quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

O Segredo das Profecias Luís G. Alvarenga. «… que representava uma promessa divina, não bastou, entretanto, para aplacar o sentimento de insegurança e garantir que o mundo não estaria condenado à destruição; talvez por esta razão, ela teria que ser guardada e renovada, e até mesmo reformada»

Cortesia de wikipedia

Profecias, oráculos e adivinhações. Porque o homem deseja conhecer o futuro?
Este livro é para poucos, talvez só para os mais loucos...

«Desde os seus primórdios, a humanidade tem manifestado uma grande curiosidade acerca do amanhã, do futuro, e tem tido a preocupação de descobrir se os deuses ou os elementos da natureza serão propícios, se naquele ano haverá uma colheita fértil, se haverá prosperidade, se os inimigos serão vencidos, etc. A nível individual, toda uma extensa relação de preocupações semelhantes tem levado os homens de todas as épocas a procurarem adivinhos, oráculos, feiticeiros, astrólogos, etc., os quais, para responderem a tais questões, têm apelado para toda uma parafernália de objectos de adivinhação, ou usado os métodos mais incomuns para conseguirem o seu intento. As consultas às cartas, aos dados, aos astros, a procura de sinais ou prognósticos nos elementos da natureza, nos sonhos, nos animais vivos ou em suas vísceras, tem ocupado grandemente o tempo dos adivinhos e dos homens interessados em saber a sua sina. Esta preocupação com o futuro tem ocupado a imaginação dos homens há tanto tempo que chegou até mesmo a interferir nas suas relações com o mundo e com o deus ou os deuses de sua veneração, adoração ou temor. Esta relação conduziu a uma religiosidade estranha, quase sempre dominada por complexos sentimentos de culpa, onde o deus ou deuses predominantes adquirem uma qualidade paterna dominadora e temível e manifestam sentimentos tipicamente humanos, tais como o ciúme, a raiva, o rancor e o desejo de vingança, bem como um sentimento de exclusividade tão forte que, se não encontrar correspondência, o homem será condenado aos abismos infernais por toda a eternidade, ou então todo o mundo será destruído em razão do não cumprimento, pelos homens, de suas promessas a esse deus exclusivista.
Povos eleitos, deuses falsos ou verdadeiros, religiões falsas ou verdadeiras, são questões que tem afectado a vida de toda a humanidade, desde os tempos mais recuados. Muito sangue foi derramado, povos e pessoas foram sacrificadas, inconcebíveis carnificinas marcaram a história do mundo em razão desses sentimentos religiosos exclusivistas, onde cada povo arrogava a si o direito de impor ao seu vizinho a sua visão particular da religião. Por outro lado, o temor à fúria divina marcou igualmente o inconsciente colectivo de alguns povos, que procuravam por todos os meios aplacá-la. Era comum, entre os povos mais antigos, o chamado sacrifício propiciatório, em que animais e até seres humanos eram sacrificados para conseguir os benefícios da divindade. Este costume também era comum entre os povos da América Central, e só foi erradicado após a conquista espanhola.
Entre os antigos judeus o receio que o mundo fosse destruído era tão grande, que fez-se necessário estabelecer uma aliança com Deus para que Ele não o destruísse novamente, após tê-lo feito uma vez através do Dilúvio. Tal aliança, que representava uma promessa divina, não bastou, entretanto, para aplacar o sentimento de insegurança e garantir que o mundo não estaria condenado à destruição; talvez por esta razão, ela teria que ser guardada e renovada, e até mesmo reformada. A história eclesiástica da Igreja Católica é igualmente marcada por uma preocupação escatológica (escatologia é a parte da teologia que investiga as partes finais da vida humana e do mundo: a morte, o juízo universal, o fim do mundo), a qual originou-se dos profetas e dos livros bíblicos, principalmente o Apocalipse de São João. Durante a Idade Média, muito da preocupação dos doutores da Igreja foi acerca das relações futuras entre o mundo e a divindade, como se pode ver, por exemplo, na obra de Santo Agostinho, A Cidade de Deus. Esta preocupação escatológica chegou ao ponto de influenciar o imaginário popular, que, por volta do final do primeiro milênio, foi até o clímax do desvario, com muita gente acreditando que o mundo iria acabar.
O profetismo, que no fundo é também uma forma de prever o futuro, permeia principalmente o Antigo Testamento da Bíblia. Devido ao seu carácter fortemente negativo, em que apresenta uma imagem vindoura de desastres e calamidades de todo tipo, a maioria das religiões ou seitas que derivaram do catolicismo passou a ter como característica primordial um carácter restritivo, inibidor de quaisquer actos humanos mundanos ou seculares, os quais trariam somente a ruína e a morte espiritual, que surgiriam em consequência das iniquidades humanas. Os profetas bíblicos, muito mais do que intérpretes do futuro (algo impensável para quem não possuía o conceito de história e de evolução), eram na verdade intérpretes da vontade divina, e como tal se comportavam, quando se dirigiam aos seus contemporâneos. Também quando se procurava saber qual eram os desígnios de Deus, o profeta, ou vidente, era procurado com este objectivo, conforme se pode ler em Samuel (Primeiro Livro dos Reis): Antigamente em Israel, quem fosse consultar a Deus, dizia: Venha, vamos ao vidente. Porque o que hoje [à época] se chama profeta, era então chamado vidente. Mas não é apenas no Antigo Testamento que se fazem referências aos profetas. Paulo, o apóstolo, escreveu: Segui a caridade, procurai com zelo os dons do espírito, e acima de todos, os da profecia. A profecia, então, seria uma manifestação e um chamado de Deus, conforme diz Amós: E o Senhor me pegou, quando eu conduzia meu rebanho, e falou-me: Vai, profetiza ao meu povo de Israel.
Sob um ponto de vista moderno, a profecia pode ser considerada como uma manifestação desconhecida do psiquismo, ou um fenómeno PSI. Talvez os conhecimentos proféticos estejam naquela região misteriosa da psique chamada por Jung de inconsciente colectivo. A profecia está além da lógica, situando-se numa dimensão simbólica com a qual a psique entraria eventualmente em contacto; entretanto, a mente se perde ao tentar seguir e compreender os infinitos meandros desta terra desconhecida, permeada de figuras mitológicas e arquétipos incompreensíveis. Os profetas, antigos e modernos, mais do que figuras religiosas, são desbravadores de um terreno desconhecido e misterioso, que, se num futuro distante poderá ser morada de todos, por enquanto continua sendo apenas uma terra incógnita». In Luís Gonzaga Alvarenga, O Segredo das Profecias, Ocultismo, Wikipédia, 1996-2006.

Cortesia de Wikipedia/JDACT