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Scriptum
«Afasto
de ti com
raiva
surda
o
corpo
as mãos
o
pensamento
e apago
secreta
uma a
uma
as velas
acesas do teu vento
liberta
ponho o corpo
em seu
lugar
visto
a cidade
penteio
um rio sedento
penso
ganhar
e fujo
e não
entendo
penso
dormir
mas não
consigo
o
tempo
E cede-se
o vazio
sobre
o meu ventre
e segue-se
a saudade
em seu
sustento
E digo
este meu vício
dos
teus olhos
de um
verde tão lento
muito
lento
Se penso
que te deixo
já te
quero
Se penso
que recuso
já
te anseio
Se penso
que te odeio
já te
espero
e torno
a oferecer-te
o
que receio
Se penso
que me calo
já
te grito
Se penso
que me escondo
já me
ofereço
Se penso
que não sinto
é porque
minto
Se pensas
que me olhas
já estremeço»
Educação
sentimental
«Põe
devagar os dedos
devagar...
e sobe
devagar
até ao
cimo
o suco
lento que sentes
escorregar
é o
suor das grutas
o seu
vinho
Contorna
o poço
aí tens
de parar
descer,
talvez
tomar
outro caminho...
Mas
põe os dedos
e sobe
devagar...
Não tenhas
medo
daquilo
que te ensino»
Poemas
de Maria Teresa Horta, in ‘As
Palavras do Corpo’
ISBN
978-972-204-903-0
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