Cortesia
de wikipedia e jdact
(…) Homens grandes e robustos, provocantes
como uma mulher e pelados por baixo. Maman
queria transformar-se numa pedra da calçada para ser pisoteada, para
que lhe fosse permitido olhar a bolsa escondida balançando a cada passo por
baixo do saiote curto. Maman sentiu-se
indisposta. O bar estava quente demais. Precisava de ar. Ela aguardou. Cada
passo dos escoceses era como um passo dentro de seu próprio corpo, ela vibrava
do mesmo modo. Um, dois, três. Uma dança em torno do abdómen, selvagem e uniforme,
a bolsinha de pele balançando como pelos púbicos. Maman estava quente como um dia de Julho. Não conseguia
pensar em nada além de abrir caminho até à frente da multidão e depois escorregar
sobre os joelhos e simular um desmaio. Mas tudo o que viu foram pernas
desaparecendo por baixo de saiotes xadrezes pregueados. Mais tarde, recostada
nos joelhos de um policial, revirou os olhos como se fosse ter um ataque. Se ao
menos a parada desse a volta e marchasse sobre ela! Desse modo, a vitalidade de
nunca se extinguia. Era adequadamente nutrida. À noite, a sua carne estava
tenra como se houvesse sido cozida em fogo brando o dia inteiro. Os seus olhos
passavam dos clientes para as mulheres que trabalhavam para ela. O rosto delas também
não lhe chamava a atenção, apenas as silhuetas da cintura para baixo. Fazia com
que dessem uma volta na sua frente, dava uma pancada suave para sentir a
firmeza da carne antes de vestirem as suas combinações. Ela conhecia Melie, que
se enroscava como uma fita em volta do homem, dando-lhe a sensação de que
diversas mulheres o afagavam. Conhecia a indolente, que fingia estar adormecida
e dava aos tímidos uma audácia que ninguém mais conseguia, deixando-os
tocarem-na, manipularem-na, explorarem-na, como se não houvesse nenhum perigo
em fazer isso. O corpo volumoso ocultava os seus segredos muito bem em dobras
fartas; contudo, a sua indolência permitia que fossem expostos por dedos
intrometidos. Maman conhecia
a esguia, fogosa, que atacava os homens e fazia com que se sentissem vítimas das
circunstâncias. Era a grande favorita dos culpados. Eles permitiam ser esforçados.
A consciência deles ficava tranquila. Poderiam dizer às esposas: ela atirou-se
em cima de mim e… Eles deitavam-se e ela sentava-se em cima deles, como num
cavalo, incitando-os a movimentos inevitáveis por meio da pressão, galopando
sobre a virilidade rígida, ou trotando mansamente, ou fazendo longas
cavalgadas. Apertava os potentes joelhos contra os flancos das vítimas
subjugadas e, como uma nobre montadora, erguia-se elegantemente e baixava, com
todo o peso concentrado sobre o meio do corpo, enquanto a mão de vez em quando
dava umas bofetadas no homem para aumentar a velocidade e as convulsões dele,
de modo que ela pudesse sentir maior vigor animal entre as pernas. Como ela
cavalga aquele animal em baixo de si, com pernas e grandes arremetidas do corpo
erecto até o animal começar a espumar, e então incitá-lo, com mais gritos e bofetadas,
a galopar cada vez mais rápido. Maman conhecia
os encantos represados de Viviane, que viera do sul. A sua carne era como brasa
ardente, contagiante, e mesmo a mais gélida das carnes aquecia ao seu toque.
Ela conhecia o suspense, a lentidão. Antes de tudo, gostava de se sentar no
bidé para a cerimónia de se lavar. Pernas escancaradas sobre o pequeno assento;
tinha nádegas protuberantes, duas covinhas enormes na base da espinha, quadris
morenos dourados, largos e firmes como o lombo de um cavalo de circo. Quando se
sentava, as curvas intumesciam-se. Se o homem cansava de vê-la de costas, podia
olhar de frente e observá-la jogar
água sobre os pelos pubianos e entre as pernas, observá-la afastar
cuidadosamente os lábios ao ensaboar. Então a espuma branca a cobria, a seguir
mais água, e os lábios emergiam rosados e cintilantes. Às vezes ela examinava
os lábios calmamente. Se muitos homens houvessem passado por ali naquele dia,
ela veria que estavam ligeiramente inchados. O basco gostava de olhá-la assim.
Ela se secava de modo mais suave para não aumentar a irritação. O basco
apareceu num daqueles dias e previu que poderia beneficiar-se da irritação. Nos
outros dias, Viviane estava letárgica, pesadona e indiferente. Deitava o corpo
como em uma pintura clássica, de modo a acentuar os tremendos altos e baixos
das curvas. Deitava-se de lado com a cabeça repousando no braço, a carne de
tonalidades acobreadas distendendo-se de vez em quando, como se padecendo sob a
dilatação erótica de carícias feitas por uma mão invisível. Desse modo, ela se
oferecia, sumptuosa e quase impossível de estimular. A maioria dos homens nem
tentava. Ela desviava a boca com desdém, oferecendo o corpo ainda mais, mas com
indiferença. Podiam escancarar as suas pernas e examinar o quanto quisessem.
Não conseguiam extrair nenhuma seiva dela. Mas, uma vez que um homem estivesse
dentro dela, Viviane comportava-se como se ele estivesse despejando lava
quente, e suas contorções eram mais violentas do que as da mulher que sente
prazer porque eram dramatizadas para simular as reais. Ela se retorcia como uma
serpente, arremessava-se em todas as direcções como se estivesse sendo queimada
ou surrada. Músculos potentes davam aos seus movimentos um vigor que estimulava
os desejos mais bestiais. Os homens lutavam para deter as contorções, para
acalmar a dança orgíaca que ela realizava em torno deles, como se estivesse
trespassada por algo que a torturava». In Anais Nin, A Fugitiva,
L&PM Pocket, Brasil, 2012, ISBN 978-852-542-654-3.
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