terça-feira, 10 de março de 2020

Um Milhão de Prazeres Proibidos. CL Parker. «Eram muito diferentes umas das outras, algumas com um ar altivo e outras que pareciam já ter feito aquilo antes, embora talvez fosse a primeira vez que chegavam à liga principal»

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Os sacrifícios que fazemos
Lanie
«(…) Eu quase perdi a coragem quando passámos pela multidão de mulheres que se alinhavam ao longo do corredor. Eram muito diferentes umas das outras, algumas com um ar altivo e outras que pareciam já ter feito aquilo antes, embora talvez fosse a primeira vez que chegavam à liga principal. Cada mulher tinha um número colado no estômago nu e estavam todas diante de um espelho que forrava a parede em frente. É um espelho sem estanho, explicou Dez. Cada cliente que entra tem uma ficha com todas as raparigas que vão ser leiloadas hoje. Depois, elas são trazidas para aqui como gado e exibidas para os ricaços. Isto dá-lhes uma oportunidade para verificarem a mercadoria e poderem decidir que rapariga desesperada é que poderão querer licitar. Bolas, Dez, obrigadinha. Isso não me faz sentir nada mal. Oh, cala-te. Sabes que não falei por mal, disse ela, num esforço para me lazer sentir melhor. Tu és boa de mais para este género de coisas e sabes bem. Tu não és elas. Fez um gesto para as outras mulheres que estavam no corredor. Mas eu percebo. Estás a fazer isto pela Faye e isso só pode ser a coisa mais altruísta que já vi. Aquelas outras mulheres podiam muito bem ter uma Faye em casa, pensei enquanto desviava o olhar para não estabelecer contacto visual.
Chegámos ao fundo do corredor e Dez bateu à porta. Uma voz gritou, mandando-nos entrar, mas quando Dez se desviou e apontou para a porta eu entrei em pânico. Percebi que dali a instantes começaria a hiperventilar. Ei, olha para mim. Dez obrigou-me a olhar para ela. Tu não tens de entrar ali. Podemos dar meia volta agora mesmo e sair daqui. Não, não podemos, respondi-lhe, com o corpo sacudido por estremecimentos apesar de todos os meus esforços para acalmar os nervos. Eu não posso entrar ali contigo. Daqui em diante, estás por tua conta, disse ela, incapaz de esconder a tristeza e a preocupação. Eu acenei e baixei a cabeça para ela não ver as lágrimas que me enchiam os olhos. De repente, Dez apertou-me contra o peito e quase me tirou todo o ar dos pulmões. Tu consegues fazer isto. Que diabo, talvez até venhas a ter bom sexo no meio de tudo isto. Nunca se sabe. Do outro lado daquele vidro pode estar um Don Juan à espera para te arrebatar. Ah! Não é provável, trocei eu, conseguindo sorrir um pouco antes de me soltar do seu abraço seguro. Eu vou ficar bem. Certifica-te apenas de que o cretino que ficar comigo cumpre o nosso acordo. Se não cumprir, espero bem que mandes o FBI para aqui de armas em punho.
Tu sabes que sim, miúda. E sabes o meu número de telefone, por isso é melhor ligares-me para me manteres a par do que está a acontecer, senão vou atrás de ti. Agora tenho de voltar para o bar antes que perca o emprego e as informações privilegiadas sobre ti. Mas não te esqueças que até gosto de ti e essas mer… Dez não era nada lamechas, mas eu sabia que aquilo era código para amo-te. Ela beijou-me na face e disse: dá cabo deles, miúda, antes de me dar uma palmada no rabo e afastar-se. Ela não me enganou. Eu vi como ela curvou os ombros e esfregou os olhos com as pontas dos dedos quando pensou que eu não podia vê-la. Eu também gosto de ti, disse eu baixinho, porque ela já não me podia ouvir». In CL Parker, Um Milhão de Prazeres Proibidos, Editora Lua de Papel, 2014, ISBN 978-989-232-806-5.

Cortesia de Elua de Papel/JDACT