«(…) Uma terceira família Vimaranense que deixou fama em
Mazagão tinha o apelido de Ferreira.
O tronco nascera em Guimarães, na pessoa de Domingos Ferreira. Silvestre
Ferreira Silva, seu filho, partiu para aquela praça do norte de África,
servindo nas armas, desde 1 de Novembro de 1712,
até 13 de Setembro de 1721.Aí casou
com D. Luísa da Conceição que descendia dos Riscados de Mazagão. Tiveram
dois filhos e duas filhas, uma das quais se chamava Cláudia Maria de África.
Finalmente, uma quarta figura vimaranense, aparece nos registos dos portugueses
que passaram por Mazagão. Chamou-se D. Jerónima
Cardosa e foi registada em 18 de Novembro de 1729.Sabe-se que nasceu em Guimarães e rumou até àquela praça do
norte de África, com o intuito de servir como parteira. E não foi inútil essa
função, na medida em que nasciam em Mazagão algumas centenas de
crianças, em cada ano.
Augusto Ferreira Amaral termina assim a sua
comunicação, em 1978: Depois de ter dado à luz o nosso querido
País, Guimarães continuou a alimentar as suas conquistas, fornecendo filhos
seus que, nos séculos XVII e XVIII militaram, com destaque, em Mazagão, ajudando
a gravar páginas gloriosas da epopeia norte-africana. Depois deste
excelente relato sobre o relevante papel dos vimaranenses na expansão
ultramarina não tivemos coragem de olvidar esta ligação às principais praças
marroquinas. Ninguém, até hoje, se terá lembrado de estabelecer este elo a Guimarães.
Mas ele é decisivo e constitui mais um soberano pretexto para encher de orgulho
as gentes da cidade-berço.
Relação entre Portugal e Marrocos
Uma questão que pode colocar-se, face ao papel dos portugueses
nas principais praças do norte de África, permite interrogar a consciência colectiva,
sobre o determinismo da nossa trajectória histórica: que destino teria cabido a Portugal se, em vez de apostar na
expansão através dos mares, tivesse concentrado a sua acção em Marrocos, o
prolongamento do Algarve?
Em 1915, Carneiro
Moura, proferiu uma palestra que foi publicada no Boletim Comemorativo do V
Centenário da Tomada de Ceuta, da Sociedade de Geografia de Lisboa. São interessantes
as considerações que faz em torno desta questão. E por isso mesmo deixo aqui
algumas passagens mais significativas: O
que Portugal, por uma hábil política, deveria ter feito, era expandir o seu
génio civilizador por toda a parte, onde chegassem os seus navegantes e os seus
empreendedores homens de comércio, mas correu perigo a sua consistência de
Estado, desde que tentou deixar governos e leis, militares e funcionários, por
toda a superfície da terra.
Foi excessiva a dispersão. Portugal, que não fora pequeno e
insuficiente para levar o seu génio civilizador às costas do oriente e do
ocidente de África, deixando pelo Atlântico o rasto duma passagem heróica, e
que pôde afirmar a sua mentalidade no Industão
e no oriente asiático, no Japão e no arquipélago de Sonda, preparou a sua
ruína, quando pretendeu materializar o seu grande poder expansivo em
instituições políticas de organizações dispersas e enfraquecedoras. Se
Portugal, depois de levar a toda a parte a influência da sua civilização, se
tem confinado na obra política e de domínio que se limitasse à acção
mediterrânica, com base no domínio marroquino, outro teria sido o seu caminho
através da História. Tudo teria mudado.
No século XVI ocuparam os portugueses vários pontos da costa
marroquina do Atlântico. Não soubemos, porém, herdar o poder dos Merinides de Fez, como os espanhóis não
puderam recebê-lo dos Zianides de Tlemcen,
quando estas duas dinastias desapareceram, em 1554. Se no século XVI não andássemos empenhados na absorvente aventura
marítima, teriam compreendido os portugueses dirigentes de então que, já que
era impossível prosseguir nas conquistas dentro da península, estava aberto e
indicado o caminho para realizar um maior Portugal no Gharb d'além mar. Marrocos seria, naturalmente a prolongação do Algarve,
o Ghard d'áquem mar, que Afonso III
conquistara aos mouros». In Barroso da Fonte, Guimarães e as Duas
Caras, Editora Correio do Minho, 1994, ISBN 972-95513-8-3.
Cortesia de Guimarães/JDACT