A Queixada
«A queixada marca o tempo
neste lugar,
a queixada com o seu
furioso mastigar.
É entrar num restaurante
popular,
é entrar e ver a queixada
a abrir e a fechar.
À queixada não dão tempo
neste lugar,
não dão tempo nem comida
da que se pode manjar.
E a queixada não se queixa
(que outras se vão queixar!)
Recebe, esmaga e despacha
a comida por provar.
Como lhe falta comida,
carniça boa a sangrar,
a queixada, que não é parva
e não pode viver do ar,
come tudo o que lhe derem
no restaurante, no bar;
uma dobrada singela
ou um frango a engelhar.
Tem pressa e um vazio
a preencher, a tapar.
Neste verso bebe vinho,
neste vai recomeçar…»
Poema de Alexandre O’Neill,
in ‘Poesias Completas, 1951 / 1986’
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