Habsburgo
que segue o destino trágico dos seus ancestrais
«Tragédias
sobre tragédias se abatem, no decorrer dos tempos, sobre esta família dos Habsburgos,
cujos membros só raramente escaparam à fatalidade, que parece tê-los
estigmatizado. Fernando José Maximiliano, que
Napoleão haveria de enviar à morte sobre um trono imperial, um trono oscilante,
efémero, criado num momento de crise por influência europeia, e que logo se
esbarrondaria irremediavelmente, nasceu em 1832,
no palácio de Shoenbrunn, em Viena, no mesmo palácio em que, nessa mesma data,
noutra sala, agonizava o infortunado filho de Napoleão Bonaparte, cujo caminho
à coroa os Habsburgos tinham entravado. Dezasseis anos mais tarde, em 1848, o irmão mais velho do
recém-nascido, Francisco José, sobe ao trono imperial da dualidade
austro-húngara, enquanto aquele ingressa na Marinha de Guerra do seu país, onde
chegou a atingir o posto de vice-almirante. Desde novo que o arquiduque
Maximiliano, segundo filho do arquiduque Francisco Carlos, de espírito poético,
sonhador, mostrava pendores para a literatura, que se concretizaram mais tarde
na publicação de descrições, ao gosto romântico da época, das viagens que como
marinheiro fez a terras distantes, a pontos pouco conhecidos ainda. Deixou o livro
Memórias do Imperador Maximiliano.
Mesmo
já como Governador-geral de Veneza, cargo para que fora nomeado pelo irmão, o
arquiduque Maximiliano, carácter aventureiro, não soube sobrepor à fogueira do
sonho que lhe abrasava a alma o senso prático das realidades, essencial a um homem
de Estado. O perigo era evidente. Nestas condições espirituais pode calcular-se
o efeito que nele fez a encantadora filha de Leopoldo I, da Bélgica, a princesa
Carlota, dona Maria Carlota!, jovem de grande talento, beleza e ambição, e
igualmente romântica como ele. Um verdadeiro casamento de amor, aliás entrelaçado
nas melhores conveniências políticas, foi o deles, celebrado em Bruxelas, em 27
de Julho de 1857. Esse ano
encontra os dois príncipes, que doloroso destino conduziria a trágico desastre
político, radiantes na felicidade da sua lua-de-mel, no castelo de Miramar,
enchendo os olhos dos largos horizontes do Adriático em frente. Entretanto, o ambiente social no México, sempre exacerbado
de paixões, de irrequietudes, que o sangue escaldante do seu povo, caldeamento
de raças ardentes: os espanhóis de um lado e, do outro, os índios aborígenes,
talvez explique, forçara as potências europeias a uma intervenção armada no
país, em 1861: para garantia das vidas e bens naquela turbulenta República liberal e
anticlerical, que ofendia os seus sentimentos e prejudicava os interesses estrangeiros.
Os
acontecimentos ocorridos no México impressionavam naturalmente a Europa. Mas,
por um lado, a opinião pública francesa, que almejava pelo repatriamento das
suas tropas, e, por outro, as potências, Inglaterra e Espanha, comparticipantes
na ocupação, exigiam o termo daquela interferência. A intervenção da França, da
Inglaterra e da Espanha fora decidida em face da violência da guerra civil,
provocada pelo profundo descalabro moral e económico e, sobretudo, pelas
medidas anti-religiosas de Benito Juarez, índio-zapoteca, que, dedicando-se, primitivamente,
à Teologia, breve a trocou pelo Direito, ascendendo à suprema magistratura do
país. Quando as tropas da Inglaterra e da Espanha se afastaram, ficou unicamente
a França a braços com a difícil situação. O seu contingente militar desembarcou
em Vera Cruz, em 1862, e dali
marchou sobre Puebla, que tomou, após encarniçada luta, fazendo a entrada na
capital em 7 de Junho. A Napoleão III apresentava-se, pois, um problema para
resolver. Havia a certeza de que, mal as tropas estrangeiras de ocupação
voltassem costas ao país, tudo ali recomeçaria. Foi então que no seu cérebro se
forjou o projecto, perigoso mas de tentar, de impor ao turbulento país uma
monarquia hereditária, como solução p ti os problemas internos. As vistas do
imperador francês, perscrutando em volta à procura de um soberano, fixaram-se na
figura do arquiduque Maximiliano, não por ser um Habsburgo, mas por descender
de Carlos V». In Américo
Faria, Dez Monarcas Infelizes, Livraria Clássica Editora, colecção 10, Lisboa,
s/d.
Cortesia de
LCEditora/JDACT