quinta-feira, 26 de março de 2020

As Ordens Religiosas na Diocese de Évora 1165-1540. Maria Leonor FOS Santos. «… resta-nos a Congregação dos Eremitas de São Paulo da Serra de Ossa, um movimento de cariz eremítico surgido no Alto Alentejo…»

Cortesia de wikipedia e jdact

«(…) Com efeito, das formas de vida religiosa que se praticavam no reino de Portugal e por todo o Ocidente, ficaram longe da diocese de Évora as variantes do modelo monástico protagonizadas pelos beneditinos e cistercienses. Os Eremitas de São Paulo da Serra de Ossa e os Jerónimos, duas novas famílias de origem eremítica que em finais do século XIV integraram a forma de vida monástica, constituam, quase exclusivamente, a única representação deste modelo de vida no além Tejo já que, apesar de se tratarem de instituições que adoptaram observâncias influenciadas pelas práticas mendicantes, não devem deixar de se considerar ordens monásticas, pelo valor que ambas conferiram ao afastamento do mundo, à vida contemplativa e de oração e à vida comunitária, desde que consumada a renúncia ao eremitismo.
Os beneditinos nunca chegaram a ter qualquer mosteiro na diocese e a presença dos cistercienses ficou atestada por uma única fundação, a do mosteiro feminino de São Bento de Cástris que, mais do que reflexo do interesse de Cister pelos territórios do sul, correspondeu a uma necessidade prática de enquadramento institucional de um grupo de mulheres piedosas que viviam em comunidade, num local, junto às muralhas de Évora e que, a conselho do cardeal Pedro Julião, futuro papa João XXI, terão tido a iniciativa de desencadear o processo de filiação da sua comunidade à abadia cisterciense de Alcobaça (data de 1275, a filiação da pequena comunidade de mulheres piedosas de Évora ao mosteiro de Alcobaça e a imposição, por parte do abade de Alcobaça, do estabelecimento das religiosas numa zona mais afastada da cidade. Sobre a história deste mosteiro). Quanto aos Jerónimos, uma ordem que se instalou em Portugal a partir de 1400, a sua presença na diocese ficou marcada pela fundação do cenóbio masculino de Nossa Senhora do Espinheiro de Évora. Neste caso, uma fundação levada a cabo pelo bispo metropolita Jorge Perdigão e que correspondeu à concretização do projecto de um seu antecessor, Pedro Noronha. Fundado por bula de Calisto III, de 25 de Novembro de 1457 (bula Pia Deo), o mosteiro foi edificado na periferia de Évora, no lugar onde já existia uma capela dedicada a Nossa Senhora do Espinheiro e veio a destacar-se, entre as várias fundações monástico-conventuais da diocese, pela protecção e frequência de monarcas como Afonso V, João II e Manuel I, por ter sido o local eleito para realização das cortes de 1481 e pela importante oficina de pintura que albergou (Desta oficina de pintura irradiou a escola flamenga de Évora , que teve como mestre o famoso fr. Carlos).
Ainda no seio da grande família monástica, resta-nos a Congregação dos Eremitas de São Paulo da Serra de Ossa, um movimento de cariz eremítico surgido no Alto Alentejo a partir da segunda metade do século XIV, que embora enquadrado na forma de vida monástica, foi fortemente influenciado por práticas mendicantes, como a autoridade centralizada, a realização de capítulos gerais e de visitações ou a eleição de superiores temporários e não vitalícios, como era prática entre as outras variantes do modelo monástico. Daí podermos sublinhar para a diocese de Évora a implantação de um clero regular com uma configuração bastante distinta do tradicional monaquismo. Com uma rápida expansão a partir da Serra de Ossa, local de onde partiram vários pobres para reformar alguns lugares ou para fundar novas casas, os homens da pobre vida em pouco mais de um século, entre 1366 e finais do século XV, instalaram, na diocese de Évora e sobretudo no Alto Alentejo, um total de treze eremitérios. Depois da Serra de Ossa, pelos anos de 1371, fixaram-se no actual concelho de Avis, dando origem ao Mosteiro de Nossa Senhora da Azambujeira de Fonte Arcada, do qual se desconhece a localização precisa; daí, passaram ao Redondo, mais especificamente a Vale Abraão e Vale de Infante, onde fundaram dois eremitérios, respectivamente em 1371 e 1372; depois, instalaram-se em Elvas, Évora, Vila Viçosa, Portel, Borba, Montemor-o-Novo, Guadalupe, na periferia de Évora, Sines e, por fim, Serpa». In Maria Leonor FOS Santos, As Ordens Religiosas na Diocese de Évora 1165-1540, Comunicação a Novembro de 2007, nas V Jornadas de História Religiosa organizadas pelo Instituto de Superior de Teologia de Évora, Medievalista, Ano 5, Nº 7, 2009, ISSN 1646-740X.

Cortesia de Medievalista/JDACT