Começo a pressentir algo. In M.
de Cervantes
«Quando era rapaz ensinaram-me que as pessoas crescidas sabiam o que
faziam. E, diziam-me: - Peter, quanto
mais souberes mais longe chegarás. Por esta razão, continuei a estudar
até me licenciar e depois, desafiei o mundo apertando contra o peito o meu
precioso diploma de professor. Durante o primeiro ano de ensino senti-me
desorientado ao verificar que a maioria de professores, prefeitos e directores
escolares pareciam desconhecer as suas responsabilidades profissionais e eram
incompetentes no desempenho dos seus cargos. Por exemplo, as preocupações dominantes
do meu director eram a de que as persianas das janelas estivessem todas à mesma
altura, que as salas de aula se mantivessem silenciosas e que ninguém pisasse
os canteiros. As do prefeito eram que nenhum grupo minoritário, por mais
fanático que fosse, sofresse qualquer ofensa e que os trabalhos escolares fossem
entregues a tempo. A educação dos alunos parecia constituir o maior
desinteresse destes espíritos tão administrativos.
A princípio, pensei que fosse uma fraqueza específica do sistema
escolar do local onde ensinava e por isso, pedi a transferência para outra
região. Preenchi os formulários necessários, juntei os documentos exigidos e
sujeitei-me, de bom grado, a toda a burocracia. Passadas algumas semanas devolveram-me
o requerimento e o resto da papelada! Não, não havia problemas com as minhas
credenciais; as minhas referências eram excelentes, e os formulários estavam
correctamente preenchidos; um carimbo da repartição oficial, indicava que tudo
tinha chegado em ordem. Vinha porém, uma carta que dizia: Os novos regulamentos exigem que estes requerimentos só podem ser
enviados em correio registado, pois de outra forma não podem ser considerados
por este Ministério. Queria tornar a enviar o requerimento por correio
registado. Ao estudar o problema mais aprofundadamente verifiquei que
todas as organizações empregam um certo número de pessoas incapazes de
desempenhar as suas funções.
Um Fenómeno Universal
A incompetência no trabalho existe por toda a parte. Já deram por ela? Com certeza que
sim. Vemos políticos indecisos, que se fazem passar por resolutos estadistas e
as Fontes autorizadas que se
desculpam da sua ignorância nos imponderáveis
da situação. Os funcionários públicos são indolentes e insolentes são incontáveis
(nem todos, nem todos…, podem crer!); como são os seus chefes militares cujas
hesitações desmentem os seus inflamados discursos, e os governantes cujo
servilismo congénito impede de governar a sério. Na nossa, sofisticação,
encolhemos os ombros ao clérigo imoral, ao juiz corrupto, ao advogado
incoerente, ao escritor sem talento e ao professor de literatura que faz erros
de ortografia. Nas universidades, lemos ordens redigidas por administradores cujos
escritórios são um caos e ouvimos lições monótonas de professores que são
inaudíveis e incompreensíveis.
Observando esta incompetência em qualquer nível das hierarquias,
política, jurídica, educacional e industrial, acabei por pensar que a causa
residia em qualquer característica inerente às leis que regem a colocação dos
empregados. Foi assim que comecei o meu estudo profundo sobre a ascensão dos empregados
na hierarquia e o que lhes acontece depois de serem promovidos. Reuni centenas
de exemplos para a minha pesquisa científica. Eis exemplos absolutamente típicos.
1. Fulano tal… era contra mestre na Divisão das Obras Públicas e o
predilecto dos funcionários superiores da Câmara Municipal. Todos elogiavam a
sua inesgotável afabilidade. Gosto do fulano de tal… dizia o fiscal das obras. –
É um tipo correcto, sempre bem disposto e prestável. Este comportamento era normal
para um homem na sua situação; não era chamado a tomar decisões, não tendo
necessidade nenhuma de entrar em conflito com os superiores». In Laurence Peter e Raymond Hull, The
Peter Principle, William Morrow and Co Inc, 1969, O Princípio de Peter. Porque
é que as coisas andam sempre mal, Editorial Futura, Lisboa, 1973.
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