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Sela
e Cela
«(…)
Eu defendo que na ordem do corpo
o sinal posto brando e alto entre
as coxas
não deve levantar-se contra nada.
Palo acendido seco ou mosto
(mastro) derramado
as fendas que revolve sempre
sangram
e não é nisso o mal.
Exposto é o macho e pode ser de
flora sua altura
bolbos de vida tenros os
testículos (água de leite vindo)
e tão humildes que a mão os tolhe
ou pode decepar.
Fortíssimo perante só o onde
ganhar guarida e atingir redondo
que o vértice inseguro bem
sustenha.
Dar de alimento não é ser
devorado
e não se volvam por nome do
inteiro
a boca de mulher e sua fala em
fauces.
Eu defendo
que em tudo está inscrito cunha e
cova
na haste e crosta crespa a gota
tenra
no redondo do seio o gume de
perdê-lo
alguma breve hora.
Assim vos coludindo acaso
esta não sei se ácida per juris
causa nostra
baga nova
imponho (tábua ou rosa?):
Amar
de amor alguém
côncavo ou exposto
bom montador ou casa (entranha)
clausa
é
ter em mãos suspensa a sua outra face.
27/Mar/71
Bilhete
de Mariana Alcoforado ao cavaleiro de Chamilly
Senhor
Desculpai se vos escrevo sabendo,
a razão e o coração mo dizem, quanto alívio sentis em vos afastardes de mim.
Já mar não vos sou nem mesmo mar–iana...
nem meu ardor te lembra de fêmea este alentejo aceso ao qual me comparavas o
corpo onde passeavas teus dedos em extenuadas tardes...
Porquê meu amor o silêncio a que
me votas (de voto estou eu já presa: mordaça posta), silêncio que devoro de
angústia. Se de ti não me alimento, que me aguarda?
Desculpai o desvario,
desculpai-me a ânsia, não era essa a função deste bilhete, nem foi ele ditado
por amor, mas antes imposto pela urgência de pedir que me venhais ver por coisa
tão urgente e grave que mais não posso esperar, pois cada dia passado de maior
susto me tomo, sem saber como resolver uma situação que não só a mim cabe
resolver.
Espero-vos, então, esta noite.
Podeis vir tranquilo que não vos aborrecerei com lágrimas ou abraços. Evitarei,
juro, as súplicas, a ironia, a memória, meu amor.
Como sempre, esperai junto às
grades, dona Brites vos conduzirá até meu quarto, onde aguardarei calma,
esperançada que me possais salvar ainda, ou para sempre me condenardes à ira da
minha família.
27/Mar/71
In Maria Isabel Barreno, Maria Teresa
Horta, Maria Velho Costa, Novas Cartas Portuguesas, 1972, edição anotada,
Publicações dom Quixote, 1998, 2010, ISBN 978-972-204-011-2.
Cortesia
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