Cortesia
de wikipedia e jdact
Guia
histórico I
A
Oriente. A nossa cidade
«Lisboa
é uma cidade com múltiplas vivências. O percurso de
uma história feita ao longo de muitos séculos marcou a cultura e a imagem da
cidade, que é, no seu conjunto, um objecto patrimonial rico. Para além do valor
inequívoco das muitas singularidades que marcam cada um dos seus edifícios e
espaços, é a ambiência do cenário total que torna esta cidade um objecto notável,
uma obra de arte onde o natural e o social se interpenetram. Esta é uma evidência
com que nos deparamos em praticamente todas as zonas, desde os bairros que formam o centro histórico antigo, as áreas que de
periféricas se tornaram centrais e trouxeram à cidade um perfil próprio,
acrescentando novas referências à memória já rica e diversificada. Esta última
situação é bem característica da coroa norte e das frentes ribeirinhas oriental
e ocidental que, no século XIX se inseriram no novo perímetro urbano então
ampliado, trazendo as raízes de uma existência mais antiga e passando a
incorporar os testemunhos da então florescente industrialização. É esta história
que Lisboa preserva no cenário urbano continuadamente vivido e apropriado ao
longo dos tempos. A cidade é, sem dúvida, um excelente testemunho e uma boa
narradora da sua própria história. A investigação no domínio da história das
tradições e da cultura urbana têm em Lisboa um objecto apetecível, tanto pela
sua riqueza e especificidade como pela quase inexistência de estudos sobre
muitas áreas. A zona oriental, até ao limite do concelho, é um território que
apenas tem sido abordado sectorialmente em temas monográficos específicos. E,
no entanto, as memórias estão aqui bem visíveis no seu património construído,
na toponímia, na morfologia urbana. Mas foi preciso reconhecê-lo, dar-lhe
legibilidade, estudá-lo. Foi precisamente esta descoberta assente numa investigação
profunda que o Caminho do Oriente nos trouxe. A valorização do percurso urbano
através de acções de requalificação e de animação, provou que esta parte da
cidade, até há pouco tempo quase desconhecida para muitos lisboetas, é um
património vivo, de grande valor histórico, artístico, urbanístico, antropológico
e sociológico. Resultando de uma parceria entre a CML, a Ambelis e a Parque
Expo e tendo como pano de fundo a Exposição
Mundial de Lisboa,
o Caminho do Oriente é agora uma referência no imaginário dos que vivem e amam
Lisboa. A requalificação e a valorização da cidade, continua com novas intervenções
em curso e programadas e com a animação dos equipamentos culturais, de modo a
criar e a reforçar as respectivas centralidades. O trabalho de levantamento,
investigação e análise realizado foi fundamental. Por isso, esta obra é uma
referência imprescindível para todos os que queiram investigar e intervir na
cidade. Aos coordenadores e autores, com destaque muito especial ao dr. José
Sarmento Matos e todos os colaboradores, editores, promotores e também
seguramente aos leitores, o nosso reconhecimento. E, também, o desafio para
novos percursos pelo Caminho do Oriente». In Maria Calado, Vereadora
da Cultura da Câmara Municipal de Lisboa, 1999
«Durante
demasiado tempo vivemos esquecidos de Lisboa, da sua condição de cidade
inteira: esquecemo-nos do oriente. Para aqui, onde outrora se desenvolviam
quintas, palácios e mosteiros, convergiram nos anos deste século armazéns e indústrias,
tudo mais ou menos desordenado, porque a falsa ordem que nos regeu durante
cinquenta anos era feita de abandono e segregação. Lisboa foi-se esquecendo de
que uma parte da sua história partiu desta metade imperfeita que se julga traçada
a partir do eixo imaginário que liga o Parque Eduardo VII à Praça do Comércio. Só
nos últimos anos a cidade voltou a olhar para si própria e, nesse movimento,
para a sua metade leste, que confina com a extrema ocidental do concelho de
Loures. A partir de 1997, e ao mesmo tempo que decorria em contra-relógio o
trabalho colossal de remodelação de 330 hectares em torno da Doca dos Olivais,
para acolher a Exposição Mundial de Lisboa, a Expo'98 e a Câmara Municipal de
Lisboa lançavam um programa de recuperação e animação dos bairros orientais até
se atingir a zona onde hoje, extintos os fogos da Exposição, se abre ao público
o Parque das Nações. O programa Caminho do Oriente envolveu um vasto
conjunto de obras de recuperação de edifícios, públicos e privados, e um amplo
programa de manifestações, das quais as exposições temáticas e fotográficas, a
animação dos Armazéns Abel Pereira Fonseca e o plano de edições constituem
marcos salientes. Não temos ainda recuo para proceder a um balanço da experiência.
E é até desejável que não haja balanço possível, isto é, colunas fechadas de
deve e haver, porque o processo de devolução do oriente à nossa cidade não pode
parar. O que começou, nestes auspiciosos anos noventa, foi o princípio de uma
revolução, esta sim, permanente, a exigir mais imaginação, mais criatividade e
mais audácia, para recuperarmos o tempo absurdamente perdido, enquanto o Tejo
se espreguiçava indolente, doente do tédio que lhe inspirava a distracção dos
homens. Neste trabalho de recuperação de memória é indispensável pôr hoje em
relevo quem lhe deu asas e forma, quem o trouxe pela mão e o enformou com um discurso
culto e sensível, de lisboeta apaixonado. Os guias que rematam esta etapa da
aventura de redescoberta do oriente de Lisboa aí estão para testemunhar a
qualidade singular do trabalho desenvolvido por José Sarmento Matos, em
investigação que se anunciara logo em 1993 com o magnífico álbum Um Passeio
a Oriente (Edição Expo'98/Metropolitano de Lisboa), mas que encontrou, na
coordenação-geral do programa Caminho do Oriente, aqui com a
valiosa colaboração de Jorge Custódio, Deolinda Folgado, Luísa Arruda e Jorge Ferreira
Paulo, a expressão mais completa da sua identificação com o pulsar da cidade,
da sua história passada, mas também dos seus ritmos presentes e da sua ambição
de futuro. Não sei se Lisboa lhe deve alguma coisa; mas, como lisboeta, sei que
lhe devo o enumerar de algumas das principais razões pelas quais milhares de
portugueses se empenharam, durante anos, em fazer, do oriente de Lisboa, a
nossa cidade». In António Mega Ferreira
In
José Sarmento Matos e Jorge Ferreira Paulo, Caminho do Oriente, Livros
Horizonte, 1999, ISBN 972-241-057-1.
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