segunda-feira, 23 de março de 2020

Os Segredos Perdidos da Arca Sagrada. Laurence Gardner. «A palavra campo é também usada para descrever regiões em que forças operativas, como a gravidade e o magnetismo, são activos»

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«(…) Havia varetas de um material duro, não identificado e, no pórtico, duas pedras cénicas de cerca de 6 polegadas (15 cm) e 9 polegadas (22,5 cm) de altura respectivamente. Os exploradores ficaram bastante perplexos com isso, mas se espantaram ainda mais com a descoberta de um cadinho de metalúrgico e uma quantidade considerável de pó branco puro escondido entre lajes cuidadosamente assentadas. Após o acontecimento, os egiptólogos começaram a discutir porque um cadinho teria sido necessário num Templo, debatendo ao mesmo tempo uma misteriosa substância chamada mfkzt (pode-se pronunciar Mufkuzt), que aparecia em dúzias de menções na parede de Serábit e em inscrições de estelas. Alguns diziam que mfkzt poderia ser cobre, enquanto outros preferiam a ideia da turquesa, já que ambos eram extraídos na região baixa além da montanha. Outros ainda supunham que talvez fosse malaquita, mas eram todos palpites sem base, pois não havia traços de nenhum desses materiais no sítio.
Se a mineração da turquesa foi uma função primária dos mestres do Templo durante tantos períodos dinásticos, seria de se esperar encontrar turquesas no sítio e, em abundância, dentro dos túmulos egípcios, mas não era assim. Durante o debate, determinou-se que pesquisas acerca do mfkzt haviam sido feitas anteriormente pelo filólogo alemão Karl Richard Lepsius, que descobrira a palavra mfkzt no Egipto, em 1845. Na verdade, a questão fora feita ainda antes pelo cientista francês Jean François Champollion que, em 1822, encontrou a chave para decifrar a Pedra de Rosetta e foi pioneiro na arte de compreender os hieróglifos egípcios. Algum tempo antes da expedição de Petrie, havia-se chegado à conclusão de que mfkzt não era bem turquesa, nem cobre, nem malaquita. Porém, determinou-se que a palavra significa alguma forma de pedra extremamente valiosa e considerada instável de algum modo. Diversas listas de substâncias consideradas preciosas pelos egípcios incluíam o mfkzt; mas, pelas virtudes das outras gemas, minerais e metais nessas mesmas listas, sabiam que não era nenhum deles. Após mais de cem anos de pesquisa e investigação, ao estudar as listas em 1955, o melhor que os egiptólogos puderam determinar era que o mfkzt era um produto mineral valioso.

A Pedra de Rosetta (actualmente no Museu Britânico) foi encontrada próximo de Alexandria, em 1799, pelo tenente Bouchard, quando da expedição napoleónica ao Egipto. A pedra basáltica negra de aproximadamente 196 a.C. traz o mesmo contexto textual em três diferentes escritas: hieróglifos egípcios, egípcio demótico (escrita cursiva quotidiana) e grego. Pela análise comparativa dessas escritas (sendo a linguagem grega prontamente familiar), o código hieroglífico foi revelado; pôde então servir de referência nos cartuchos faraónicos dos reis egípcios.

Não obstante, o primeiro registo histórico de mfkzt fora do Sinai é provavelmente o mais revelador de todos. Aparece de maneira muito diferente e muito mais descritiva nos Textos da Pirâmide, escritos sagrados que adornam a pirâmide da 5ª. Dinastia, túmulo do rei Unas, em Saqqara, esquematizando a sua ressurreição após a morte. Ali se descreve a localidade em que se diz que o rei morto vive eternamente com os deuses; é chamada Campo de Mfkzt. Outro lugar etéreo nomeado nos Textos da Pirâmide é o Campo de Iaru, A Dimensão dos Abençoados, e parece haver um ponto em comum entre ambos. A partir disso, determinou-se que o mfkzt não era apenas uma substância terrena valiosa, por vezes classificada como pedra; era também a chave para um campo indefinível, um estado dimensional alternativo do ser. A palavra campo é também usada para descrever regiões em que forças operativas, como a gravidade e o magnetismo,
são activos. Voltarei a tratar disso no devido tempo.

O Grande
Durante as investigações, outras causas de espanto para os cientistas eram as numerosas referências escritas a pão encontradas em Serábit e o hieróglifo tradicional para Luz (um ponto dentro de um círculo) representado no Relicário dos Reis. Claro, havia então o misterioso pó branco a considerar, muitas toneladas dele, segundo o que conta Petrie. Ao discutir a respeito do pó, sugeriu-se que talvez fosse resto de fusão de cobre; porém, como Petrie fez notar, a fusão não produz pó branco, mas deixa uma densa escória negra. Além disso, não havia suprimento de minério de cobre a uma distância de quilómetros do Templo. Em todo o caso, determinou-se que a fusão era realizada em vales distantes. Outros supuseram que o pó era cinza da queima de plantas para a produção de álcali, mas também não se encontraram resíduos de plantas». In Laurence Gardner, Os Segredos Perdidos da Arca Sagrada, Editora Madras, 2004, ISBN-978-857-374-901-4.

Cortesia de EMadas/JDACT