segunda-feira, 26 de agosto de 2013

As Duas Caras. Guimarães. Barroso da Fonte. «Depois de ter dado à luz o nosso querido País, Guimarães continuou a alimentar as suas conquistas, fornecendo filhos seus que, nos séculos XVII e XVIII militaram, com destaque, em Mazagão, ajudando a gravar páginas gloriosas da epopeia norte-africana»


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«(…) Uma terceira família Vimaranense que deixou fama em Mazagão tinha o apelido de Ferreira. O tronco nascera em Guimarães, na pessoa de Domingos Ferreira. Silvestre Ferreira Silva, seu filho, partiu para aquela praça do norte de África, servindo nas armas, desde 1 de Novembro de 1712, até 13 de Setembro de 1721.Aí casou com D. Luísa da Conceição que descendia dos Riscados de Mazagão. Tiveram dois filhos e duas filhas, uma das quais se chamava Cláudia Maria de África. Finalmente, uma quarta figura vimaranense, aparece nos registos dos portugueses que passaram por Mazagão. Chamou-se D. Jerónima Cardosa e foi registada em 18 de Novembro de 1729.Sabe-se que nasceu em Guimarães e rumou até àquela praça do norte de África, com o intuito de servir como parteira. E não foi inútil essa função, na medida em que nasciam em Mazagão algumas centenas de crianças, em cada ano.
Augusto Ferreira Amaral termina assim a sua comunicação, em 1978: Depois de ter dado à luz o nosso querido País, Guimarães continuou a alimentar as suas conquistas, fornecendo filhos seus que, nos séculos XVII e XVIII militaram, com destaque, em Mazagão, ajudando a gravar páginas gloriosas da epopeia norte-africana. Depois deste excelente relato sobre o relevante papel dos vimaranenses na expansão ultramarina não tivemos coragem de olvidar esta ligação às principais praças marroquinas. Ninguém, até hoje, se terá lembrado de estabelecer este elo a Guimarães. Mas ele é decisivo e constitui mais um soberano pretexto para encher de orgulho as gentes da cidade-berço.

Relação entre Portugal e Marrocos
Uma questão que pode colocar-se, face ao papel dos portugueses nas principais praças do norte de África, permite interrogar a consciência colectiva, sobre o determinismo da nossa trajectória histórica: que destino teria cabido a Portugal se, em vez de apostar na expansão através dos mares, tivesse concentrado a sua acção em Marrocos, o prolongamento do Algarve?
Em 1915, Carneiro Moura, proferiu uma palestra que foi publicada no Boletim Comemorativo do V Centenário da Tomada de Ceuta, da Sociedade de Geografia de Lisboa. São interessantes as considerações que faz em torno desta questão. E por isso mesmo deixo aqui algumas passagens mais significativas: O que Portugal, por uma hábil política, deveria ter feito, era expandir o seu génio civilizador por toda a parte, onde chegassem os seus navegantes e os seus empreendedores homens de comércio, mas correu perigo a sua consistência de Estado, desde que tentou deixar governos e leis, militares e funcionários, por toda a superfície da terra.
Foi excessiva a dispersão. Portugal, que não fora pequeno e insuficiente para levar o seu génio civilizador às costas do oriente e do ocidente de África, deixando pelo Atlântico o rasto duma passagem heróica, e que pôde afirmar a sua mentalidade no Industão e no oriente asiático, no Japão e no arquipélago de Sonda, preparou a sua ruína, quando pretendeu materializar o seu grande poder expansivo em instituições políticas de organizações dispersas e enfraquecedoras. Se Portugal, depois de levar a toda a parte a influência da sua civilização, se tem confinado na obra política e de domínio que se limitasse à acção mediterrânica, com base no domínio marroquino, outro teria sido o seu caminho através da História. Tudo teria mudado.
No século XVI ocuparam os portugueses vários pontos da costa marroquina do Atlântico. Não soubemos, porém, herdar o poder dos Merinides de Fez, como os espanhóis não puderam recebê-lo dos Zianides de Tlemcen, quando estas duas dinastias desapareceram, em 1554. Se no século XVI não andássemos empenhados na absorvente aventura marítima, teriam compreendido os portugueses dirigentes de então que, já que era impossível prosseguir nas conquistas dentro da península, estava aberto e indicado o caminho para realizar um maior Portugal no Gharb d'além mar. Marrocos seria, naturalmente a prolongação do Algarve, o Ghard d'áquem mar, que Afonso III conquistara aos mouros». In Barroso da Fonte, Guimarães e as Duas Caras, Editora Correio do Minho, 1994, ISBN 972-95513-8-3.

Cortesia de Guimarães/JDACT