quinta-feira, 21 de março de 2019

A Fugitiva. Anais Nin. «O basco foi muito gentil. Depositou a sua pequena dádiva em cima da mesa…»

Cortesia de wikipedia e jdact

(…) Então, de repente, num espasmo, ficava parada. E isso, perversamente no meio da fúria crescente deles, esfriava-os tanto que o desenlace era retardado. Ela tornava-se uma massa de carne tranquila. Começava gentilmente, como se comece um rebuçado antes de adormecer. Então a sua letargia os irritava. Eles tentavam inflamá-la de novo, tocando-a em todos os lugares, beijando-a. Ela se submetia, impassível. O basco aguardava a hora certa. Observou as abluções cerimoniosas de Viviane. Naquele dia, ela estava inchada das muitas investidas. Não importava quão pequena fosse a quantia de dinheiro depositada em cima da mesa para ela, jamais se soube de ela ter impedido um homem de se satisfazer. Os lábios grandes e fartos, excessivamente esfregados, estavam ligeiramente distendidos, e uma leve febre queimava-a. O basco foi muito gentil. Depositou a sua pequena dádiva em cima da mesa. Despiu-se. Prometeu-lhe um bálsamo, um algodão, um legítimo alívio. Aquelas delicadezas fizeram-na baixar a guarda. O basco lidava com ela como se ele fosse uma mulher. Apenas um toquezinho ali, para atenuar, para aplacar a febre. A pele dela era escura como a de uma cigana, muito lisa e limpa, até empoada. Os dedos dele eram sensíveis. Tocou-a apenas por acaso, um roçar, e deitou o sexo em cima da barriga dela como um brinquedo, para ela apenas admirar. O sexo reagiu ao ser abordado. O ventre dela vibrou ao peso dele, ondulando suavemente para senti-lo ali. Como o basco não demonstrava impaciência para deslocá-lo para onde ficaria abrigado, envolvido, ela deu-se ao luxo de se expandir, de ceder. A gula dos outros homens, o seu egotismo, a sua ânsia de se satisfazerem a si mesmos sem considerá-la deixavam-na hostil. Mas o basco era galanteador. Comparou a pele dela a cetim, o cabelo a musgo, o cheiro a perfume de madeiras preciosas. Então colocou o sexo na abertura e disse ternamente: dói? Não vou forçá-lo para dentro se dói. Tamanha delicadeza comoveu Viviane. Ela respondeu: dói só um pouquinho, mas tente. Ele avançou apenas um centímetro de cada vez. Dói? Ofereceu-se para tirar. Então Viviane teve que insistir: só a ponta. Tente de novo. Então a ponta deslizou uns três centímetros, a seguir fez uma pausa. Isso deu a Viviane bastante tempo para sentir a presença, tempo que os outros homens não lhe davam. Entre cada minúsculo avanço para dentro dela, Viviane tinha uma folga para sentir o quanto aquela presença era agradável entre as paredes macias de carne, como se encaixava, nem muito apertada, nem muito frouxa. Ele esperou de novo, depois avançou mais um pouquinho. Viviane teve tempo de sentir como era bom ser preenchida, como a fenda feminina era adequada para prender e manter. O prazer de ter algo ali para prender, trocando calor, misturando as duas humidades. Ele mexeu-se de novo. Suspense. A percepção do vazio quando ele recuou, a carne dela murchou quase que imediatamente. Ela fechou os olhos. A entrada gradual emitia radiações por tudo à volta, correntes invisíveis alertando as regiões mais profundas do ventre sobre a explosão que estava a caminho, algo feito para encaixar-se no túnel de paredes macias e ser devorado pelas suas profundezas famintas, onde nervos inquietos esperavam. A carne dela rendeu-se mais e mais. Ele seguiu em frente. Dói? Ele tirou. Ela ficou decepcionada e não quis confessar como murchava por dentro sem a presença expansiva. Foi forçada a suplicar: enfie de novo. Então ele colocou até a metade do caminho, onde ela podia sentir e, contudo, não podia apoderar-se dele, onde não podia prendê-lo de verdade. Ele agiu como se fosse deixá-lo ali no meio do caminho para sempre. Ela queria mexer-se na direcção dele e engolfá-lo, mas se conteve. Teve vontade de gritar. A carne que ele não tocava estava ardendo pela proximidade. No fundo do ventre jazia a carne que exigia ser penetrada. Curvava-se para dentro, aberta para sugar. As paredes de carne moviam-se como anémonas do mar, tentando arrastar o sexo para dentro pela sucção, mas ele estava perto o bastante apenas para enviar correntes de prazer excruciante. Ele mexeu-se de novo, observando o rosto dela. Então viu a boca aberta. Agora ela queria erguer o corpo, pegar o sexo dele por completo, mas esperou. Por meio daquela lenta provocação, ele a deixara à beira da histeria. Ela abriu a boca como que para revelar a receptividade do ventre, a fome, e só então ele arremeteu até ao fim e sentiu as contracções dela». In Anais Nin, A Fugitiva, L&PM Pocket, Brasil, 2012, ISBN 978-852-542-654-3.

Cortesia de L&PM/JDACT