segunda-feira, 25 de março de 2019

Isabel I. O Anoitecer de um Reinado. Margaret George. «Chegamos ao jardim das rosas, onde os canteiros eram feitos de acordo com a cor e a variedade. Havia madressilvas-dos-bosques, com pétalas cor-de-rosa abertas…»

Cortesia de wikipedia e jdact

Isabel. Maio de 1588
«(…) Até nós sabemos disso. Navegar em próprias águas, atacando a mais de mil quilómetros da base inglesa, foi um acto insolente e impensado. Pelo menos, os espanhóis não pensavam ser possível. Agora todos têm medo dele. Um capitão espanhol que foi capturado, e que eu mesmo interroguei, acreditava que Drake tinha poderes sobrenaturais e conseguia ver os portos mais distantes. Não tirei a ilusão dele. Certamente, Drake parece ter a misteriosa capacidade de adivinhar onde está o tesouro, quais locais possuem sentinela e quais não. E ele desloca-se com a habilidade
surpreendente de uma cobra prestes a dar o bote. Divertido, não é? Ele parece tão inofensivo, com aquele rosto redondo e as bochechas rosadas. Os seus navios são as suas garras. Ele os usa como um homem comum usa a própria mão ou o próprio pé, parecem fazer parte do próprio corpo, afirmou Robert, balançando a cabeça, admirado. Chegámos ao relógio de sol, um cubo com várias faces que informava a hora de trinta maneiras conforme o sol reflectia em cada superfície. Fora um presente da rainha Catarina de Médici quando os seus filhos príncipes, um de cada vez, vieram cortejar-me. Acho que ela pensou que, talvez, um presente grandioso, vindo da mãe dos dois, causaria uma impressão maior do que vários pequenos presentes. Era um mecanismo engenhoso.
Uma das faces marcava as horas até durante a noite à luz do luar, caso a lua brilhasse o suficiente. Marcava 4 da tarde numa das suas faces. Hoje não iria anoitecer antes das 9 da noite, um daqueles doces crepúsculos prolongados da Primavera. Havia até uma face em que se podia ver a hora conforme a última luz diminuía, um indicador de crepúsculo. Robert se aproximou de uma das faces do relógio de sol e perguntou: não gostou do lírio? Gostei, respondi, sentindo-me mal pela forma como recebi a flor. Mas não cabia a ele naquele momento oferecê-la a mim. Foi um gesto típico seu. Ele olhou em volta do jardim e perguntou novamente. Porque a senhora não tem rosas aqui? Como o jardim de uma Tudor não tem rosas? Elas são muito altas para o gradil. Atrapalhariam a ordem do jardim. Mas, perto do pomar, há muitas delas. Mostre-me. Nunca as vi. Saímos do pequeno jardim fechado e seguimos pelo caminho que conduz ao pátio dos torneios medievais e suas arquibancadas. Suportes de ferro cercavam o muro para que tochas fossem encaixadas durante os torneios. Robert já havia participado de muitos, mas agora não lutava mais. Percebi que ele estava sem fôlego na nossa curta caminhada e então lembrei-me de algo. Você renunciou ao posto de mestre da cavalaria, disse. Porquê, Robert?
Todas as coisas são efémeras, respondeu subtilmente. Mas Burghley ainda me serve! Vocês dois foram as minhas primeiras nomeações, na minha primeira reunião do Conselho! Ainda a sirvo, minha Be..., Majestade. Só não mais como mestre de cavalaria. Embora ainda crie cavalos. Então..., quem é o mestre agora? Um jovem que descobri, Christopher Blount. Ele saiu-se bem nos Países Baixos. Ficou ferido. Eu o condecorei. A senhora ficará satisfeita com ele, tenho a certeza. Esse título pertence-lhe. Não mais. Na minha cabeça será sempre seu. A nossa mente vê coisas que os nossos olhos não conseguem ver. Creio que permanecem vivas enquanto a mente que as vê continua existindo. Sim, o jovem e belo Robert Dudley existia agora apenas na mente de Elizabeth e nos retratos. Você está certo.
Chegamos ao jardim das rosas, onde os canteiros eram feitos de acordo com a cor e a variedade. Havia madressilvas-dos-bosques, com pétalas cor-de-rosa abertas como molduras; pequenas rosas marfim almiscaradas, protegidas pelos seus arbustos espinhosos; vigorosos arbustos com rosas damasco com muitas pétalas vermelhas e brancas, e rosas da província; canteiros de rosas amarelas e vermelhas, exalando canela». In Margaret George, Isabel I, O Anoitecer de um Reinado, tradução de Lara Freitas, Geração Editorial, 2012, ISBN 978-858-130-076-4.

Cortesia de GeraçãoE/JDACT