sábado, 16 de janeiro de 2016

Poesia no Sábado (Entardecer). Vida Breve. Maria Teresa Horta. «No mundo há tantas mulheres! Não sei porque me preferes, porque pensarás assim? Tenho um filho pequenino ando presa ao seu destino nem posso dispor de mim»

Cortesia de wikipedia

Post Scriptum
«Afasto de ti com
raiva surda

o corpo
as mãos
o pensamento

e apago secreta
uma a uma
as velas acesas do teu vento

liberta ponho o corpo
em seu lugar
visto a cidade
penteio um rio sedento

penso ganhar
e fujo
e não entendo

penso dormir
mas não consigo
o tempo

E cede-se o vazio
sobre o meu ventre
e segue-se a saudade
em seu sustento

E digo este meu vício
dos teus olhos
de um verde tão lento
muito lento

Se penso que te deixo
já te quero

Se penso que recuso
já te anseio

Se penso que te odeio
já te espero

e torno a oferecer-te
o que receio

Se penso que me calo
já te grito

Se penso que me escondo
já me ofereço

Se penso que não sinto
é porque minto

Se pensas que me olhas
já estremeço»


Educação sentimental
«Põe devagar os dedos
devagar...

e sobe devagar
até ao cimo

o suco lento que sentes
escorregar
é o suor das grutas
o seu vinho

Contorna o poço
aí tens de parar
descer, talvez
tomar outro caminho...

Mas põe os dedos
e sobe devagar...

Não tenhas medo
daquilo que te ensino»
Poemas de Maria Teresa Horta, in ‘As Palavras do Corpo
ISBN 978-972-204-903-0

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