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de wikipedia e jdact
Terreille
«(…) No entanto, Askavi já não era tão fértil como antes, pois fora pilhada
durante séculos por aqueles que
a esgotaram mas nunca retribuíram com o que quer que fosse. Ainda assim, era a
sua terra, e os séculos de exílio em escravidão provocavam um desejo ardente
pelo cheiro do ar puro da montanha, pelo sabor de um riacho fresco e doce, pelo
silêncio dos bosques e, acima de tudo, pelas montanhas sobrevoadas pela raça
eyriena. No entanto, encontrava-se em Pruul, aquela terra árida, quente,
deserta e estéril, a serviço da devassa Zuultah, por não conseguir ocultar a
aversão que sentia por Prythian, a Sacerdotisa Suprema de Askavi, por não
conseguir domar o temperamento enquanto servia feiticeiras que desprezava. Entre
os Sangue, os machos deveriam servir, não dominar. Lucivar jamais tinha
desafiado essa ordem, apesar das várias feiticeiras que matara ao longo dos
séculos. Tinha feito isso pois seria um insulto servi-las; ele era um Príncipe
Eyrieno dos Senhores da Guerra que usava Jóias Cinza-Ébano e se recusava a
acreditar que servir e ser servil eram sinónimos. Sendo um bastardo mestiço,
não acalentava qualquer esperança de atingir posições de autoridade numa corte,
apesar da categoria das suas Jóias. Sendo um guerreiro eyrieno experiente e
dono de um temperamento explosivo mesmo para um Príncipe dos Senhores da
Guerra, tinha ainda menos esperanças de que lhe fosse permitido viver fora das
correntes sociais de uma corte. E fora capturado da mesma forma que todos os
machos dos Sangue são capturados.
Havia algo no seu interior que os fazia ansiar ardentemente por servir, que os
impelia a se interligar, de alguma forma, a fêmeas ornadas com Jóias dos
Sangue.
Lucivar contraiu o ombro e inspirou através dos dentes no
preciso momento em que uma ferida infligida pelo chicote voltou a se abrir. Ao
tocar com cuidado na ferida, sua mão ficou encharcada em sangue fresco. Sorriu
amargamente, revelando os dentes. Como era aquele velho ditado? Um desejo,
ofertado com sangue, é uma prece às Trevas. Fechou os olhos, ergueu a mão em
direcção ao negro do céu e iniciou a interiorização, descendo ao abismo
psíquico na profundidade das suas Jóias Cinza-Ébano para que o desejo se
mantivesse secreto, para que ninguém na corte de Zuultah pudesse ouvir a
transmissão do seu pensamento. Ainda que uma única vez, gostaria de servir uma Rainha que respeitasse,
alguém em quem realmente pudesse acreditar. Uma Rainha poderosa que não temesse
a minha força. Uma Rainha a quem pudesse também chamar amiga. Friamente
divertido pela própria tolice, Lucivar limpou a mão na calça larga de algodão e
suspirou. Era uma pena que a declaração de Tersa, enunciada setecentos anos
antes, não tivesse passado de simples e louca ilusão. Por algum tempo, foi a
sua fonte de esperança. Demorou muito até que ele percebesse que a esperança é
amarga. Olá! Lucivar olhou em direcção aos
estábulos onde se alojavam os escravos. Logo os guardas fariam a ronda nocturna.
Ainda que pairasse no ar um cheiro quente e poeirento, ele desfrutaria da
aragem da noite por mais um minuto, antes de regressar à cela imunda com a cama
feita de palha, suja e infestada de bichos, antes de regressar ao fedor do
medo, de corpos sujos e dejectos humanos». In Anne Bishop, A Filha do Sangue,
Jóias Negras, 1998, Saída de Emergência, 2009, ISBN 978-972-883-977-2.
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