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Macau e a Expansão Missionária no Extremo-Oriente
«(…) A 23 de Janeiro de 1576,
o papa Gregório XIII criava o bispado de Macau a pedido do rei Sebastião I,
pela bula Super Specula Militantis Ecclesiae,
bispado de que dependiam a China e o Japão. Macau ficava a partir de então
separada da diocese de Malaca, que fora criada em 1557. Os jesuítas foram os primeiros religiosos a ter sede própria
em Macau, a partir de 1565, data
após a qual se fez a fixação dos religiosos capuchinhos de S. Francisco, em 1679, dos eremitas de S. Francisco, em 1679, dos eremitas de S. Agostinho, em 1586 e dos dominicanos em 1588. O papel mais importante na
História das Missões no Extremo-Oriente caberia à Companhia de Jesus, tanto na
China como no Japão. Em Macau, a acrescer à assistência religiosa que prestavam
à população europeia, desenvolveram desde o início uma acção apostólica junto
dos chineses deste porto, abriram escolas para os filhos dos colonos, criaram
um seminário e tiveram mesmo uma influência decisiva na organização e na defesa
da cidade, encarregando-se dos planos e da construção dos baluartes e das
fortalezas (no plano da defesa militar a colaboração dos jesuítas é mencionada
num documento que se encontra no Arquivo Histórico de Madrid escrito em Macau,
em 1623 pelo padre Jerónimo Rodrigues, visitador da província do Japão e
vice-provincial da China, donde transcrevemos alguns extractos: ... que andando
em guerras os Chinas com os Tártaros, parecendo aos pes. da compa. que na China
andão boa ocasião para acreditar naquele reino a Nação Portuguesa, e dar
entrada nelle aos portugueses, a qual até agora estava fechada, e para com isso
conservarem com mais firmeza a Cidade de Macao, e trato de que depende todo o
estado, fizeram com el-rei da China por meio de alguns mandarins cristãos que
mandasse a esta cidade pedir alguns portugueses para acudirem na dita guerra, o
que se teve por grande alvitre e bem da mesma cidade, e assim por via e graças
dos padres são tidos à corte, e recebidos nella com grande honra, coisa que até
agora nunca se esperou sendo muito desejada…). Macau, na sua qualidade de porta
aberta pelos portugueses na China, foi assim o local que deu a oportunidade à
Companhia de Jesus de protagonizar uma extraordinária aventura humana, que
esteve na origem de uma impressionante obra missionária, científica e também artística,
num diálogo inédito com o País do Meio,
aventura essa que se inicia nos finais da dinastia Ming.
A chegada dos jesuítas a Macau
Se bem que a data da fundação de Macau, comumente aceite pelos investigadores,
seja o ano de 1557, outros trabalhos
publicados referem a permanência em 1555
naquele território de membros da Companhia de Jesus. Baseando-se na cópia de uma
carta existente na Biblioteca da Academia das Ciências de Lisboa, que foi publicada
em versões espanhola, italiana, latina e portuguesa, vários autores afirmaram sucessivamente
que o padre Belchior Nunes Barreto, acompanhado de frei Fernão Mendes Pinto (tido
como o célebre autor da Peregrinação) foram os primeiros
jesuítas a desembarcar em Macau (Teixeira,
Manuel, Primórdios de Macau, Instituto Cultural de Macau, 1990, Macau e a sua Diocese,
onde se admite que em 1554-55 os portugueses negociaram já em Macau; Manuel
Teixeira refere que a 23 de Novembro de 1555 o padre Barreto escrevia também uma
carta de Macau (...) a 27 do mesmo mês, enviando de Macau uma carta em latim ao
padre Geral da Ordem que conclui assim: …ex portu chinae filius prodigus Mr.
Belchioi; este autor acrescenta que os portugueses negociavam já ao longo da China
em vários portos e cerca de 1554-5 começaram a negociar em Lampacau e em Macau;
mas a feira anual fez-se em Lampacau até 1557). Este facto foi investigado por
Paul Pelliot que concluiu que não se tratava verdadeiramente de Macau, mas sim de
Lampacao (Lang Bai Ao) o local de onde esta carta, de Belchior Barreto, assim
como uma outra de Mendes Pinto, terão sido escritas, isto apesar do título da cópia
de uma delas: … anno de 1555. Copia de hua carta de Fernão Mendes que
escreveo Malaqua (aliás Macao) ao reitor do Collegio de Goa de 1555 anos, poder
induzir em erro. A outra cópia de uma carta do padre Belchior Barreto, se bem
que intitulada Copia de hua Carta que escreveo o pe. Mestre Belchior, de Macau,
Porto da China, aos Irmãos do Collegio de Goa, escrita a 23 de Novembro de 1555
induziu em erro alguns investigadores, levando-os a crer que Belchior Barreto e
Mendes Pinto foram os primeiros jesuítas a pisar o solo de Macau». In
Gonçalo Couceiro, A Igreja de S. Paulo de Macau, Livros Horizonte, Estudos de
Arte, Lisboa, 1997, Fundação Oriente, ISBN 972-241-015-6.
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