Cortesia
de wikipedia e jdact
Isabel.
Maio de 1588
«(…)
Até nós sabemos disso. Navegar em próprias águas, atacando a mais de mil quilómetros
da base inglesa, foi um acto insolente e impensado. Pelo menos, os espanhóis
não pensavam ser possível. Agora todos têm medo dele. Um capitão espanhol que
foi capturado, e que eu mesmo interroguei, acreditava que Drake tinha poderes
sobrenaturais e conseguia ver os portos mais distantes. Não tirei a ilusão
dele. Certamente, Drake parece ter a misteriosa capacidade de adivinhar onde
está o tesouro, quais locais possuem sentinela e quais não. E ele desloca-se
com a habilidade
surpreendente de uma cobra
prestes a dar o bote. Divertido, não é? Ele parece tão inofensivo, com aquele
rosto redondo e as bochechas rosadas. Os seus navios são as suas garras. Ele os
usa como um homem comum usa a própria mão ou o próprio pé, parecem fazer parte
do próprio corpo, afirmou Robert, balançando a cabeça, admirado. Chegámos ao
relógio de sol, um cubo com várias faces que informava a hora de trinta
maneiras conforme o sol reflectia em cada
superfície. Fora um presente da rainha
Catarina de Médici quando os seus filhos príncipes,
um de cada vez, vieram cortejar-me. Acho que ela pensou que, talvez, um presente
grandioso, vindo da mãe dos dois, causaria uma impressão maior do que vários
pequenos presentes. Era um mecanismo engenhoso.
Uma das faces marcava as horas
até durante a noite à luz do luar, caso a lua brilhasse o suficiente. Marcava 4
da tarde numa das suas faces. Hoje não iria anoitecer antes das 9 da noite, um
daqueles doces crepúsculos prolongados da Primavera. Havia até uma face em que
se podia ver a hora conforme a última luz diminuía, um indicador de crepúsculo.
Robert se aproximou de uma das faces do relógio de sol e perguntou: não gostou
do lírio? Gostei, respondi, sentindo-me mal pela forma como recebi a flor.
Mas não cabia a ele naquele momento oferecê-la a mim. Foi um gesto típico seu. Ele
olhou em volta do jardim e perguntou novamente. Porque a senhora não tem rosas
aqui? Como o jardim de uma Tudor não tem rosas? Elas são muito altas para o
gradil. Atrapalhariam a ordem do jardim. Mas, perto do pomar, há muitas delas. Mostre-me.
Nunca as vi. Saímos do pequeno jardim fechado e seguimos pelo caminho que
conduz ao pátio dos torneios medievais e suas arquibancadas. Suportes de ferro cercavam
o muro para que tochas fossem encaixadas durante os torneios. Robert já havia
participado de muitos, mas agora não lutava mais. Percebi que ele estava sem
fôlego na nossa curta caminhada e então lembrei-me de algo. Você renunciou ao
posto de mestre da cavalaria, disse. Porquê, Robert?
Todas as coisas são efémeras,
respondeu subtilmente. Mas Burghley ainda me serve! Vocês dois foram as minhas
primeiras nomeações, na minha primeira reunião do Conselho! Ainda a sirvo,
minha Be..., Majestade. Só não mais como mestre de cavalaria. Embora ainda crie
cavalos. Então..., quem é o mestre agora? Um jovem que descobri, Christopher
Blount. Ele saiu-se bem nos Países Baixos. Ficou ferido. Eu o condecorei. A
senhora ficará satisfeita com ele, tenho a certeza.
Esse título pertence-lhe. Não mais. Na minha cabeça será sempre seu. A nossa
mente vê coisas que os nossos olhos não conseguem ver. Creio que permanecem
vivas enquanto a mente que as vê continua existindo. Sim, o jovem e belo Robert
Dudley existia agora apenas na mente de Elizabeth e nos retratos. Você está
certo.
Chegamos
ao jardim das rosas, onde os canteiros eram feitos de acordo com a cor e a
variedade. Havia madressilvas-dos-bosques, com pétalas cor-de-rosa abertas como
molduras; pequenas rosas marfim almiscaradas,
protegidas pelos seus arbustos espinhosos; vigorosos arbustos com rosas damasco
com muitas pétalas vermelhas e brancas, e rosas da província; canteiros de
rosas amarelas e vermelhas, exalando canela». In Margaret George, Isabel I, O
Anoitecer de um Reinado, tradução de Lara Freitas, Geração Editorial, 2012,
ISBN 978-858-130-076-4.
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