terça-feira, 24 de março de 2020

Guia histórico das Ordens Religiosas em Portugal Das Origens a Trento. Um projecto de investigação. Bernardo V. Sousa, Maria F. Andrade, Maria IC Pina, Maria LOS Santos». Conscientes das dificuldades de abordagem desta temática, para a qual os estudos disponíveis são escassos, não estamos ainda certos…»

Cortesia de wikipedia e jdact

«O projecto que agora apresentamos, aprovado pela FCT (Fundação para a Ciência e Tecnologia), no âmbito do POCTI (Programa Operacional do Quadro Comunitário de Apoio III, 2000-2006) e financiado pelo prazo de dois anos (Novembro de 2001 a Novembro de 2003), consiste na elaboração de um guia histórico das ordens religiosas em Portugal que, em termos cronológicos, deverá ter início com o monaquismo pré-beneditino e terminar com as últimas fundações monástico-conventuais que se deram em Portugal Continental e Ilhas até ao final do reinado de Manuel I (1521). Trata-se de uma iniciativa coordenada por Bernardo Vasconcelos Sousa e que tem como instituição de acolhimento o Centro de Estudos de História Religiosa da Universidade Católica Portuguesa. A equipa de investigação é constituída por Maria Filomena Andrade, Isabel Castro Pina e Maria Leonor F. O. Silva Santos.

Conscientes das dificuldades de abordagem desta temática, para a qual os estudos disponíveis são escassos, não estamos ainda certos de que a informação que possamos vir a recolher nos permita dar início ao trabalho com um capítulo autónomo sobre o monaquismo pré-beneditino. No entanto, de forma mais ou menos desenvolvida, este será o ponto de partida da nossa investigação. Quando da candidatura deste projecto ao concurso Sapiens proj99, da Fundação para a Ciência e Tecnologia, em Janeiro de 2000, a responsabilidade da investigação estava a cargo de José Mattoso. Devido à alteração de residência do prof. Mattoso, para Timor Lorosae, por período indeterminado, a coordenação do trabalho foi transferida para o seu actual responsável, Bernardo Vasconcelos Sousa.

Justificação
A afirmação de que as ordens religiosas tiveram grande importância na formação de Portugal é uma evidência histórica. Todavia, é preciso reconhecer que existe uma generalizada falta de conhecimentos precisos e bem fundamentados acerca das suas denominações oficiais e vulgares, dos seus respectivos ramos, dos lugares de implantação das suas casas, das datas de fundação, das sucessivas reorganizações e reformas, dos campos de actuação, diferenças de organização e objectivos, da sua articulação com o clero diocesano e os vários níveis de autoridades eclesiásticas, da sua relação com o poder civil, enfim de todos os dados históricos que permitem conferir àquela certeza algum conteúdo efectivo. Esta carência de informações objectivas dá lugar a confusões, interrogações sem resposta e mesmo a erros grosseiros em inúmeros casos em que se esperaria o contrário. Tais lacunas são particularmente sensíveis para a época medieval e para o princípio da época moderna, que foi, afinal, o período em que as ordens religiosas tiveram maior importância cultural, social, económica e política. Ora o contacto com monumentos e obras de arte deixados em todo o território nacional pelas ordens religiosas é uma experiência de todos os dias. A curiosidade do público pelo património artístico fica muitas vezes insatisfeita pela falta de respostas às suas interrogações. Os responsáveis pelos programas de turismo cultural e as câmaras municipais que desejam valorizar o património local não encontram disponíveis os dados necessários para o seu trabalho nesta área. O mesmo sucede, pelo menos em alguns casos, com os organismos centrais responsáveis pela preservação e restauro. Recorre-se com frequência ao Guia de Portugal iniciado por Raul Proença, mas esta obra, tão importante a vários níveis, apresenta, neste campo, várias lacunas, equívocos e até alguns erros. Noutro sector específico do património cultural, o dos arquivos e bibliotecas, sente-se também a falta de um instrumento prático e actualizado que contenha informações de base necessárias aos arquivistas e bibliotecários que têm de arrumar, classificar e valorizar a documentação de origem monástica e conventual e de a disponibilizar para os seus leitores. Com efeito, os espólios documentais e bibliográficos das ordens religiosas incorporados nos depósitos do Estado ou dispersos. Trata-se de uma época que as falhas da crítica, patentes em muitas crónicas monásticas dos séculos XVII e XVIII, semearam de confusões e de informações deturpadas. Estas têm sido parcialmente corrigidas, recentemente, em trabalhos dispersos, alguns deles muito especializados, e que por isso não atingem o grande público. Actualmente, contudo, a publicação pelo Círculo de Leitores do Dicionário e da História Religiosa de Portugal, contribuiu para fazer uma primeira síntese destes trabalhos e para disponibilizar novas reflexões sobre a história religiosa, que se aguardavam desde a publicação da obra de referência que é a História da Igreja em Portugal, de Fortunato Almeida, cujo volume para a época medieval data de 1910.
Por mãos de particulares só podem ser devidamente classificados e valorizados se forem correctamente identificados os organismos produtores e se forem organizados de forma a que se possam aí encontrar os dados pertinentes para a investigação e a reconstituição da sua história. Caso contrário, a parte monástica dos arquivos públicos e privados corre o risco de se tornar um monte informe de documentos descontextualizados e de difícil utilização pelos investigadores. Parece, pois, evidente a necessidade de proceder a um levantamento sistemático das informações de base acerca das ordens religiosas em Portugal, de forma a responder às necessidades aqui enunciadas e a permitir aos estudiosos o aprofundamento das suas investigações através da referência a bibliografia especializada e da indicação de depósitos arquivísticos pertinentes para o seu trabalho. Conciliando práticas científicas, atentas à crítica das fontes, com processos de tratamento informático que potencializam os dados recolhidos, colocando-os ao nível de tratamento desejável para futuras intervenções e actualizações, será possível contribuir para renovar as perspectivas de estudo e de abordagem dos institutos religiosos, alicerçando assim uma visão mais ampla e rigorosa da presença da Igreja em Portugal, durante a Idade Média». In Bernardo V. Sousa, Maria F. Andrade, Maria IC Pina, Maria LOS Santos, Guia histórico das Ordens Religiosas em Portugal Das Origens a Trento. Um projecto de investigação, FCT (Fundação para a Ciência e Tecnologia), POCTI (Programa Operacional do Quadro Comunitário de Apoio III, 2000-2006, Wikipédia.

Cortesia de FCT/POCTI/JDACT