados. Muito
sangue foi derramado, povos e pessoas foram sacrificadas, inconcebíveis
carnificinas marcaram a história do mundo em razão desses sentimentos
religiosos exclusivistas, onde cada povo arrogava a si o direito de impor ao
seu vizinho a sua visão particular da religião. Por outro lado, o temor à fúria
divina marcou igualmente o inconsciente colectivo de alguns povos, que
procuravam por todos os meios aplacá-la. Era comum, entre os povos mais antigos,
o chamado sacrifício propiciatório, em que animais e até seres
humanos eram sacrificados para conseguir os benefícios da divindade. Este
costume também era comum entre os povos da América Central, e só foi erradicado
após a conquista espanhola.
Entre os antigos judeus
o receio que o mundo fosse destruído era tão grande, que fez-se necessário
estabelecer uma aliança com Deus para que Ele não o destruísse novamente,
após tê-lo feito uma vez através do Dilúvio. Tal aliança, que representava uma promessa
divina, não bastou, entretanto, para aplacar o sentimento de insegurança e
garantir que o mundo não estaria condenado à destruição; talvez por esta razão,
ela teria que ser guardada e renovada, e até mesmo reformada. A história
eclesiástica da Igreja Católica é igualmente marcada por uma preocupação
escatológica (escatologia é a parte da teologia que investiga as partes
finais da vida humana e do mundo: a morte, o juízo universal, o fim do mundo),
a qual originou-se dos profetas e dos livros bíblicos, principalmente o Apocalipse
de São João. Durante a Idade Média, muito da preocupação dos doutores
da Igreja foi acerca das relações futuras entre o mundo e a divindade, como se
pode ver, por exemplo, na obra de Santo Agostinho, A Cidade de Deus.
Esta preocupação escatológica chegou ao ponto de influenciar o imaginário
popular, que, por volta do final do primeiro milênio, foi até o clímax do desvario,
com muita gente acreditando que o mundo iria acabar.
O profetismo, que no
fundo é também uma forma de prever o futuro, permeia principalmente o Antigo
Testamento da Bíblia. Devido ao seu carácter fortemente negativo, em que
apresenta uma imagem vindoura de desastres e calamidades de todo tipo, a
maioria das religiões ou seitas que derivaram do catolicismo passou a ter como
característica primordial um carácter restritivo, inibidor de quaisquer actos
humanos mundanos ou seculares, os quais trariam somente a ruína e a morte
espiritual, que surgiriam em consequência das iniquidades humanas. Os profetas
bíblicos, muito mais do que intérpretes do futuro (algo impensável para quem
não possuía o conceito de história e de evolução), eram na verdade
intérpretes da vontade divina, e como tal se comportavam, quando se dirigiam
aos seus contemporâneos. Também quando se procurava saber qual eram os desígnios
de Deus, o profeta, ou vidente, era procurado com este objectivo, conforme se pode
ler em Samuel (Primeiro Livro dos Reis): Antigamente em Israel,
quem fosse consultar a Deus, dizia: Venha, vamos ao vidente. Porque o que hoje
[à época] se chama profeta, era então chamado vidente. Mas
não é apenas no Antigo Testamento que se fazem referências aos profetas. Paulo,
o apóstolo, escreveu: Segui a caridade, procurai com zelo os dons do
espírito, e acima de todos, os da profecia. A profecia, então, seria
uma manifestação e um chamado de Deus, conforme diz Amós: E o
Senhor me pegou, quando eu conduzia meu rebanho, e falou-me: Vai, profetiza ao
meu povo de Israel.
Sob um ponto de vista
moderno, a profecia pode ser considerada como uma manifestação desconhecida do
psiquismo, ou um fenómeno PSI. Talvez os conhecimentos proféticos estejam naquela
região misteriosa da psique chamada por Jung de inconsciente colectivo. A profecia está além da lógica, situando-se
numa dimensão simbólica com a qual a psique entraria eventualmente em contacto;
entretanto, a mente se perde ao tentar seguir e compreender os infinitos
meandros desta terra desconhecida, permeada de figuras mitológicas e arquétipos
incompreensíveis. Os profetas, antigos e modernos, mais do que figuras
religiosas, são desbravadores de um terreno desconhecido e misterioso, que, se
num futuro distante poderá ser morada de todos, por enquanto continua sendo
apenas uma terra incógnita». In Luís Gonzaga Alvarenga, O Segredo das
Profecias, Ocultismo, Wikipédia, 1996-2006.
Cortesia de
Wikipedia/JDACT