segunda-feira, 7 de outubro de 2013

As Lutas Estudantis Contra a Ditadura Militar. 1926-1932. Cristina Faria. «… amparado por personalidades afectas ao bloco conservador, liderado por Sinel Cordes, ao Integralismo Lusitano (IL) e à direita radical. … as hesitações do momento político não [davam] a qualquer esforço a menor garantia de êxito…»

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Enquadramento Político, Económico e Social da Ditadura Militar
«(…) A primeira destas clarificações termina em 17/6/1926 com o afastamento do comandante José Mendes Cabeçadas Júnior, chefe militar do movimento de Maio em Lisboa, pelo general Manuel Oliveira Gomes da Costa. Com efeito, após ter exigido a nomeação de um governo de carácter extra-partidário, constituído por republicanos que merecessem a confiança do País, Mendes Cabeçadas afasta o Partido Radical, encerra o Congresso da República e o Senado e, no dia 12 de Junho, recebe a carta de Bernardino Machado na qual o Presidente da República afirma não lhe ser possível continuar no exercício da suprema Magistratura da Nação. Demasiado comprometido com os partidos da República, Mendes Cabeçadas revela-se incapaz de congregar as várias facções republicanas e, após ter recusado aceitar o programa apresentado ao Governo pela direita político-militar no dia 14 desse mês, de autoria de Trindade Coelho, é arredado do poder quatro dias depois.
Estava assim afastada qualquer aparência de legitimidade constitucional do poder político. No dia 19 Gomes da Costa é nomeado Presidente do Ministério, e interino do Interior, amparado por personalidades afectas ao bloco conservador, liderado por Sinel Cordes, ao Integralismo Lusitano (IL) e à direita radical. Será, também neste caso, a sua incapacidade para gerir o equilíbrio entre as forças apoiantes o móbil para que uma representação de direita, composta por Sinel Cordes, Raul Esteves, Schiappa Azevedo, Mouzinho Albuquerque e Luís Domingues, exija a sua demissão (7/7/1926). Como bem afirma Oliveira Salazar, convidado por ambos os políticos, Cabeçadas e Gomes da Costa, para tutelar a pasta das Finanças, as hesitações do momento político não [davam] a qualquer esforço a menor garantia de êxito.
Defraudadas as aspirações reformistas do liberalismo republicano, arredadas as pretensões da direita radical, o general Óscar Carmona, representante do bloco militar conservador, chefia o 3.º Ministério da Ditadura Militar com Sinel Cordes à frente das Finanças (9/7/1926). Pareciam, finalmente, reunidas as condições de sólida governação para enfrentar os difíceis problemas administrativos, económicos e sociais em que o país se encontrava mergulhado. No entanto, o campo republicano ligado aos velhos partidos divide-se e protagoniza uma nova fase de clarificações políticas. Por um lado, a esquerda e a direita republicanas, partidárias respectivamente de uma via revolucionária contra a ditadura e de uma solução regeneradora por via legalista; por outro, a direita radical e fascizante, defensora da ruptura com o sistema liberal e apostada numa ortodoxia radical de construção de um Estado nacionalista baseado no corporativismo integral.
Sem nunca ter definido um programa, proposto uma táctica clara ou designado uma liderança, foi o sector republicano-conservador da ditadura quem deteve o poder, quer no governo quer nas Forças Armadas, entre Julho de 1926 e Janeiro de 1930. Mas em meados de Setembro de 1926 têm lugar as duas primeiras tentativas de rebelião contra a Ditadura Militar, prontamente dominadas pelas forças leais ao Governo: o capitão Alfredo Chaves, reviralhista, tenta sublevar o Regimento de Infantaria 19 em Chaves, e o integralista João Almeida, em Lisboa, perpetra uma tentativa de golpe de Estado que visava arrastar a situação mais para a direita. E se a investidura a título interino, do general Carmona na função de Chefe de Estado indiciava a tão desejada unidade, não deixa de ser evidente a constituição de um bloco anti-ditatorial grandemente favorecido pelo agudizar dos mecanismos de controlo e de repressão. E, ainda em Dezembro, a organização de um Comité Revolucionário liderado pelo general Adalberto Gastão Sousa Dias anuncia os intentos de revirar a situação». In Cristina Faria, As Lutas Estudantis Contra a Ditadura Militar, 1926-1932, Edições Colibri, Lisboa, 2000, ISBN 972-772-201-6.

Cortesia de E. Colibri/JDACT