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de wikipedia e jdact
De
Xátiva a Roma. 1378-1458. As Origens dos Bórgia
«(…)
Rodrigo Borja nasceu, provavelmente, no primeiro dia
de 1431. Ou, também presumivelmente, um ano depois. Embora a sua data de
nascimento exacta seja cercada de dúvidas, uma coisa é certa: mesmo sendo um
amante de festas opulentas e glamourosos bailes nocturnos, não celebrava o seu
aniversário de forma ostensiva. Não era prioridade de um pontifex maximus comemorar a saída do útero materno, e sim o
dia de sua nomeação como sucessor de Pedro. A escolha do Espírito Santo, de
acordo com a versão oficial, outorgava ao predestinado, de facto, uma segunda
existência, uma existência superior. Como símbolo dessa transformação, os papas
assumem, até aos dias atuais, um novo nome. Assim, Rodrigo Borja, que havia
muito já usava o nome italianizado para Borgia,
passou a ser Alexandre VI em 11 de Agosto de 1492. Como pontífice,
uma das suas maiores preocupações foi prolongar o seu pontificado, e, por
conseguinte, a sua vida. Foi tão longe nessa obsessão que, a partir do ano-novo
de 1502, resolveu pagar para garantir que viveria mais. Começou oferecendo 30
ducados a cada um de seus criados,
acrescentando cinco ducados ao montante a cada ano. A contrapartida daqueles
presenteados de forma tão generosa era garantir que o prémio chegasse a 100
ducados por cabeça, ou, em última análise, assegurar que Alexandre VI chegasse aos
86 anos de idade. A ideia por trás de tanta generosidade era conseguir algo das
pessoas, tornando-as também beneficiárias do seu próprio benefício. Como os
empregados conseguiriam prolongar a vida de seu senhor, não foi, no entanto,
revelado. Provavelmente, por meio de orações. Pelo menos esse seria o método
tradicional. Outros papas esperavam pelas preces de pobres seleccionados. Alexandre
VI, ao contrário, apostava na consciência saudável sobre o lucro.
Mesmo com tais estimativas e empenho por conseguir uma
expectativa de vida barata, Alexandre VI não era, de forma alguma, um caso
isolado. Desfrutava a companhia de ilustres predecessores e teólogos. Todos
eles tinham denunciado a contradição entre a majestade do papado e a curta
duração da maioria dos pontificados como um escândalo que podia levar os
cristãos à apostasia. Cuidados com o corpo e a higiene pessoal já faziam parte,
desde muito tempo, do estilo de vida dos papas. No caso de Alexandre VI, no
entanto, os seus contemporâneos acreditavam unanimemente que as precauções com
saúde e longevidade deveriam beneficiar principalmente, se não exclusivamente,
os Bórgia, ou seja, a expansão e protecção do poder familiar. Isso é o que indica também o momento dos
generosos presentes de aniversário: 1503 tinha de ser o ano das decisões. A
ordem era não morrer naquele momento.
Alexandre VI estava confiante no facto de que teria tempo
de sobra para as suas realizações. A que se devia esse optimismo, vindo de um
homem que, segundo os padrões da época, já era considerado um ancião? A
confiança era alimentada, sem dúvida, pela tradição da família Bórgia. Desde
muitas gerações, essa família estava convencida de que as suas modestas
condições de vida nada tinham a ver com a sua origem nobre. Isso fez que os seus
membros partissem do princípio de que um dia iriam ocupar o lugar que mereciam.
Ressentimentos e esperanças desse tipo não eram incomuns naquela época. No caso
dos Bórgia, somaram-se profecias precisas de que o destino os predestinara às
mais elevadas honrarias. Muitas outras famílias que tinham conseguido subir na
hierarquia social também lançavam mão de tais previsões. Dessa forma,
justificavam seu sucesso como vontade divina. Não é de se estranhar que
Alexandre VI acreditasse nas obras da previdência para justificar a história da
sua linhagem. Dificilmente outra família da época teria tido uma ascensão tão
vertiginosa quanto a sua. O destino, ao que parece, conduziu a família Bórgia
da sua antiga pátria à terra prometida, e logo duas vezes, com tio e sobrinho,
à Cátedra de Pedro». In Volker
Reinhardt, Alexandre VI, Bórgia, o Papa Sinistro, 2011, Editora Europa, 2012, ISBN
978-857-960-127-9
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