sábado, 16 de janeiro de 2016

Vida Breve. Poesia no Sábado (Noite). Maria Teresa Horta. «Quis a razão do meu fado, que se um dia vos quisesse, tão pouco amor vos tivesse que me tivesse enganado. Mas talvez por ter andado preso a outro falso encanto, é que vos não quero tanto»

Cortesia de wikipedia

Lençol
«Porque o cabelo desprende
a duna deste lençol

Porque o linho se desvenda
estendido no corpo incerto

Porque os dedos se suspendem
e a sombra se desdobra

Porque talvez se recorta
ou talvez porque recorda

O corpo na febre rota
o vinho no vaso aberto
O gemido no seu espanto
e o lençol tecido
no próprio interior do pranto»


A Doença
«Digo-te
um amparo para a cabeça
o ombro

os pulsos em repouso
sobre o ventre

A violência somente
sobre a boca
num meigo disfarce de doente

e os dedos em silêncio
no seu vício

E a língua mansamente
sob os dentes

e lá na febre o corpo
recolhido

O sangue nas veias
docemente

Numa secreta afeição
ao que é sofrido
e não sente»
Poemas de Maria Teresa Horta, in ‘As Palavras do Corpo
ISBN 978-972-204-903-0

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