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Os
sacrifícios que fazemos
Lanie
«(…) Eu quase perdi a coragem
quando passámos pela multidão de mulheres que se alinhavam ao longo do
corredor. Eram muito diferentes umas das outras, algumas com um ar altivo e
outras que pareciam já ter feito aquilo antes, embora talvez fosse a primeira
vez que chegavam à liga principal. Cada mulher tinha um número colado no estômago
nu e estavam todas diante de um espelho que forrava a parede em frente. É um
espelho sem estanho, explicou Dez. Cada cliente que entra tem uma ficha com
todas as raparigas que vão ser leiloadas hoje. Depois, elas são trazidas para
aqui como gado e exibidas para os ricaços. Isto dá-lhes uma oportunidade para
verificarem a mercadoria e poderem decidir que rapariga desesperada é que poderão
querer licitar. Bolas, Dez, obrigadinha. Isso não me faz sentir nada mal. Oh,
cala-te. Sabes que não falei por mal, disse ela, num esforço para me lazer
sentir melhor. Tu és boa de mais para este género de coisas e sabes bem. Tu não
és elas. Fez um gesto para as outras mulheres que estavam no corredor. Mas eu
percebo. Estás a fazer isto pela Faye e isso só pode ser a coisa mais altruísta
que já vi. Aquelas outras mulheres podiam muito bem ter uma Faye em casa,
pensei enquanto desviava o olhar para não estabelecer contacto visual.
Chegámos ao fundo do corredor e
Dez bateu à porta. Uma voz gritou, mandando-nos entrar, mas quando Dez se
desviou e apontou para a porta eu entrei em pânico. Percebi que dali a
instantes começaria a hiperventilar. Ei, olha para mim. Dez obrigou-me a olhar
para ela. Tu não tens de entrar ali. Podemos dar meia volta agora mesmo e sair
daqui. Não, não podemos, respondi-lhe, com o corpo sacudido por estremecimentos
apesar de todos os meus esforços para acalmar os nervos. Eu não posso entrar
ali contigo. Daqui em diante, estás por tua conta, disse ela, incapaz de
esconder a tristeza e a preocupação. Eu acenei e baixei a cabeça para ela não
ver as lágrimas que me enchiam os olhos. De repente, Dez apertou-me contra o
peito e quase me tirou todo o ar dos pulmões. Tu consegues fazer isto. Que
diabo, talvez até venhas a ter bom sexo no meio de tudo isto. Nunca se sabe. Do
outro lado daquele vidro pode estar um Don Juan à espera para te arrebatar. Ah!
Não é provável, trocei eu, conseguindo sorrir um pouco antes de me soltar do seu
abraço seguro. Eu vou ficar bem. Certifica-te apenas de que o cretino que ficar
comigo cumpre o nosso acordo. Se não cumprir, espero bem que mandes o FBI para
aqui de armas em punho.
Tu
sabes que sim, miúda. E sabes o meu número de telefone, por isso é melhor ligares-me
para me manteres a par do que está a acontecer, senão vou atrás de ti. Agora tenho
de voltar para o bar antes que perca o emprego e as informações privilegiadas sobre
ti. Mas não te esqueças que até gosto de ti e essas mer… Dez não era nada lamechas,
mas eu sabia que aquilo era código para amo-te. Ela beijou-me na face e disse: dá
cabo deles, miúda, antes de me dar uma palmada no rabo e afastar-se. Ela não me
enganou. Eu vi como ela curvou os ombros e esfregou os olhos com as pontas dos
dedos quando pensou que eu não podia vê-la. Eu também gosto de ti, disse eu
baixinho, porque ela já não me podia ouvir». In CL Parker, Um Milhão de
Prazeres Proibidos, Editora Lua de Papel, 2014, ISBN 978-989-232-806-5.
Cortesia
de Elua de Papel/JDACT