sábado, 17 de agosto de 2013

O Princípio de Peter. Porque é que as coisas andam sempre mal. Laurence Peter e Raymond Hull. «Já pensaram como todo um bando de idiotas consegue dirigir os seus escritórios, fábricas ou lojas? Não conseguem sequer organizar uma bebedeira numa cervejaria, mas o que não sabemos é como conseguiram chegar até lá acima»

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Começo a pressentir algo. In M. de Cervantes

«Quando era rapaz ensinaram-me que as pessoas crescidas sabiam o que faziam. E, diziam-me: - Peter, quanto mais souberes mais longe chegarás. Por esta razão, continuei a estudar até me licenciar e depois, desafiei o mundo apertando contra o peito o meu precioso diploma de professor. Durante o primeiro ano de ensino senti-me desorientado ao verificar que a maioria de professores, prefeitos e directores escolares pareciam desconhecer as suas responsabilidades profissionais e eram incompetentes no desempenho dos seus cargos. Por exemplo, as preocupações dominantes do meu director eram a de que as persianas das janelas estivessem todas à mesma altura, que as salas de aula se mantivessem silenciosas e que ninguém pisasse os canteiros. As do prefeito eram que nenhum grupo minoritário, por mais fanático que fosse, sofresse qualquer ofensa e que os trabalhos escolares fossem entregues a tempo. A educação dos alunos parecia constituir o maior desinteresse destes espíritos tão administrativos.
A princípio, pensei que fosse uma fraqueza específica do sistema escolar do local onde ensinava e por isso, pedi a transferência para outra região. Preenchi os formulários necessários, juntei os documentos exigidos e sujeitei-me, de bom grado, a toda a burocracia. Passadas algumas semanas devolveram-me o requerimento e o resto da papelada! Não, não havia problemas com as minhas credenciais; as minhas referências eram excelentes, e os formulários estavam correctamente preenchidos; um carimbo da repartição oficial, indicava que tudo tinha chegado em ordem. Vinha porém, uma carta que dizia: Os novos regulamentos exigem que estes requerimentos só podem ser enviados em correio registado, pois de outra forma não podem ser considerados por este Ministério. Queria tornar a enviar o requerimento por correio registado. Ao estudar o problema mais aprofundadamente verifiquei que todas as organizações empregam um certo número de pessoas incapazes de desempenhar as suas funções.

Um Fenómeno Universal
A incompetência no trabalho existe por toda a parte. Já deram por ela? Com certeza que sim. Vemos políticos indecisos, que se fazem passar por resolutos estadistas e as Fontes autorizadas que se desculpam da sua ignorância nos imponderáveis da situação. Os funcionários públicos são indolentes e insolentes são incontáveis (nem todos, nem todos…, podem crer!); como são os seus chefes militares cujas hesitações desmentem os seus inflamados discursos, e os governantes cujo servilismo congénito impede de governar a sério. Na nossa, sofisticação, encolhemos os ombros ao clérigo imoral, ao juiz corrupto, ao advogado incoerente, ao escritor sem talento e ao professor de literatura que faz erros de ortografia. Nas universidades, lemos ordens redigidas por administradores cujos escritórios são um caos e ouvimos lições monótonas de professores que são inaudíveis e incompreensíveis.
Observando esta incompetência em qualquer nível das hierarquias, política, jurídica, educacional e industrial, acabei por pensar que a causa residia em qualquer característica inerente às leis que regem a colocação dos empregados. Foi assim que comecei o meu estudo profundo sobre a ascensão dos empregados na hierarquia e o que lhes acontece depois de serem promovidos. Reuni centenas de exemplos para a minha pesquisa científica. Eis exemplos absolutamente típicos.
1. Fulano tal… era contra mestre na Divisão das Obras Públicas e o predilecto dos funcionários superiores da Câmara Municipal. Todos elogiavam a sua inesgotável afabilidade. Gosto do fulano de tal… dizia o fiscal das obras. – É um tipo correcto, sempre bem disposto e prestável. Este comportamento era normal para um homem na sua situação; não era chamado a tomar decisões, não tendo necessidade nenhuma de entrar em conflito com os superiores». In Laurence Peter e Raymond Hull, The Peter Principle, William Morrow and Co Inc, 1969, O Princípio de Peter. Porque é que as coisas andam sempre mal, Editorial Futura, Lisboa, 1973.

Cortesia de Futura/JDACT