quinta-feira, 2 de julho de 2015

O Circo da Matemática. John A. Paulos. «Uma vez os algarismos árabes expressos em forma binária, usamos as mesmas regras aritméticas e algoritmos para trabalhar com eles, recordando apenas que estamos a trabalhar com potências de 2 e não com potências de 10»

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Números e Códigos Binários
«(…) Para ilustrar como é que um único número binário pode codificar uma grande quantidade de informação, considere que esta secção contém ligeiramente mais de 5600 símbolos, letras, algarismos, espaços em branco e sinais de pontuação. Cada um deles tem um código de 8 bits, e assim, se concatenarmos todos estes códigos, chegamos a uma sequência de cerca de 45 000 bits, que podemos considerar como a representação binária da secção. Poderíamos fazer a mesma coisa para o livro inteiro e calcular o código binário do livro. Ou ainda de forma mais ambiciosa, se dispusermos todos os livros na Biblioteca do Congresso por ordem alfabética e cronológica por autor e data de publicação e então concatenar as suas sequências, obtemos o número binário que representa toda a informação na Biblioteca do Congresso.
Exactamente que informação é (pelo menos uma sua definição técnica muito útil), é uma questão que é respondida pela teoria matemática da informação. Sendo um campo rico com muitas aplicações à biologia, à linguística e à electrónica, a teoria recorre à linguagem dos bits, em que cada bit de informação corresponde a uma escolha binária. [Desta forma, 5 bits, por exemplo, corresponde a 5 dessas escolhas, e são suficientes para-distinguir 32 (ou 25) alternativas, havendo 32 (25) sequências sim-não possíveis de comprimento 5] Os bits servem também como unidades na medição numérica de noções como a entropia de fontes de informação, a capacidade de canais de comunicação e a redundância de mensagens.
Desde a teoria da informação até aos pontos e traços do código Morse e às linhas grossas e finas dos códigos de barra dos supermercados, os números e códigos binários estão agora infiltrados por toda a parte e tornaram-se correntes. Penso, contudo, que são compreendidos melhor quando são abordados com, pelo menos, alguma da apreciação original de Leibniz pela sua primazia metafísica. Informação, computadores, entropia, complexidade, todos estes termos e ideias fundamentais provêm em parte deste código que é o mais elementar de todos, 1 ou 0, substância ou nada, yin ou yang, ser ou não ser. E fácil sermos levados por uma corrente de oposições sinónimas, de modo que irei deter-me e observar apenas que um universo que fosse todo substância seria indistinguível de um outro que fosse completamente vazio, e, assim, um certo grau de dicotomia binária é uma pré condição para um universo não trivial bem como para o próprio pensamento». In John A. Paulos, O Circo da Matemática, Para além do Inumerismo, Forum da Ciência, Publicações Europa América, 1991, ISBN 972-103-690-0.

Cortesia de PEAmérica/JDACT